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Artigo: Uma pedra no meio do caminho

25/04/2018 15h30

*Edilson José Alves

O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu em poucas linhas uma de suas mais famosas poesias “No Meio do Caminho”. O relato poético diz o seguinte: “No meio do caminho tinha uma pedra; Tinha uma pedra no meio do caminho”. Parafraseando Drummond podemos afirmar sem medo de errar que no meio do caminho das nossas crianças e adolescentes também tem uma pedra, a pobreza.

Com sucessivos governos que nunca deram a devida atenção ao lado social, o país de dimensões continentais foi ganhando ao longo dos seus mais de 500 anos de história, contornos de um ‘favelão’, mas vendendo lá fora a imagem de que estava fazendo a coisa certa. E quando começou a fazer a coisa certa por alguns poucos anos, teve um recuo impressionante e, neste momento, enfrenta talvez um dos seus piores momentos no que tange a avanços sociais. Quem era pobre está voltando a ser pobre; quem era miserável já voltou a ser miserável, com tendência de piorar ainda mais diante de um quadro político nada animador.

Números de um estudo da Fundação Abrinq divulgados neste dia 24 de abril são estarrecedores. Apontam que mais de 17 milhões de crianças e adolescentes até 14 anos vivem em situação de pobreza e que deste total, 5,8 milhões estão na mais extrema miséria. Isso representa 40% de brasileiros nesta faixa etária, ou seja, quase a metade. Um absurdo se levarmos em conta as riquezas produzidas em nosso país. Pena que toda essa riqueza está concentrada nas mãos de poucos.

Um país onde os gestores estão mais preocupados com vantagens pessoais para si ou seus familiares, não pode vislumbrar futuro melhor para as gerações vindouras. Não dá para acreditar na mínima possibilidade de se cumprir tratado assinado pelo Brasil com a Organização das Nações Unidas (ONU) para erradicação do trabalho infantil. Atualmente são cerca de 2,5 milhões de crianças submetidas a trabalhos, deixando de ter acesso à escola, ao esporte, lazer e cultura.

Além disso, para piorar ainda mais o drama, no quesito violência, apenas no ano de 2016 foram vítimas de homicídios um total de 10.676 jovens de até 19 anos. A maioria, segundo o estudo, morta a tiros. Portanto, são dados extremamente assustadores, mas, importantes, e que demonstram o quanto precisamos mudar nosso comportamento. A sociedade precisa se organizar melhor para obrigar governantes eleitos a investirem mais em educação. Somente a educação poderá mudar esta triste realidade. Pena que os que hoje governam e uma boa parte dos que estão se habilitando a disputar mandatos nas eleições deste ano não possuem históricos que os credenciem a fazer, de fato, a defesa do povo.

*Jornalista

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