“As respostas não são apenas técnicas. São de natureza ética”, diz Marina Silva em painel sobre Balanço Ético Global na COP30

Encontro apresentou recomendações dos seis Diálogos Regionais do BEG, realizados nos últimos meses na Europa, Américas do Sul e Central e Caribe, Ásia, Oceania, África e América do Norte - Foto: Fernando Donasci/MMA

Líderes globais e representantes da sociedade civil debateram, na última quinta-feira (13/11), na Zona Azul da COP30, o Balanço Ético Global (BEG) sob a ótica dos princípios de justiça e cooperação internacional, destacando seu papel como guia para decisões mais equitativas e um multilateralismo capaz de promover uma ação climática solidária e transformadora em escala mundial.

No painel “Balanço Ético Global: Uma Bússola para a Ação Climática Justa”, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o BEG oferece ao mundo “um rico processo e um conjunto de informações, tanto do ponto de vista de encaminhamento de questões, quanto do ponto de vista em relação à crise climática”, porém sem uma “abordagem técnica, que é igualmente importante, mas com o crivo da ética como a bússola para o enfrentamento da mudança do clima nas suas diferentes dimensões”. Marina enfatizou, ainda, que “as respostas não são apenas técnicas. São de natureza ética”. 

O diálogo também contou com a participação do secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixador Maurício Lyrio; da colíder do Diálogo Regional da África, Wanjira Mathai; da colíder do Diálogo Regional da América do Norte, Karenna Gore; do membro peruano do Conselho Diretor da Fundación Futuro Latinoamericano (FFLA), Manuel Pulgar-Vidal; da coordenadora da Associação de Mulheres Peul e Povos Autóctones do Chade (AFPAT), Hindou Oumarou Ibrahim; e da representante dos organizadores dos Diálogos Autogestionados do BEG, Cinthia Gherardi. A mediação foi do coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo.

O encontro de alto nível apresentou as recomendações dos seis Diálogos Regionais do BEG, realizados nos últimos meses na Europa, Américas do Sul e Central e Caribe, Ásia, Oceania, África e América do Norte. 

As propostas consolidam princípios de ética, justiça, solidariedade e cooperação multilateral como bases para avançar na implementação dos acordos climáticos já firmados, sobretudo o Acordo de Paris e as decisões da COP28, em Dubai, que apontam para uma transição justa e ordenada, com novos modelos de produção e consumo capazes de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.

O painel também serviu para destacar a inclusão dessas recomendações nas Agendas de Ação da COP30, com efeitos diretos em áreas como desenvolvimento humano e social, finanças climáticas, transição justa, biodiversidade, cultura e educação. 

“O multilateralismo, para funcionar adequadamente, precisa ser ético e pautado pela solidariedade, justiça e responsabilidade. Torna-se necessária uma reformulação institucional do regime do clima, para garantir que as decisões sejam efetivamente aplicadas. O Brasil está empenhado em fortalecer o multilateralismo”, destacou Maurício Lyrio.

Para Wanjira Mathai, o processo do BEG demonstrou que a dimensão ética deve orientar as respostas à crise climática. “No Balanço Ético Global, ficou claro que todo o processo foi conduzido por uma força maior do que nós mesmos. É importante destacar que esse caminho também formou um grupo determinado, que colocou a justiça novamente no centro das decisões”, afirmou.

“Se já sabemos o que precisa ser feito para enfrentar a crise climática, por que não estamos fazendo? Acredito que a humildade e a serenidade de formular essa pergunta dessa maneira, nós como espécie, apesar de todas as nossas contradições, nos levam a refletir: temos inteligência suficiente para parar de destruir nosso próprio habitat e o habitat de todos com quem dividimos o planeta? Por que não estamos fazendo isso?”, questionou Karenna Gore.

Segundo Hindou Oumarou Ibrahim, a participação social ampla é essencial para garantir legitimidade e eficácia das decisões climáticas. “Como garantir, de forma ética, que todos esses atores estejam interligados, não competindo entre si, mas se complementando nas ações climáticas? E como envolver desde cidadãos, povos indígenas, comunidades locais, trabalhadores de todas as áreas, inclusive categorias muitas vezes esquecidas, como dentistas, para que todos participem de um planejamento coletivo? Quando o planejamento é falho, ele pode causar danos. Por isso, a participação ampla e diversa é essencial e profundamente necessária”, afirmou.

Já Manuel Pulgar-Vidal ressaltou que a transformação ética necessária passa pela correção das desigualdades estruturais. “Se sabemos que a crise planetária atual é resultado de comportamentos equivocados dentro de um sistema profundamente injusto, o novo sistema precisa ser baseado em equidade. E é por isso que o Balanço Ético Global é tão importante”, observou.

Para Cinthia Gherardi, ética e ação são indissociáveis. “A gente tem que falar de ética. Como que a ética faz parte do dia a dia? Como esse compromisso ético está no cotidiano, nas ações, entre as menores e as maiores ações que uma organização pode ter”, destacou.

BEG: olhar ético à emergência climática

Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do secretário-geral da ONU, António Guterres, e coordenação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o BEG reúne reflexões éticas e políticas produzidas a partir de seis Diálogos Regionais e dezenas de encontros autogestionados realizados em todos os continentes. 

O objetivo central é contribuir para que a temperatura média global permaneça dentro do limite de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris.

Inspirado no primeiro Balanço Global concluído na COP28, em Dubai, o BEG segue a mesma lógica que mobilizou quase 200 países a assumir compromissos para ampliar a geração de energias renováveis, aumentar a eficiência energética, frear o desmatamento e planejar uma transição justa e gradual para além dos combustíveis fósseis.

A iniciativa também reforça o mutirão global lançado pela Presidência da COP30 para acelerar a implementação dos pactos climáticos firmados desde 2015, ano da assinatura do Acordo de Paris.

Nos últimos meses, o BEG promoveu diálogos regionais que reuniram lideranças indígenas e comunidades tradicionais, representantes políticos e religiosos, cientistas, artistas, jovens, ativistas e membros da sociedade civil. As discussões exploraram caminhos para uma transformação ecológica profunda, baseada não apenas em soluções técnicas já existentes, mas em um compromisso ético coletivo.

O processo também inclui Diálogos Autogestionados, que ampliam o alcance local do BEG, um deles realizado no Vaticano, antes do encontro da ministra Marina Silva com o Papa Leão XIV, em Roma.

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Fonte: Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima