Governo Federal reconhece oficialmente a atividade de trancistas na CBO

Matheus Itacaramby / MTE

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, abriu nesta quinta-feira (27) o Seminário Nacional de Trancistas, realizado na sede do Ministério, em Brasília (DF). O encontro marcou a celebração do reconhecimento oficial da atividade de trançar cabelos, com a inclusão do código 5199-45 na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). A formalização é resultado de uma mobilização nacional liderada por trancistas, organizações do movimento negro, especialistas e equipes técnicas do MTE. O reconhecimento representa um marco para um ofício ancestral de matriz africana, exercido majoritariamente por mulheres negras e historicamente invisibilizado no mundo do trabalho.

Luiz Marinho destacou que o reconhecimento é resultado de um esforço coletivo e de uma decisão política orientada pelo compromisso do Governo do Brasil com a reparação histórica, a valorização dos saberes tradicionais e a ampliação de direitos. Ele reafirmou que o Ministério do Trabalho e Emprego tem o papel de escutar, acolher e transformar em políticas públicas as demandas das trabalhadoras e dos trabalhadores, “com respeito, responsabilidade e palavra cumprida”.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ressaltou a importância do seminário no contexto do Mês da Consciência Negra e dias após a realização da Marcha das Mulheres Negras, que reuniu mais de 300 mil participantes em Brasília. Anielle lembrou que as políticas voltadas a quem mais precisa não são gestos de boa vontade, mas “obrigação de um governo comprometido com dignidade, reparação e justiça racial”.

Segundo ela, o reconhecimento oficial da ocupação é mais do que a inclusão de um número no sistema classificatório. “Hoje, o que fazemos aqui é retirar da invisibilidade um trabalho que constrói identidade, autoestima e futuro. Não é só técnica. Cada trança é memória, cuidado, espiritualidade e resistência.”

Anielle também compartilhou experiências pessoais relacionadas ao uso de tranças em espaços institucionais, lembrando os olhares discriminatórios que ainda recaem sobre corpos e estéticas negras. “Ser uma ministra tomando posse com o cabelo trançado e com estampas afro foi um ato político. Hoje avançamos para que outras mulheres negras possam ocupar seus espaços sem serem questionadas por sua identidade.”

Representando a categoria, Crisléine Aparecida Assunção celebrou o momento histórico e destacou a luta de mulheres negras, periféricas e muitas vezes mães solo, que sustentam famílias com o trabalho das tranças. “Nós existimos, nós resistimos. Hoje não somos mais invisíveis.”

A cerimônia também contou com mensagem em vídeo da deputada federal Benedita da Silva, que lembrou que cada trança “carrega memória, proteção, estética e espiritualidade”, e homenageou as mulheres negras que sustentam esse legado com suas mãos e sua arte.

A deputada Rogéria Santos destacou que o reconhecimento das trancistas na CBO entra para a história do país e reforçou o compromisso de seguir atuando pela valorização das trabalhadoras negras. “Este momento existe porque houve palavra, compromisso e respeito. “O ministro Marinho disse que faria, e fez”, lembrou ela.

A vereadora Ireuda Silva emocionou o público ao relatar sua trajetória pessoal e o impacto transformador de ver uma trancista trabalhando descalça no Pelourinho, episódio que a levou a abraçar a pauta e a construir o projeto que chegou ao MTE. “As correntes sempre foram invisíveis, mas hoje mostramos ao mundo que somos livres”, bradou Ireuda.

A mesa foi composta ainda pela deputada federal Rogéria Santos, pela vereadora de Salvador, Ireuda Silva, por representantes de ministérios e pela Assessoria de Participação Social e Diversidade do MTE. