Estratégia Mulheres e Clima será integrada ao Plano Clima do Governo do Brasil

A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, anunciou nesta quarta-feira (15) a inclusão da Estratégia Mulheres e Clima, iniciativa do Ministério das Mulheres, no Plano Clima, que será o documento orientador da política climática brasileira até 2035. O anúncio foi feito durante o 2º Encontro da Articulação Nacional Mulheres e Clima, realizado em Brasília (DF), com a presença de gestoras públicas, lideranças comunitárias, representantes de movimentos sociais e especialistas de todas as regiões do país.

“Conseguimos incluir nossa estratégia transversal de mulheres e clima. Em dezembro, vamos abrir para consulta pública, então ainda temos a oportunidade de contar com a participação de vocês. Faço um apelo para que contribuam nesse processo, nesse documento que é tão caro para nós”, destacou a ministra.

Ainda em seu discurso, na abertura do evento, Márcia Lopes afirmou que a participação das mulheres nos debates é fundamental. “Sem a participação das mulheres, não há justiça climática, não há clima. É muito importante ter esse compromisso”, enfatizou ela.

A secretária nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política do Ministério das Mulheres, Sandra Kennedy, comemorou a inserção das mulheres como protagonistas nos debates sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.

“Estou emocionada por estar neste momento, porque esse tema não chegava até nós, como se a questão do clima não nos dissesse respeito. A segunda questão é que se trata de temas econômicos, e temas econômicos, normalmente, não são vistos como coisa de mulher pela sociedade — mas são, sim”, pontuou a secretária.

Estratégia Mulheres e Clima

Instrumento orientador da política climática brasileira sob perspectiva de gênero, a Estratégia Mulheres e Clima organiza ações voltadas à mitigação, adaptação e resiliência, reconhecendo o papel das mulheres na construção de soluções sustentáveis.

A primeira versão do documento foi entregue ao Grupo de Trabalho de Transição Justa, do Plano Clima, marcando o início de um processo de debates e aprimoramento técnico. As discussões e validações estão sendo conduzidas no âmbito do Subgrupo Mulheres e Clima, em reuniões que consolidam contribuições de diferentes ministérios, especialistas e organizações da sociedade civil.

A versão final da Estratégia será submetida à consulta pública na plataforma Brasil Participativo, ampliando a escuta social e o diálogo federativo antes de sua entrega oficial à sociedade.

Plano Clima

A elaboração do Plano Clima começou no segundo semestre de 2023 pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), integrado por representantes de 23 ministérios, pela Rede Clima e pelo Fórum Brasileiro de Mudança do Clima.

Guia das ações de enfrentamento à mudança do clima no Brasil até 2035, o Plano Clima terá dois pilares. O primeiro é voltado à mitigação, ou seja, à redução das emissões de gases de efeito estufa, cuja alta concentração na atmosfera provoca o aquecimento global. O segundo trata da adaptação dos sistemas naturais e humanos aos impactos da mudança do clima.  

Debates com secretárias estaduais

O 2º Encontro da Articulação Nacional Mulheres e Clima contou com a participação de secretárias estaduais de políticas para mulheres, lideranças comunitárias, representantes de movimentos sociais e da sociedade civil em um painel mediado pela coordenadora-geral de Participação Social e Ações Climáticas do Ministério das Mulheres, Ana Lucia Sousa Pinto. 

A secretária de Estado das Mulheres do Ceará, Lia Ferreira Gomes, avaliou que a inserção das mulheres nos debates é fundamental, uma vez que se trata do público mais afetado pelas mudanças climáticas.

“Essa é uma temática muito importante, uma vez que os impactos das mudanças climáticas são desproporcionais, atingindo muito mais as mulheres do que os homens”, ponderou.

Os eventos preparatórios para a COP 30 têm fomentado os debates sobre planos e ações que poderão ser implementados no país para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A representante da ONU Mulheres, Ana Carolina Querino, afirmou que a diversidade deve marcar a COP 30.

“Pensar uma COP no Brasil, na Amazônia, pensar em tudo que nós, enquanto país, podemos compartilhar com o mundo é o que dá sentido a essa articulação. Eu acho que essa articulação tem um potencial muito grande para levar toda essa diversidade, todo esse potencial e as possibilidades de diferentes tipos de soluções”, declarou.

