Artigo: Bodas de Cacau, por Rosildo Barcellos

Na foto Enfermeiras da FEB batem continência. No total, havia 67 enfermeiras voluntárias integradas ao serviço de saúde da FEB, além de seis da Força Aérea Brasileira. Foto: Agência Nacional. O Jornal/Novembro de 1944

Rosildo Barcellos

Em 2025 teremos a marca de 81 anos do embarque da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália. Este feito, continua a ser um campo fértil para a discussão, muito além do aspecto puramente militar. A entrada do Brasil na 2º Guerra Mundial foi, em síntese, a resposta ao clamor popular de indignação às agressões de submarinos do Eixo a embarcações brasileiras. A partir de 15 de fevereiro de 1942, navios de bandeira verde e amarela circulando desde a costa oriental dos Estados Unidos até o litoral do Brasil começaram a ser torpedeados por submarinos tedescos e italianos. O Governo brasileiro, ante a atitude hostil, declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista em 22 de agosto de 19423 . As ações submarinas ítalo-germânicas, desenvolvidas por mais de dois anos ininterruptos, provocaram o afundamento de 33 embarcações brasileiras e a morte de quase mil e cem náufragos.

Em Natal, durante a Conferência de Potengi6 , ocorrida em 28 de janeiro de 1943, foi selada a participação do Brasil. Em 9 de agosto daquele mesmo ano, nasceu a FEB, expressão do compromisso do governo brasileiro e da vontade nacional em contribuir para o restabelecimento da paz. Nesse sentido, planejou-se o envio de um contingente de mais de 25 mil pessoas à Itália. A concentração ocorreu na histórica Vila Militar, na cidade do Rio de Janeiro. No subúrbio carioca, receberam o treinamento militar inicial, posteriormente, seguirem de trem até o Cais do Porto, rumo ao Velho Continente. Com o propósito de transportar toda a FEB à Itália, foram organizados cinco escalões, cada um com cerca de 5 mil componentes.

O primeiro deles enviado em 02 de julho de 1944, sob o comando do General de Divisão Mascarenhas Moraes, o único naquele momento a saber para onde a FEB de fato iria. A tropa brasileira embarcada recebeu, em plena travessia do Atlântico, a notícia de que o local de destino seria Nápoles, na Itália. Cerca de sete meses depois, em 8 de fevereiro de 1945, o quinto e último escalão deixou o Brasil. Durante todo o movimento para a Europa, a Marinha do Brasil, protegeu com efetividade cada comboio formado. Os obstáculos vencidos para a estruturação e o seu integral transporte para a Europa são motivo de muito orgulho, sobretudo considerando as condições do País à época.

Em 16 de julho de 1944, os primeiros pracinhas pisaram o solo italiano que rapidamente se ajustaram à nova situação, demonstrando flexibilidade e adaptabilidade. Dessa forma, foram aos poucos conquistando a admiração e o respeito. À proporção que as batalhas se desenrolavam, tornava-se mais perceptível o seu caráter agregador, bondoso e solidário, que somado às suas capacidades combativas, iniciativa, camaradagem e destemor, contribuiu para a vitória. Incontáveis episódios de heroísmo foram peremptórios. Os brasileiros, em sua essência, souberam cultuar, praticar e desenvolver os valores militares estruturais: o patriotismo; o civismo; a fé na missão; o amor à profissão; o espírito de corpo. Com a mobilização nacional, os pracinhas vieram do morro, do engenho, dos cafezais, do pantanal, dos pampas, assim formando um corpo sinérgico orientado ao mesmo ideal. A FEB foi um autêntico emaranhado de raças, integrando harmonicamente pessoas de ambos os sexos, de diferentes classes sociais e culturas variadas. Esse heterogêneo conjunto, ao se olhar no espelho, viu refletida a imagem de um Brasil pujante, em pleno desenvolvimento e ciente do seu papel. Escrever sobre os 81 anos do embarque da FEB é, portanto, homenagear e dar visibilidade ao legado de dedicação, exemplo e sacrifício de cada pracinha brasileiro, e notadamente aos 462 heróis que não puderam rever sua terra natal. E se precisar a cobra seguirá sempre fumando, porque aprendemos com a FEB, o destemor, a união, e a fé em Deus!

*Articulista