Mapa da USP mostra que dois terços dos solos do mundo são frágeis e ameaçam agricultura e produção de alimentos

Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), da Universidade de Sâo Paulo (USP), em São Paulo, lideraram um estudo inédito que resultou no primeiro mapa global de solos com resolução de 90 metros. O levantamento, publicado na revista The Innovation, aponta que 64% da superfície terrestre é formada por solos arenosos, considerados frágeis e menos favoráveis ao uso agrícola intensivo. O trabalho envolveu mais de 50 cientistas de diferentes países e levou seis anos para ser concluído.

A pesquisa foi conduzida pelo Grupo de Estudos de Geotecnologias em Ciências do Solo (GeoCIS), vinculado ao Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, com apoio da Fapesp, CNPq, Capes e do Centro de Estudos de Carbono na Agricultura Tropical (Ccarbon). A coordenação foi dos professores José Alexandre Demattê e Raul Roberto Poppiel, com participação de estudantes e pesquisadores como Jean Novais, Nicolas Rosin e Jorge Rosas.

Mapa da USP mostra que dois terços dos solos do mundo são frágeis e ameaçam agricultura e produção de alimentosSegundo a pesquisa, solos arenosos são pobres em nutrientes, têm baixa retenção de água e são altamente suscetíveis à erosão, o que exige manejo específico para garantir produtividade e segurança alimentar. No Brasil, predominam em estados como Mato Grosso, Maranhão e Pará, enquanto aparecem em menor proporção no Sul e no Sudeste.

Outro dado relevante foi a alteração do pH do solo: em áreas agrícolas, o índice é até 1,6 unidades mais alto que em áreas de vegetação nativa, reflexo do uso contínuo de fertilizantes e corretivos. “Esses insumos são fundamentais, mas o uso excessivo pode comprometer o equilíbrio químico e biológico do solo, com efeitos cumulativos a longo prazo”, alertam os pesquisadores.

O estudo também destaca o papel dos solos no combate às mudanças climáticas. De acordo com o trabalho, solos sob vegetação nativa armazenam 54% do carbono orgânico global, enquanto áreas agrícolas apresentam, em média, 60% menos carbono. “Quando a matéria orgânica é degradada, perde-se não apenas fertilidade, mas também a capacidade de reter água, manter biodiversidade e regular o clima”, explicam.

A equipe defende práticas como plantio direto, culturas de cobertura e sistemas agroflorestais para recompor a matéria orgânica e aumentar os estoques de carbono. O trabalho também aponta uma relação direta entre o desenvolvimento econômico e a saúde dos solos: as dez maiores economias concentram 75% do carbono presente em áreas agrícolas. Esse dado abre espaço para políticas de incentivo à conservação e para o mercado de créditos de carbono, visto como oportunidade para países emergentes como o Brasil.

O reconhecimento do GeoCIS é crescente. Em março, o grupo foi considerado referência mundial em estudos sobre solos pelo Dokuchaev Soil Science Institute, da Rússia, recebendo menção especial da Academia de Ciências daquele país. Antes do levantamento global, os pesquisadores já haviam publicado um mapeamento preliminar sobre América Latina e Caribe, que mostrou que mais da metade dos solos paulistas tem baixa saúde.

Fonte: Pensar Agro