Inadimplência dos produtores rurais dispara em MS e dívidas ficam mais caras

Gerson Oliveira

O aumento ocorre em linha com o movimento regional, já que a inadimplência no Centro-Oeste chegou a 9,1% e superou a média nacional de 8,1%.

O avanço da inadimplência no agronegócio brasileiro no segundo trimestre de 2025 expõe um quadro de pressão financeira que se manifesta com intensidade particular em Mato Grosso do Sul. O novo levantamento da Serasa Experian, referentes ao segundo trimestre deste ano e ao Boletim Agro do quarto trimestre de 2024, mostram deterioração simultânea em três frentes menos crédito, dívidas mais altas e capacidade de pagamento menor.

Conforme o levantamento enviado em primeira mão ao Correio do Estado, a inadimplência rural de MS subiu para 7,9%, avanço de 1,7 ponto porcentual em relação ao mesmo período do ano anterior.

O aumento ocorre em linha com o movimento regional, já que a inadimplência no Centro-Oeste chegou a 9,1% e superou a média nacional de 8,1%.

A pressão é ainda mais evidente quando se observa o comportamento das dívidas negativadas. O boletim mostra que Mato Grosso do Sul registrou um salto de 74,6% no montante total negativado entre 2024 e 2025, passando de menos de R$ 900 milhões para R$ 1,235 bilhão.

O número de produtores com registros negativos caiu 22%, mas o valor médio devido por CPF disparou para R$ 156,8 mil, um dos mais altos do Brasil.

Esse padrão com menos pessoas devendo, mas devendo valores muito maiores é típico de ciclos de aperto de crédito em momentos de custos elevados, volatilidade de preços e margens comprimidas.

“Os indicadores apontam uma piora lenta, porém contínua, na capacidade da população rural de manter-se adimplente. O agronegócio enfrenta desafios de fluxo de caixa e endividamento acumulados nos últimos 3 a 4 anos, exigindo atenção e reestruturação. O acompanhamento constante do perfil de crédito é essencial para evitar que produtores se alavanquem além da capacidade operacional, considerando seus perfis de risco”, comenta o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta.

Ainda de acordo com Pimenta, fatores como custo de produção elevado, variação nos preços das commodities e crédito mais caro explicam esse cenário. “Reforçando a importância da gestão de risco apoiada por dados e inteligência analítica”.

A retração no financiamento rural confirma o arrefecimento. Mato Grosso do Sul viu o montante de crédito concedido cair 20,6% no quarto trimestre de 2024, enquanto o número de contratos baixou 14,8% e os CPFs com contratos recuaram 10,7%.

O ticket médio por contrato, de R$ 444,1 mil, é um dos mais altos da região, mas o valor por CPF também caiu 11,1%, reflexo de uma concentração maior do crédito em menos produtores.

Inadimplência dos produtores rurais dispara em MS e dívidas ficam mais caras

NACIONAL
Embora o índice nacional de endividamento no campo tenha ficado em 8,1%, uma alta moderada de 0,3 ponto porcentual em relação ao primeiro trimestre, os dados segmentados revelam que o Centro-Oeste ultrapassou a média, chegando a 9,1%.

Dentro da região, MS apresentou queda em relação aos estados vizinhos, mas ainda registra salto expressivo em comparação a 2024, 7,9% dos produtores rurais estão inadimplentes, aumento de 1,7 ponto porcentual no período anual.

A elevação acompanha o contexto observado em reportagens recentes do Correio do Estado, que vêm detalhando as dificuldades estruturais enfrentadas pelo agronegócio sul-mato-grossense. A combinação entre custos de produção elevados, juros ainda em patamar alto e volatilidade nas cotações das commodities tem pressionado margens, sobretudo entre produtores de menor porte.

A análise do indicador divulgado pela Serasa Experian confirma a percepção de vulnerabilidade crescente. Segundo Pimenta, “os indicadores apontam uma piora etapa a etapa, apesar da resiliência da população rural de manter-se adimplente. O agronegócio enfrenta desafios de fluxo de caixa e endividamento acumulados nos últimos três a quatro anos, exigindo atenção e reestruturação”.

Ele destaca ainda que fatores como oscilação nos preços das principais commodities e crédito mais caro compõem um ambiente mais hostil aos pequenos e médios empreendedores rurais.

Em Mato Grosso do Sul, os dados revelam diferenças marcantes entre os perfis de produtores. Entre os de menor porte, 7,5% estavam inadimplentes no período analisado. Os médios alcançaram índice de 6,6%, enquanto os grandes produtores registraram 6,0%, um dos menores porcentuais do País entre esse grupo.

O quadro muda significativamente quando se observam os produtores classificados como “sem registro de cadastro rural”, grupo que inclui arrendatários e membros de estruturas familiares ou consórcios, nessa categoria, a inadimplência dispara para 12,5%.

Conforme já publicado pelo Correio do Estado, esse segmento frequentemente opera com margens mais estreitas, especialmente por enfrentar custos adicionais com arrendamentos, aquisição de insumos e dependência de intermediários.

Em muitos casos, esses produtores têm menos acesso a linhas estruturadas de crédito rural ou a garantias formais, o que aumenta a vulnerabilidade a flutuações abruptas de mercado.

“Produtores que precisam arrendar terras, por exemplo, costumam lidar com margens mais apertadas pelo custo extra. E, sobre os grandes produtores, o maior apetite ao risco pode gerar desequilíbrio”, comenta Pimenta.

No recorte por setor de endividamento, o estudo aponta que 7,2% das inadimplências estão relacionadas a instituições financeiras (bancos, cooperativas de crédito, fundos) que operam capital para custeio e investimento.

No entanto, a fatia de inadimplentes diretamente ligados ao setor agroindustrial ou a setores correlatos permanece baixa, com índices de 0,3% e 0,1%, respectivamente. O dado reforça a conclusão de que os gargalos mais críticos estão na ponta produtiva e na tomada de crédito rural, e não na cadeia industrial ou comercial.

SCORE
Outro aspecto relevante é a avaliação do AgroScore – ferramenta da Serasa Experian que analisa o perfil de crédito do produtor rural – que sofreu queda expressiva em Mato Grosso do Sul. A pontuação média total caiu para 632 pontos, abaixo da média do Centro-Oeste (637).

A maior queda ocorreu entre produtores sem registro rural, com –35 pontos, seguida por médios (–28) e pequenos produtores (–19). Esse movimento, conforme a Serasa, reflete “um cenário mais cauteloso no campo e maior risco de alavancagem”.

O recuo do AgroScore também acende um alerta sobre o risco de superalavancagem, fenômeno apontado com preocupação por especialistas entrevistados pelo jornal nos últimos meses, diante da crescente demanda por capital de giro para custeio em meio ao encarecimento dos insumos agrícolas.

Na avaliação da Serasa, ferramentas analíticas que permitam prever a capacidade de pagamento e ajustar os limites de crédito são fundamentais para evitar ciclos de endividamento insustentáveis.

A 5ª edição do Boletim Agro Serasa Experian, prevista para dezembro, deve detalhar novos indicadores sobre crédito rural, inadimplência, recuperação judicial e comportamento financeiro por porte e região.

A expectativa é de que os dados reforcem a necessidade de monitoramento contínuo e inteligência analítica, em linha com o que especialistas e lideranças do setor vêm afirmando ao longo deste ano.

Fonte; Correiodoestado