Palestra pública sobre a urgência climática abre programação da Casa da Ciência

O mundo ainda não está fazendo o suficiente para limitar o aquecimento global a 1,5ºC e a ciência continua sendo o maior instrumento capaz de entender e transformar essa realidade. Essas são algumas das conclusões que a líder do Comitê Científico da 30ª Conferência das Nações Unidas pela Mudança Climática (COP30), Thelma Krug, expôs durante a palestra magna que abriu a programação da Casa da Ciência, no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA), nesta terça-feira (11). 

Com o tema O Estado do Clima nos Últimos Anos, a cientista e autoridade climática conduziu um chamado direto para recolocar a ciência — formal e tradicional — no centro das negociações climáticas. Ela chamou a atenção para o fato de que a COP30 nasceu com uma visão “carbocêntrica”, totalmente focada na redução das emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO₂). No entanto, Thelma evocou os presentes para a necessidade de dar atenção a outras fontes poluidoras, como o metano — que, embora tenha maior potencial de aquecimento, permanece apenas de 12 a 13 anos; as mudanças no uso da terra, que geram desmatamentos, degradação e fogo; o aquecimento dos oceanos; os impactos acumulados em regiões vulneráveis; e a desigualdades entre regiões que aquecem mais rápido. 

Ela também chamou atenção para o impacto crescente dos extremos climáticos — como secas profundas, mudanças no regime de chuvas e incêndios florestais — afirmando que a Amazônia já vive aumentos de temperatura superiores à média global e que esses efeitos revelam urgência de atuar simultaneamente sobre emissões, preservação ambiental e transição energética.  

Para a cientista, é necessário que todas as formas de prevenção estejam ligadas e que o combate ao aumento da temperatura global seja transversal. “Tudo se conecta. Não adianta a gente falar simplesmente de desmatamento, de transição energética, como se fossem coisas totalmente desconectadas do oceano, da biosfera, da atmosfera. Isso é tudo conectado”, disparou. 

Na Amazônia, palco das discussões, os impactos já observados tornam a agenda de adaptação inadiável, segundo a palestrante, que já ocupou o cargo de vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Ao destacar evidências científicas sobre eventos extremos, elevação de temperatura e vulnerabilidades sociais na região, ela reforçou que a COP30 precisa acelerar compromissos concretos — tanto em recursos financeiros quanto em cooperação internacional — para garantir que países e comunidades amazônicas possam responder a um cenário climático cada vez mais adverso.  

Conselho Científico da COP30 

O Conselho Científico da COP30, liderado por Thelma, tem a função de apoiar, com informações técnicas, as discussões e negociações da conferência. Além de garantir a participação de cientistas de todas as regiões brasileira e de todo o mundo, o conselho incorporou saberes indígenas e conhecimentos tradicionais, com presença marcante de representantes da região. “Buscamos, na verdade, recomendações que trazem um caminho para que esse conhecimento seja mais incluído dentro de políticas públicas, um reconhecimento de que potencialmente esses povos possuem uma ciência informal, um conhecimento repassado por gerações”, contou a cientista. Para Krug, o conhecimento produzido e encontrado na Amazônia é um tesouro.  

A autoridade climática chamou atenção ainda para a distância entre as necessidades dos países vulneráveis e os recursos disponíveis. Segundo ela, a comunidade internacional ainda não estruturou instrumentos de financiamento capazes de responder à escala da crise climática. “A gente não tinha nem financiamento para mitigação, quiçá teremos hoje para adaptação”, afirmou. Para a cientista, o foco global precisa se deslocar para fortalecer resiliência e resposta local, já que “a adaptação hoje é inevitável”. 

Apesar dos alertas e do reconhecimento do enorme desafio e das dificuldades encontradas na luta contra o aquecimento global, Thelma Krug afirmou ser vista como uma “otimista crítica”. Ela encerrou sua participação com uma nota de confiança no processo científico e na capacidade de colaboração construída para a COP30. “A ciência continua sendo o nosso maior instrumento para entender e transformar a realidade”, disse. Essa composição diversa, completou, é justamente o que permite olhar para a Amazônia e para o clima com novas possibilidades. 

A Casa da Ciência 

Instalada no Museu Paraense Emilio Goeldi pelo MCTI, a Casa da Ciência foi inaugurada pela ministra do MCTI, Luciana Santos, também nesta terça-feira (11). Com o objetivo de aproximar a sociedade ao conhecimento científico e às soluções climáticas, especialmente em conexão com a Amazônia, o local conta com palestras, atividades, exposições e projetos científicos. O espaço reúne instituições e comunidades da Amazônia para dar visibilidade ao que a ciência já sabe e ao que ainda precisa ser incorporado nas políticas públicas. São 45 eventos abertos ao público que se estendem até o final da COP30, no dia 21. Veja a programação completa. 

 

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação