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Reforma do Ensino Médio: após algumas semanas, nem tudo são espinhos

28/11/2016 15h20

Por Emílio Munaro

Divulgação: Dora Nunes

Desde que a MP 746/2016, que traz alterações no Ensino Médio, chamada de “Reforma do Ensino Médio”, foi divulgada há algumas semanas, uma série de discussões sobre o universo educacional tomou conta da opinião pública brasileira. E como em todo debate, o destaque sobre alguns dos pontos discutidos para a implementação da MP tem nos feito reavaliar a cada dia onde estamos e o que queremos para o futuro de nossos jovens.

Um desses pontos, talvez o mais estarrecedor, foi o de que 1,7 milhões de adolescentes de 15 a 17 anos estão fora da escola; a média de desistência escolar nesse período no Brasil é três vezes maior do que na Europa, e os números só aumentam. Embora esses dados para a comunidade educacional fossem conhecidos, principalmente por instituições multinacionais, rediscuti-los e compará-los com outros países dentro de um debate que envolvesse toda a sociedade brasileira, trouxe um consenso fundamental: algo realmente precisava ser feito.

Da mesma maneira que mudanças são necessárias, avaliá-las e medir seus impactos também é fundamental para não se causar maiores prejuízos junto daqueles já identificados. E nesse ponto, foi consenso também que o debate prévio ao anúncio das mudanças poderia ter sido um pouco mais aprofundado. Sentimos a falta da participação de professores, diretores de escolas, alunos, pais, enfim, de toda a comunidade educacional que está no dia a dia envolvida com as questões dos jovens brasileiros.

Mais do que a necessidade de um aprofundamento das discussões, o que mais me chamou a atenção foi a interpretação errônea de algumas das medidas publicadas, o que corrobora com a dificuldade que percebemos das pessoas não compreenderem corretamente o que leem, o que chamamos de Analfabetismo Funcional! A não obrigatoriedade de algumas disciplinas tão importantes para a formação do jovem, o aumento do tempo na escola sem um claro direcionamento do que esse aluno fará nas horas a mais propostas, a distinção do “notório saber” de profissionais que serão professores sem respectiva formação acadêmica e a flexibilização das disciplinas, chamada no documento de “itinerários formativos específicos”, foram outros assuntos dos mais polêmicos nas rodas de discussões.

Mas essa mesma MP que trouxe polêmicas, também trouxe veios de ouro a serem visualizados. Entre eles, a consideração de que a formação integral do aluno deve permear o seu projeto de vida no que diz respeito aos aspectos cognitivos e socioemocionais. Os principais avaliadores da qualidade de ensino do mundo hoje, como o PISA, levam em consideração aspectos como resiliência, autoconfiança, criatividade, ansiedade, disciplina, entre tantos outros.

O melhor exemplo dessa necessidade é na primeira entrevista de trabalho. Você que já fez a sua entrevista deve se lembrar que não só o conhecimento técnico foi importante, mas fundamentalmente esses aspectos se mostraram decisivos. São habilidades que podem e devem ser trabalhadas desde a infância até o Ensino Médio, e apoiam não só o estudante a conseguir o primeiro emprego, mas levam mudanças significativas para toda a sua vida, para o desenvolvimento da sua inteligência emocional.

Isso de fato está alinhado com diversas redes de ensino pelo mundo, especialmente nos mais desenvolvidos, onde a escola tem maior responsabilidade para desenvolver, por exemplo, a autonomia que o estudante precisa para decidir sobre seu futuro, incluindo, sobre sua carreira.

Esse é um dos artigos da MP que pode ser considerado relevante e com resultados extremamente positivos mundo afora, se bem inseridos, a curto e longo prazos. Temos certeza de que outras medidas também vão se mostrar efetivas para a melhora do Ensino Médio brasileiro, porém, é preciso que o debate na opinião pública mantenha-se vivo e a revisão sobre todos os aspectos seja feita constantemente por parte do MEC, envolvendo a sociedade brasileira.

É o que todos esperamos. É a hora da lição de casa.

  • Emílio Munaro é vice presidente executivo da Mind Lab

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