Um momento parado no tempo, por Rosildo Barcellos

Uma das funções do articulista é transformar o que vivemos em elemento vivo e apreciável. Dia 19 de agosto será comemorado o “Dia Mundial da Fotografia” e em 26 de agosto é o aniversário da Capital Morena. Por isso este artigo homenageia os lambe-lambes de Campo Grande, na pessoa do “Seu Luis” o último Lambe-lambe. Trabalhou na Praça Ary Coelho e ultimamanete ficava na Praça da Igreja Santo Antônio. Ultima vez que conversei com ele, ostentava seus 77 anos; na Avenida Calógeras. Presente  na região desde 1971. 

Fotografar é a transmutação histórica do tempo. Quando olho uma foto, não vejo as cores nem tampouco o ambiente. Vejo o tempo  detido, percebo a memória. As fotografias valorizam e eternizam o momento solene do registro do estado de felicidade. Por isso quando, essa semana, leitores fizeram-me recordaram do tema: “lambe-lambe” e a ameaça de extinção a que está submetida essa profissão, senti-me uma estátua e, claro; estátua é algo inanimado. Só ganha vida no imaginário das pessoas, sem a ter de verdade.  E resolvi escrever acerca do assunto por apreciar a arte de fotografar.

Foi então que recordei que longe dos  grandes estúdios fotográficos e das máquinas digitais, encontramos uma figura especial, ligada à esse passado não muito distante, mas considerado arcaico por muitos: o fotógrafo lambe-lambe. Assim comecei a indagar  ao redor sobre o tema e constatei que poucas pessoas no mundo conhecem a atividade do fotógrafo lambe-lambe. Acrescente-se a isso a informação de que  a máquina que deu origem a esta profissão foi fabricada  no Brasil. Surgiu no início do século pela necessidade de um homem, Francisco Bernardi, de transportar com maior comodidade, todo o equipamento necessário para se obter uma foto em preto e branco.      

Essa atividade  é tão diferente pois consegue aliar  criatividade a uma natural e aguçada sensibilidade tátil, que foi o  ponto de partida para o desenvolvimento do ofício, cuja nomenclatura foi sugerida por abarcar um gesto  incomum no exercício da profissão, isto é, o teste que se faz para verificar de que lado está a emulsão de uma chapa, filme ou papel sensível. Para evitar o erro de colocar a chapa com a emulsão voltada para o fundo do chassis o que deixaria fora do plano focal e portanto com falta de nitidez, costumava-se  molhar com saliva a ponta do indicador e do polegar e fazer pressão com esses dois dedos sobre a superfície do material sensível num dos cantos para evitar manchas.

Não podemos deixar que esses verdadeiros artistas sejam esquecidos em nossa memória e não podemos apenas  contemplar as imagens desses “desconhecidos íntimos” e apenas guardar em nossa gaveta do passado, devemos,sim lembrar que das milhares de fotografias esmaecidas produzidas pelos lambe-lambes e que hoje estão esquecidas ou desprezadas em velhas caixas;que cada uma delas representam os fios que tecem a história de sua família,de sua juventude, de sua cidade e por fim da sua vida. E quando estamos em uma fotografia, devemos ter a certeza de que quando ela estiver pronta  não podemos enxergar apenas com os olhos; pois necessitamos amiúde do auxílio da alma,pois quando olharmos uma foto com a alma deixamos de ser pessoas para sermos,lágrima,sorriso,história e elementos do cenário da vida. Diante disto resta-me exaltar a importância da fotografia como fator eternizador de momentos, dos sorrisos, da vida e principalmente dos sentimentos. E justamente esse detalhe faz-me orgulhar de ser articulista. Sou o que escreve o que muitos esqueceram, Sou o que agraga valor, aos que muitos hoje desprezam, por desconhecimento, talvez, pois nem tiveram a alegria de conhecer. Eu faço referência, registro, divulgo e o Ponta Porã Informa … eterniza! Feliz Aniversário, minha cidade querida. Enquanto eu viver, e o arquiteo do Universo me conceder memória…as histórias da Cidade Morena e da Princesa dos Ervais, assim como as das personalidades que realmente amaram estas terras; serão contadas, recontadas ou relembradas.

*Rosildo Barcellos, Articulista