A secretária de Estado da Mulher do Acre, Márdhia El-Shawwa, enfatizou que o principal desafio será aliar política de gênero com justiça climática. 

“Sabemos que são questões que caminham lado a lado, mas, muitas vezes, quem desenvolve as políticas nos esquece. E nós, que estamos diariamente trabalhando com as mulheres, sabemos que as mulheres e meninas são as mais afetadas pelas mudanças climáticas”, afirmou.

Os debates e proposições da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (5ª CNPM) foram lembrados pela secretária de Estado das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Júlia Arruda, que elogiou a proposta de criação de um sistema nacional integrado entre as secretarias de políticas para as mulheres. 

“O anúncio de um possível plano de criação de um sistema nacional empolgou a todos, porque, de fato, a dificuldade orçamentária é uma constante nas secretarias das Mulheres, já que, muitas vezes, a divisão orçamentária fica aquém do que precisamos. Ter um sistema integrado certamente trará impactos e repercussões positivas em nossos estados”, elogiou.

Participação social

O 2º Encontro da Articulação Nacional Mulheres e Clima contou com um painel voltado para o debate sobre Justiça Climática e Feminismo Popular, com mediação da assessora especial do Ministério das Mulheres, Isis Menezes Táboas, e grande participação de movimentos sociais e lideranças comunitárias. A representante da Cúpula dos Povos, Eunice Guedes, lembrou que a crise climática é provocada por países e empresas transnacionais do Norte Global, com impacto direto nos países do Sul Global, incluindo o Brasil.

“A questão do impacto, da chamada crise climática, que não é um acidente. Sabemos que a crise climática é provocada por países, empresas transnacionais, países do norte global, mas os mais impactados somos nós, países do sul global, e isso inclui as mulheres e povos que conseguem e resistem em seus territórios”, afirmou ela.

A diretora-executiva do Mulheres Camponesas de Moçambique, Olga Muthambe, aproveitou o espaço para lembrar da importância do fortalecimento do Plano de Ação de Gênero (GAP), que é uma das 10 medidas previstas no Plano de Ações Integradas Mulheres e Clima.

“Para mim, é uma grande alegria estar aqui com a ministra porque no nosso país não conseguimos ter essa troca com a ministra, como vemos aqui no Brasil. Em Moçambique, não temos esse espaço. Ver pessoas do governo é algo gratificante, é algo novo para nós ter esse tipo de intercâmbio”, festejou ela.

A liderança quilombola Adda Victória Caetano parabenizou a atual gestão do Ministério das Mulheres pela promoção de debates com ampla representatividade das mulheres.

“Para nós, população quilombola, receber uma ligação da equipe da ministra solicitando um contato, e pedir a presença de uma liderança quilombola ou indígena nos eventos é de suma importância porque mostra a representatividade”, afirmou ela.

Plano de Ações Integradas

Tanto a Estratégia Mulheres e Clima quanto a Articulação Nacional Mulheres e Clima são duas das dez ações estratégicas que compõem o Plano de Ações Integradas Mulheres e Clima, lançado em setembro de 2025 pelo Ministério das Mulheres.

O plano tem como objetivo inserir a perspectiva de gênero no centro da ação climática, articulando políticas públicas, participação social e cooperação internacional. A Estratégia Mulheres e Clima, agora integrada ao Plano Clima do Governo Federal, reúne diretrizes e metas para fortalecer a transversalidade de gênero nas políticas ambientais e climáticas. Já a Articulação Nacional Mulheres e Clima promove a mobilização permanente de lideranças femininas, gestoras públicas e organizações da sociedade civil em torno da justiça climática com equidade de gênero.

O 1º Encontro da Articulação Nacional Mulheres e Clima foi realizado em 10 de setembro de 2025, na mesma data do lançamento do Plano de Ações Integradas Mulheres e Clima. O plano reúne dez ações estratégicas para garantir que a igualdade de gênero esteja no centro da ação climática. 

A iniciativa está alinhada à 5ª Carta da Presidência da COP30, publicada em setembro de 2025, que reforça a centralidade da justiça climática com perspectiva de gênero no processo preparatório da conferência da ONU sobre mudanças climáticas. A agenda também foi incluída nos debates da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em cumprimento a uma das metas do Plano.

Fonte: Ministério das Mulheres