Estudo do MJSP revela queda no número de brasileiros que bebem álcool, mas alerta para consumo excessivo

Durante o evento foi apresentada a página Álcool na Política sobre Drogas do Obid, que reúne os principais indicadores sobre o tema. Foto: Ailton de Freitas/MJSP

Brasília, 24/09/2025 – O Brasil reduziu o número de pessoas que consomem bebidas alcoólicas, mas entre quem bebe, o consumo continua elevado. De acordo com a 3ª edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), lançado nesta quarta-feira (24), a média semanal é de 5,3 doses por ocasião de consumo entre os adultos, indicando padrões nocivos em parte significativa da população.

Realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP), o estudo mostra que a proporção de brasileiros que bebem caiu de 47,7% em 2012 para 42,5% em 2023. Ao mesmo tempo, cerca de 25,5 milhões de pessoas deixaram de beber, tornando-se ex-bebedores.

Consumo entre mulheres e adolescentes em destaque

O levantamento aponta uma mudança relevante no padrão entre as mulheres: em 2012, 31,2% consumiam álcool e, em 2023, esse percentual saltou para 47%, quase igualando o consumo ao dos homens.

Entre adolescentes de 14 a 17 anos, apesar da proibição da venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, os índices também são altos. As meninas ultrapassaram os meninos em todas as faixas de consumo:

– Consumo na vida – 25,8% dos meninos x 29,5% das meninas;
– No último ano – 16,7% dos meninos x 21,6% das meninas;
– ⁠No último mês – 8,5% dos meninos x 12,4% das meninas.

A secretária nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, Marta Machado, reforça que os dados apresentados são preocupantes, especialmente porque os problemas decorrentes do abuso de álcool são relativizados em uma cultura permissiva ao uso da substância.

“Ter pesquisas sobre o tema é fundamental para que possamos compreender o cenário do consumo de álcool no Brasil e desenhar políticas públicas eficazes. Os dados mostram aumento do consumo pesado e a iniciação precoce, o que nos preocupa especialmente em relação a adolescentes e mulheres”, destacou. A secretária defendeu ainda o uso de informação de qualidade, além de estratégias de prevenção, para o enfrentamento ao problema.

A pesquisadora e coordenadora do Lenad, Clarice Madruga, falou sobre o impacto do consumo entre a população mais jovem. Ela explicou que, entre os adolescentes, o consumo de álcool é preocupante, especialmente por afetar o cérebro em desenvolvimento.

“Isso pode gerar consequências permanentes e aumentar o risco de transtornos ao longo da vida. Observamos que, ao contrário da população adulta, meninas já apresentam taxas de consumo superiores às de meninos, e muitas fazem uso abusivo. Esses dados reforçam a necessidade de políticas públicas específicas para proteger a juventude e reduzir a exposição precoce ao álcool”, apontou Madruga.

Página temática do Obid

Durante o evento, a diretora de Pesquisa, Avaliação e Gestão da Senad, Bárbara Caballero apresentou a página Álcool na Política sobre Drogas do Obid. A ferramenta reúne os principais indicadores sobre o tema. “Pesquisadores, gestores públicos e a sociedade em geral podem acessar informações atualizadas e baseadas em evidências, facilitando a compreensão dos impactos do consumo de álcool e apoiando a formulação de políticas mais eficazes”, declarou Bárbara.

Políticas de preço e taxação do álcool

O Caderno de Debates – Políticas de Preço de Bebidas Alcoólicas também foi lançado nesta quarta-feira (24) e apresenta uma análise técnica abrangente sobre políticas de precificação como ferramenta para reduzir os danos associados ao consumo de álcool no Brasil. O documento foi elaborado pelo Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em parceria com a Senad.

A pesquisadora Lísia von Diemen, explicou a importância das políticas de preço e taxação como estratégia para reduzir o consumo: “ é essencial reduzir a disponibilidade e o preço do álcool, além de implementar medidas de restrição à direção sob efeito da bebida, limitar a publicidade e facilitar o acesso à triagem e tratamento”, afirmou

Para ela, o desafio é aplicar essas recomendações de forma integrada, considerando cultura, educação e novos modos de acesso, como delivery, que aumentam a exposição entre jovens, especialmente mulheres e adolescentes.

Lísia reforçou ainda que políticas isoladas não têm impacto suficiente: é preciso atuar em todas as frentes, do preço à prevenção, da educação à intervenção precoce, garantindo que o consumo de risco seja detectado e tratado antes que evolua para transtornos.

Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública