O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou nesta quarta-feira (20/8) o projeto ‘Entre Ciências: Territórios de Saber em Diálogo’. A iniciativa busca aproximar e valorizar diferentes formas de produção de conhecimento no Brasil, iniciando pela Amazônia e Cerrado, promovendo o diálogo entre a ciência acadêmica e os saberes de povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e agricultores familiares.
O lançamento reuniu em Brasília os parceiros institucionais do projeto e contou com um painel de painel de debates. A secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Andrea Latgé, destacou a relevância da iniciativa.
“Tenho tido a oportunidade de vivenciar algo muito especial dentro da secretaria: sair das caixas em que a ciência costuma estar compartimentada e aprender com diferentes áreas do saber. Essa troca, esse diálogo constante entre conhecimentos, não tem preço. Estar no MCTI tem me feito ganhar anos de vida e reforça o quanto é gratificante ver nascer projetos como o Entre Ciências, que une ciência e saberes tradicionais de forma tão estratégica”, afirmou.
“O Entre Ciências é fruto de um esforço coletivo de muitas mãos e corações. Ele representa um olhar coletivo sobre a produção de conhecimentos, construído com respeito e colaboração, e tem o potencial de deixar um legado duradouro para o fortalecimento dos saberes indígenas, tradicionais e locais”, afirmou o coordenador do projeto, Bruno Martinelli, também coordenador de Projetos e Programas para Serviços Ecossistêmicos do MCTI.
Objetivos e estrutura
O projeto foi oficialmente aprovado em fevereiro de 2024, após um processo de preparação de um ano e meio, e terá duração de cinco anos, com orçamento global de US$ 7 milhões.
O Entre Ciências tem como principais objetivos fortalecer a pesquisa intercultural, promovendo a geração de informações e conhecimentos em sociobiodiversidade, e garantir que essas pesquisas sejam acompanhadas por políticas de dados locais, respeitando a soberania e a governança comunitária.
A iniciativa também busca ampliar a valorização e o fortalecimento dos saberes indígenas, tradicionais e locais, reconhecendo-os como centrais na produção de conhecimento. Além disso, o projeto visa formar pesquisadores nos próprios territórios e apoiar arranjos intercientíficos, promovendo capacitação e redes de colaboração, bem como implementar protocolos de pesquisa que considerem gênero e aspectos intergeracionais, assegurando metodologias inclusivas e responsáveis.
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, também reforçou a importância da agenda. “O encontro entre saberes é fundamental. A sociedade brasileira aprendeu a valorizar o conhecimento dos povos originários, e o Projeto Entre Ciências segue exatamente nessa direção. Precisamos reconhecer como esses saberes podem ser benéficos para toda a sociedade. Contem com o nosso apoio”.
A iniciativa está organizada em quatro componentes:
1. Construção de bases: consultas comunitárias, programa de formação, bolsas de arranjos interscientíficos e protocolos de pesquisa;
2. Apoio às pesquisas nos territórios: oficinas, intercâmbios e recursos diretos para atividades locais;
3. Gestão de dados e conhecimentos: fortalecimento da soberania e governança dos dados pelas comunidades, com diretrizes sobre dados sensíveis, protegidos e compartilhados;
4. Governança e monitoramento: comitê gestor, avaliação externa e acompanhamento técnico.
Governança e experiências territoriais
O comitê gestor do Entre Ciências é formado pelo MCTI, Ministério dos Povos Indígenas, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Rede de Pesquisadores em Sociobiodiversidade (Rede PGSD) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Durante a preparação, o projeto contou ainda com a colaboração de consultores indígenas e de povos e comunidades tradicionais, além do apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Próximos passos
Os próximos passos do Entre Ciências envolvem o fortalecimento das ações já iniciadas e a ampliação do diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. A iniciativa busca consolidar-se como uma política pública duradoura, capaz de valorizar e integrar de forma efetiva os saberes indígenas, tradicionais e locais aos processos científicos e tecnológicos do país. A expectativa é que o projeto avance na construção de mecanismos permanentes de colaboração, garantindo que esse legado se traduza em benefícios concretos para as comunidades envolvidas e para a sociedade como um todo.
Expectativas e legado
Entre os legados esperados estão o fortalecimento dos conhecimentos indígenas, tradicionais e locais, a formação de pesquisadores em seus próprios territórios, o desenvolvimento de ferramentas de tecnologia da informação para gestão de dados e repartição de benefícios e a ampliação da iniciativa para outros biomas do Brasil.