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Artigo: Pastor Everaldo, o Cyborg brasileiro

28/04/2017 16h40

*Edilson José Alves

Divulgação: Dora Nunes

Na década de 70 um seriado produzido pela rede ABC, dos Estados Unidos, ganhou as telas de televisão do Brasil e de vários outros países, mostrando como um astronauta vítima de acidente foi reconstruído dentro de um laboratório, entrando para a história da teledramaturgia como o primeiro homem biônico do mundo. Batizado de Cyborg, o personagem interpretado pelo ator Lee Majors, era conhecido pelo slogan “o homem de 6 milhões de dólares”, quase o mesmo do que agora é aplicado ao então candidato a presidência da república em 2014, Pastor Everaldo.

Diferente do personagem Dr. Rudy Wells, que utilizou os 6 milhões de dólares para fabricar o primeiro homem biônico, o nosso Cyborg brasileiro surgiu em 2014 como uma das promessas de renovação da política brasileira, sucumbiu diante das delações premiadas da empreiteira Odebrecht. Durante depoimentos, empresários asseguraram que ao aparecer nas pesquisas e com participação garantida nos debates da Rede Globo, a Odebrecht começou a apostar suas fichas no Pastor Everaldo.

Sabiam que não era fácil, mas se não desse para levar, que ele pelo menos fizesse “três cantos”, ajudando outro candidato da preferência da empreiteira, neste caso, o tucano Aécio Neves. Diante de uma platéia ávida por um debate honesto e produtivo no campo das idéias, que pudesse apontar caminhos melhores para o povo brasileiro, eis que surge o Cyborg brasileiro no palco, ganhando finalmente a chance de mostrar de fato a que veio e por que veio para milhões e milhões de homens e mulheres plantados na frente dos televisores em todos os estados brasileiros.

O mediador do debate da Rede Globo, o jornalista William Bonner, fez o sorteio do tema para pergunta e logo depois o sorteio para saber qual o candidato faria a pergunta. Ao ser sorteado, Pastor Everaldo foi convidado e lembrado que o tema para pergunta seria “Previdência”. Ele tentou driblar as regras e na maior cara de pau disse: Aécio, esse PAC – fazendo referência ao Programa de Aceleração do Crescimento – é Programa de Aceleração da Corrupção? Aécio sorriu ao ver o pastor levantando a bola para ele fazer o gol, mas ao iniciar a resposta, Bonner pede licença, interrompe, e diz que é preciso respeitar as regras do debate e fazer a pergunta sobre o tema sorteado “Previdência”. Perdido, o Cyborg tasca: “o que o senhor acha da Previdência?”.

Anteriormente, a mesma figura política/religiosa já havia prestado outro serviço ao candidato tucano ao perguntar sobre o uso político dos Correios, que teria beneficiado a então candidata petista à reeleição, Dilma Roussef. Em todas as suas participações, diante dos milhões de incautos eleitores, acordados até altas horas na frente dos televisores, Pastor Everaldo estava na verdade apenas interpretando, fez como Lee Majors na década de 70, decorou o texto para só depois entrar em cena. Uma vergonha.

Decorar texto não é e nunca foi crime. O que é crime é receber 6 milhões de reais para beneficiar um candidato em um debate em que o povo aguardava ansiosamente para saber qual deles teria as melhores propostas. Tudo uma farsa. A diferença entre o Cyborg americano e o brasileiro, é que lá se trata de ficção, aqui não. É a mais pura realidade. Seria cômico se não fosse trágico.

*Jornalista

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Artigo: Pastor Everaldo, o Cyborg brasileiro

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