Senado aprova missão oficial aos EUA para tentar barrar tarifa de 50%

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Durante a audiência pública, representantes do governo federal e de entidades empresariais apontaram os riscos da tarifa sobre setores estratégicos da economia brasileira.

Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (15), o envio de uma missão parlamentar oficial aos Estados Unidos para tentar reverter a tarifa de 50% imposta por Donald Trump (Republicano) a produtos brasileiros. A decisão foi tomada durante reunião da CRE (Comissão de Relações Exteriores), em Brasília, diante dos impactos econômicos esperados para o agronegócio, a indústria e o comércio exterior.

A proposta partiu do presidente da CRE, senador Nelsinho Trad (PSD), que defendeu a criação de um canal direto de diálogo entre os legislativos dos dois países. A missão deve ocorrer ainda neste mês, com apoio da CNI (Confederação Nacional da Indústria). A meta é convencer o Congresso norte-americano a revisar a medida antes que ela entre em vigor, no início de agosto. “O comércio internacional não pode ser campo de batalha ideológica. Precisamos de pontes, não de muros”, afirma o parlamentar.

Trad defendeu que a missão seja um passo inicial para uma articulação diplomática permanente com os Estados Unidos. “O Brasil não pode se isolar. E o Senado tem legitimidade para agir com equilíbrio e responsabilidade”, declara. O senador também reforçou que a interlocução deve evitar o agravamento da crise. “Essa situação é ruim para os dois países. Nada melhor do que dialogar com a contraparte americana para tentar achar um caminho”.

Durante a audiência pública, representantes do governo federal e de entidades empresariais apontaram os riscos da tarifa sobre setores estratégicos da economia brasileira. A CNI alertou que a taxação inviabiliza projetos em curso, afeta empregos e desestrutura cadeias industriais. Segundo a entidade, há risco imediato para setores como automotivo, aeroespacial, metalúrgico e de máquinas.

O diretor da CNI, Mario Sergio Carraro Telles, citou a fundição Tupy, fornecedora de autopeças em Joinville (SC), como exemplo de empresa que pode ser atingida. Ele afirmou que, caso a tarifa seja mantida, a produção de peças pode se tornar inviável, afetando até empresas americanas que dependem do fornecimento brasileiro.

O agronegócio também será impactado. De acordo com o Ministério da Agricultura, os Estados Unidos compraram US$ 12 bilhões em produtos agropecuários brasileiros no ano passado. Setores como carne bovina, suco de laranja e café podem sofrer perdas significativas.

A possibilidade de o Brasil aplicar uma retaliação tarifária também foi debatida. Parlamentares mencionaram a Lei da Reciprocidade, que autoriza medidas semelhantes contra países que impõem barreiras unilaterais. A relatora da lei, senadora Tereza Cristina (PP-MS), alertou que a legislação deve ser usada com cautela e apenas em último caso.

Ainda na sessão, o presidente da Associação Brasileira dos Importadores, Michel Platini Juliani, fez um apelo para evitar a retaliação, alegando que medidas similares do Brasil poderiam afetar empresas nacionais que dependem de insumos dos Estados Unidos.

O embaixador Philip Fox, secretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, relatou que o governo brasileiro está em contato com autoridades americanas desde março e ressaltou que 74% das exportações dos EUA entram no Brasil sem qualquer tarifa. Ele lembrou que o superávit dos norte-americanos na balança comercial com o Brasil ultrapassa US$ 400 bilhões nos últimos 20 anos.

Fonte: Campograndenews