A cerimônia foi marcada pela instalação do “Banco Vermelho” na recepção do órgão onde Vanessa atuou como assessora de imprensa
Cerca de 50 pessoas, entre servidores do MPT-MS (Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul), familiares e amigos da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada pelo ex-noivo Caio Nascimento em fevereiro deste ano, participaram nesta terça-feira (14) de um ato em homenagem à segunda vítima de feminicídio no Estado em 2025. A cerimônia foi marcada pela instalação do “Banco Vermelho” na recepção do órgão onde Vanessa atuou como assessora de imprensa.
A peça permanece no local até 16 de outubro e, na sequência, será levada a outras instituições: UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Casa da Mulher Brasileira.
O irmão da jornalista, Walker Ricarte, foi o único a falar pela família. “Gostaria de agradecer, não só em nome da Vanessa, mas de todas as mulheres que pagaram com a vida mediante desses crimes hediondos que vêm acontecendo no nosso Estado”, afirmou.
Ele pediu leis mais rigorosas e políticas de proteção: “Que essas mulheres vítimas de violência doméstica tenham mais amparo, proteção, que se faça um estudo que explique por que estamos tendo tanto feminicídio. Onde está a raiz do problema?”.

A procuradora-chefe do MPT, Cândice Arosio, lembrou a trajetória de Vanessa e o sentido do gesto. “A Vanessa era servidora do MPT, trabalhava diretamente comigo como assessora de comunicação e lutava conosco pelos direitos das mulheres. Hoje, o Banco Vermelho nos foi oferecido. É um convite para refletirmos sobre o combate ao feminicídio”, disse.
Segundo a procuradora, a peça — criada na Itália — usa o vermelho como símbolo do sangue das vítimas. “Nós não podemos nos esquecer dela enquanto pessoa e como símbolo. Existe um culpado, que precisa ser punido. O ato é por ela e por outras 29 vítimas do nosso Estado. Os balões aqui têm o nome de todas as mulheres que morreram este ano. Não são estatísticas: são pessoas”.
A vereadora Luiza Ribeiro, que articulou a vinda do objeto à Capital, informou a aprovação, nesta terça-feira, de um projeto de lei que cria o programa Banco Vermelho de forma permanente em Campo Grande, à espera de sanção da Prefeitura. “Iniciamos a ação com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e propusemos que o banco circule por instituições. Para que seja permanente, estruturamos o projeto de lei”, disse. Ela defendeu políticas públicas contínuas: “Se a violência for naturalizada, vai escalando até o feminicídio. Precisamos de muita política para sair dessas estatísticas”.
O ato teve clima de reflexão. Servidores aguardaram a chegada dos pais de Vanessa, que vieram de Três Lagoas. Balões com os nomes das mulheres vítimas de feminicídio neste ano foram amarrados e, em um gesto simbólico, as fitas foram cortadas para que subissem ao céu. O primeiro balão, com o nome de Vanessa, foi solto pela mãe.
Instalação artística nascida na Itália, o Banco Vermelho é um marco urbano itinerante, pintado de vermelho para lembrar a urgência do enfrentamento ao feminicídio. A proposta, nas palavras de Luiza Ribeiro, é “sentar e refletir, levantar e agir pelo feminicídio zero”.

A morte – Vanessa Ricarte foi morta no dia 12 de fevereiro deste ano, horas depois de ir à Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Campo Grande para denunciar o músico por violência e pedir medida protetiva.
A ordem judicial para que Caio Nascimento se mantivesse afastado da jornalista foi expedida, mas não chegou até ele. No fim da tarde, Vanessa decidiu ir até sua casa, acompanhada por um amigo, para pegar roupas e pertences. Ao chegar ao local, ela foi esfaqueada pelo ex-noivo três vezes.
Fonte: Campograndenews