Documento, ao qual o blog teve acesso, aponta que grupo criminoso se utilizava da influência do delegado para proteger os negócios ilícitos e pagaria com participação societária.
Segundo investigação da própria Polícia Federal, o delegado Federal Rodrigo de Melo Teixeira, ex-número 3 na hierarquia da corporação, lucraria R$ 27.132.000,00 com a exploração de minério de ferro. Teixeira foi preso nesta quarta-feira (17) em Belo Horizonte.
A investigação aponta que a associação criminosa se juntou para conseguir autorizações sem os estudos necessários, corrompendo agentes públicos e blindando o esquema. No avançar da investigação da PF, o nome de Teixeira apareceu e ele foi exonerado do cargo.
A empresa da qual Rodrigo Teixeira era sócio oculto, segundo a investigação, era a Gmais Sustentatiblidade. A esposa do delegado, Daniela Wandeck Teixeira, aparece no quadro societário da empresa com Luiz Fernando Vilela Leite, esposo de Gilberto Carvalho, empresário investigado como um dos organizadores do esquema.

Segundo a investigação, a formação de uma SPE (sociedade de propósito específico) entre a Gmais e a empresa Contemporânea (atual Minerar), investigadas no caso, estabelece valores para os sócios.
A participação da empresa de Teixeira, no entanto, não custou nada ao delegado. No documento ficou estabelecido que a integralização da sociedade seria feita “por meio da transferência de seu know-how expertise técnica à SPE”.
A interpretação é que o know-how, expressão em inglês para “conhecimento”, um tipo de consultoria seria prestada pela parte de Teixeira. Conversas em aplicativos de mensagens comprovariam o uso da influência do delegado para blindar o grupo.
Nos dias 4 e 5 de janeiro de 2023, Gilberto Carvalho e João Alberto Lages, os dois empresários investigados como organizadores do esquema conversam sobre a nova função de Rodrigo como diretor de Polícia Administrativa da PF: “O Rodrigo Teixeira já tá lá. Já tá mandando e desmandando lá na PF. Já tá reorganizando tudo lá dentro”.

Prossegue demonstrando interesse quanto às indicações do governo federal para Minas Gerais, sobretudo nas áreas que pudessem impactar a área de mineração e comentam sobre a indicação que pudesse controlar investigações da PF no estado. Gilberto fala da possibilidade de João Alberto Lages sugerir um nome para assumir a Superintendência da PF em Minas Gerais de forma a não complicar “a vida da mineração feio”.
“Então, vocês têm que dar uma olhada mesmo nessas nomeações, viu? Porque senão vai complicar a vida da mineração feio. O Rodrigo, ele tá analisando ainda os cargos, sabe? Ele ainda não tem um nome certo para cá, não. Ele tá avaliando ainda, olhando alguns amigos dele, mas ainda não bateu o martelo não. Seria interessante depois bater um papo com ele, né? Se tiver alguém para indicar, bacana.”
Utilização do aparato da PF em benefício próprio
O relatório policial aponta ainda que o delegado Federal Rodrigo Teixeira teria utilizado o cargo para induzir investigação sobre grupo concorrente ao de seus aliados. “A diligência realizada na empresa concorrente, em março de 2022, ocorreu sem respaldo formal em procedimento investigativo previamente instaurado e em desconformidade com os protocolos formais da Polícia Federal.”
Em apuração, a polícia descobriu que a ordem partiu de Teixeira. O relatório aponta ainda indícios de ingerência de Teixeira no inquérito Poeira Vermelha, para a troca do delegado Frederico Levindo, que apurava fatos relativos a crimes ambientais na área de mineração no estado.