Apenas 1,7% dos serviços de cuidados paliativos do Brasil estão em MS; entenda o que são

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Apesar de serem frequentemente interpretados como destinados apenas aos pacientes em fase terminal de uma doença, os cuidados paliativos beneficiam um grupo muito mais amplo.

Dos 234 serviços de cuidados paliativos existentes no Brasil, apenas quatro estão em Mato Grosso do Sul, segundo informa a ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). Apesar de serem frequentemente interpretados como destinados apenas aos pacientes em fase terminal de uma doença, os cuidados paliativos beneficiam um grupo muito mais amplo.

Conforme dados do Ministério da Saúde, cerca de 625 mil brasileiros precisam desse tipo de cuidado. Porém, são apenas 123 serviços que funcionam exclusivamente pelo SUS (Serviço Único de Saúde), 36 que atendem na rede pública e privada, e 75 atuam somente na saúde suplementar, totalizando 234.

Assim, a quantidade ainda é insuficiente para atender à demanda, sobretudo em MS, onde há apenas quatro serviços. Segundo o dr. Douglas Crispim, médico paliativista e membro da ONA (Organização Nacional de Acreditação), o déficit causa um impacto imenso e silencioso. “A falta deste cuidado gera dor, angústia e sofrimento desnecessários. Sem cuidados paliativos, há mais internações evitáveis, maior gasto público e uma sobrecarga insustentável para as famílias”, explica.

O que são cuidados paliativos?

Por mais que sejam associados a pacientes com doenças terminais, os cuidados paliativos vão muito além disso. Conforme o médico, eles são o cuidado ativo e integral, que ocorre desde o diagnóstico de uma doença grave, abrange todas as faixas etárias e visa aliviar sintomas como dor, falta de ar, ansiedade e sofrimentos existenciais.

“Quando bem aplicados, os cuidados paliativos andam juntos com os tratamentos curativos. Um paciente com câncer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar ou renal dever receber suporte quando há sinais de sofrimento persistente, internações repetidas ou perda de funcionalidade”, exemplifica o especialista.

O cuidado, inclusive, pode começar ainda no período perinatal, quando gestantes carregam fetos com baixa chance de sobrevivência. Além disso, ele se estende ao acompanhamento neonatal, pediátrico, de adolescentes, adultos, idosos e outros grupos específicos.

“No caso dos adultos, os principais grupos que necessitam de cuidados paliativos são aqueles com doenças cardiovasculares, renais, pulmonares, hepáticas — incluindo a cirrose e condições que exigem transplante — além de pacientes com câncer e doenças neurológicas, como Alzheimer, sequelas de acidente vascular cerebral e Parkinson”, esclarece Crispim.

Cuidados ‘podem salvar o sistema de saúde’

O médico ainda afirma que os cuidados paliativos “podem salvar o sistema de saúde” brasileiro. Segundo ele, um sistema que apenas reage ao adoecimento se torna insustentável. Por isso, ele recomenda que esse tipo de cuidado seja aplicado com mais frequência.

“Quando oferecemos cuidados paliativos de forma precoce e integrada, reduzimos internações, evitamos intervenções fúteis e devolvemos às pessoas autonomia e conforto. Isso significa eficiência com humanidade.”

Assim, Crispim atenta para que o papel do gestor público vá além da emoção do discurso e entre no campo da execução. “Há muitos que desejam o mérito de ‘ser mais humanos’, mas poucos dispostos a construir serviços de verdade, com métrica, protocolos e times comprometidos”.

Cenário brasileiro ainda é crítico

No entanto, o cenário do Brasil ainda é crítico quanto à disponibilidade dos cuidados paliativos. “O país está mal colocado nos rankings internacionais de qualidade da morte, ao lado de nações com baixos indicadores sociais, especialmente na África. Isso demonstra o abismo entre o nosso potencial econômico e a real oferta de cuidados paliativos”, relata o médico.

Um dos principais fatores, segundo ele, é a falta de preparo das equipes que realizam o serviço. Assim, em vez de gerarem acolhimento, conforto e segurança, promovem estresse, frustração e até abandono do serviço por parte das famílias. “Grande parte dos profissionais envolvidos nos atendimentos não possui formação específica para atuar com cuidados paliativos, o que compromete diretamente a qualidade da assistência oferecida”.

Porém, há certa expectativa de melhora, já que o Brasil está conseguindo alguns avanços. Conforme a ANCP, um novo levantamento deve apontar cerca de 400 serviços no país, o que representa um progresso importante para Crispim.

O médico lista, ainda, outras melhorias que vêm sendo adicionadas ao sistema de saúde brasileiro. “Entre os avanços mais recentes, estão a criação de residência médica com duração de dois anos, o reconhecimento da especialidade em enfermagem, a obrigatoriedade do ensino de cuidados paliativos nos currículos de medicina e a articulação com conselhos profissionais de outras áreas, como psicologia, fisioterapia e odontologia.”

Fonte: Midiamax