Turismo regenerativo coloca sociobioeconomia e gastronomia como novo modelo de desenvolvimento

Imagem: Henrique Huff/MTur

O turismo regenerativo ganhou destaque na COP30, com debates que apontaram a sociobioeconomia e a gastronomia como pilares de um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia. No estande “Conheça o Brasil”, do Ministério do Turismo na Green Zone, em Belém (PA), especialistas e chefs ressaltaram que práticas turísticas baseadas no respeito ao território, no conhecimento ancestral e na ciência são fundamentais para preservar ecossistemas e fortalecer economias locais.

No painel “Sociobioeconomia e gastronomia liderando um novo modelo de desenvolvimento”, o chef Saulo Jennings, primeiro embaixador gastronômico da ONU Turismo, destacou a urgência de se interromper o turismo predatório. Segundo ele, a transição para uma atividade que cuida dos territórios é inevitável.

“Por muito tempo tivemos um turismo de apropriação, de desgaste. Esse não é o turismo que queremos”, afirmou. Jennings ressaltou que a preservação de muitos destinos só existe graças à resistência das comunidades locais. Ao falar sobre sua atuação no Pará, lembrou que o crescimento do turismo exige responsabilidade. “Se não cuidarmos, voltamos ao turismo predatório. Não existe avanço sem educação, ciência e pesquisa”, apontou.

O chef também abordou o papel estratégico da gastronomia brasileira, defendendo que ela tem força diplomática e potencial para impulsionar políticas de desenvolvimento. “O Brasil está consolidando sua gastrodiplomacia. Temos uma riqueza própria que precisa ser valorizada”, defendeu.

A diretora da ONG global Ambition Loop no Brasil, Renata Cabrera, reforçou que povos tradicionais são protagonistas da construção de soluções sustentáveis. Para ela, regeneração não é utopia: é desenvolvimento, renda e eficiência. “O sistema precisa de emprego e mecanismos que funcionem. O turismo tem um potencial gigantesco de ser uma economia limpa”, ressaltou. Ela destacou ainda a importância de organizar toda a cadeia produtiva do turismo gastronômico – do produtor ao prato servido ao visitante.

SUSTENTABILIDADE – A líder comunitária Prazeres Quaresma, chef e moradora da Ilha do Combu, na capital paraense, emocionou o público ao falar sobre continuidade, memória e futuro. Ela lembrou que, desde 2017, a comunidade realiza coleta de resíduos e, a partir de 2019, passou a utilizar biodigestores que transformam restos orgânicos em biogás e fertilizante, fortalecendo a economia local.

“Queremos um turismo grande, regenerativo e duradouro. Que quem venha hoje encontre uma samaúma de 400 anos e que daqui a 10 anos veja as mesmas famílias mantendo seus rituais, florestas e ecossistemas. Isso é pertencimento”, pontuou.

Os participantes também destacaram a necessidade de políticas públicas estruturantes, como financiamento a microempreendedores ribeirinhos, melhorias em saneamento básico – especialmente na Ilha do Combu – e a ampliação de linhas de crédito voltadas a iniciativas comunitárias. O objetivo é fomentar modelos de turismo que distribuam renda e promovam justiça social.

O debate convergiu para uma conclusão: o turismo regenerativo não é apenas uma tendência, mas um caminho estratégico para o futuro da Amazônia. Ao unir conhecimento ancestral, ciência, gastronomia e sociobioeconomia, o setor se posiciona como motor de transformação, capaz de preservar a floresta, restaurar ecossistemas, fortalecer comunidades e inspirar políticas públicas de longo prazo.

Por Lívia Albernaz
Assessoria de Comunicação do Ministério do Turismo

Fonte: Ministério do Turismo