Geração de energia pelo agro já equivale a um terço da produção

Foto: Mairinco de Pauda / Semadesc

Em MS, o cenário reforça essa tendência. Atualmente, são 22 usinas em operação no Estado – 19 usinas de cana e três dedicadas exclusivamente ao etanol de milho.

A produção de energia do agronegócio já representa um terço de toda a geração no País. É o que revela o estudo do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que estima uma participação de 29% de energia proveniente do agro.

Em Mato Grosso do Sul, a biomassa puxa a participação agrícola, ocupando a segunda posição no ranking nacional de produção de etanol de milho, a quarta na de etanol e o quinto maior produtor de açúcar, conforme o governo do Estado.

O estudo da FGV se refere ao período de 2023. A reportagem do Estadão informa que entre as principais fontes estão a biomassa da cana-de-açúcar, o etanol e o biodiesel.

Ainda de acordo com os dados, quando considerada apenas a parcela renovável da matriz, ou seja, energia gerada a partir de recursos naturais que se regeneram continuamente, o porcentual de participação do agro aumenta ainda mais e alcança 60%.

O restante fica preenchido pelas fontes de energia hidrelétrica (24,02%), eólica (5,24%), solar (3,46%), lenha de vegetação natural (6,98%) e biogás proveniente de resíduos não agrícolas, como o lixo doméstico (0,22%).

Em MS, o cenário reforça essa tendência. Atualmente, são 22 usinas em operação no Estado – 19 usinas de cana e três dedicadas exclusivamente ao etanol de milho.

O Estado produziu 4,3 bilhões de litros de etanol na safra 2024/2025, destes, 37% derivados do milho, conforme contabilização da Associação dos Produtores de Bioenergia de MS (Biosul).

A reportagem do Correio do Estado destacou, na ocasião dos resultados da safra, que a projeção para o ciclo 2025/2026 é de 4,7 bilhões de litros, volume que representa um aumento de 9,3%, com o milho respondendo por 42% da produção total.

Essa ascensão do etanol de milho em MS acompanha uma tendência nacional. Conforme a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Única) explicou à reportagem, a produção total de etanol no Brasil atingiu o recorde de 37,3 bilhões de litros na safra encerrada em março deste ano.

Desse total, o etanol de milho registrou crescimento de 31%, alcançando 8,2 bilhões de litros. Na última década, a produção nacional de etanol de milho foi multiplicada por 10.

A previsão da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) é de que o Brasil atinja 10 bilhões de litros ainda neste ano e de que os investimentos programados para o setor somados resultem em R$ 40 bilhões, com foco na ampliação da capacidade de produção e melhorias logísticas.

Conforme divulgado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é de que a produção alcance 4,9 bilhões de litros na próxima safra, destes 42,2% derivados do milho.

Com esse aumento na relevância do setor de bioenergia, a demanda das usinas tem incentivado os produtores a manterem ou ampliarem a área cultivada de milho na segunda safra.

Jean Américo, analista de economia do Sistema Famasul, reforça que esse cenário proporciona maior segurança ao agricultor. “Quando parte significativa da produção permanece no Estado, há estabilidade de preços e uma alternativa mais competitiva em comparação à exportação. Essa integração fortalece tanto a indústria quanto o produtor”, detalha.

Também de acordo com o consultor técnico da Famasul, Lenon Lovera, o impacto é sentido diretamente no campo. “A demanda das usinas estimula o produtor a manter ou ampliar a área plantada de milho segunda safra, que se destaca como a principal cultura nesse período. O preço regional mais atrativo, os coprodutos e a sinergia com a pecuária incentivam o aumento da área cultivada e da rentabilidade”, pontua.

O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, destacou em um evento internacional realizado na última semana que o setor de bioenergia é considerado “portador do futuro” dentro do planejamento do governo do Estado.

“Nós nunca pensamos o desenvolvimento do Mato Grosso do Sul apenas dentro de um mandato. A bioenergia é um dos setores que elegemos como prioridade, pela capacidade de gerar resultados sustentáveis e de longo prazo. Esse é um setor que nos coloca na pauta mundial quando se fala em transição energética e segurança alimentar”, afirmou Verruck.

AGROINDÚSTRIA
Os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também reforçam o protagonismo da agroindústria de Mato Grosso do Sul na geração de energia a partir de fontes renováveis.

O Estado ocupa o segundo lugar no País em potência instalada de biomassa, com 3.148.458 quilowatts outorgados distribuídos em 42 empreendimentos, ficando atrás apenas do estado de São Paulo.

A multinacional Suzano é o maior agente de geração a partir de biomassa no Brasil, ainda de acordo com a Aneel. As unidades da produtora de celulose somam 1.589.080 quilowatts de potência, o que representa quase metade da capacidade total de MS.

A empresa tem operações em duas fábricas no Estado, localizadas nos municípios de Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas.

BIOGÁS
O cenário de expansão se amplia ainda mais com novos investimentos anunciados também para produção de biogás.

Mato Grosso do Sul abrigará a maior usina do mundo de biometano gerado a partir da vinhaça da cana-de-açúcar, além de mais duas usinas de etanol de milho com o projeto foi anunciado pela Atvos, uma das maiores produtoras de biocombustíveis do Brasil e um dos principais emissores de créditos de descarbonização (CBIOs) do País.

Também conforme a reportagem do Correio do Estado no mês passado, estão previstos investimentos de R$ 3,5 bilhões nos municípios de Nova Alvorada do Sul e Costa Rica, com obras a serem desenvolvidas ao longo dos próximos anos, em alinhamento com as metas do programa MS Carbono Neutro 2030.

Para o presidente da Biosul, Amaury Pekelman, o movimento confirma o ambiente favorável de MS para novos investimentos.

“Mato Grosso do Sul é hoje referência em energia limpa e renovável. O biogás e o biometano se consolidam como novas fronteiras desse avanço. Temos disponibilidade de matéria-prima, infraestrutura e ambiente regulatório favorável. Isso cria condições para investimentos consistentes e geração de valor. O setor de bioenergia mostra, mais uma vez, que inovação e sustentabilidade caminham juntas. O biometano é segurança energética, competitividade industrial e redução de emissões. É o combustível do futuro, já presente em nosso Estado”, afirmou.

SOLAR
Além da biomassa e dos biocombustíveis, a energia solar também vem ganhando espaço no campo. Embora os dados da Aneel não distingam o uso específico pelo agronegócio, a expansão das usinas e sistemas fotovoltaicos em zonas rurais reforça o papel do setor produtivo na contribuição com a produção de energia. 

De acordo com a agência, do total de 2.931 empreendimentos solares instalados em MS, 2.925 estão em municípios do interior do Estado, somando potência outorgada de mais de 2,5 milhões de quilowatts.

Também conforme a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Mato Grosso do Sul ocupa hoje a quinta posição no ranking nacional de produção de energia solar. 

Fonte: Correiodoestado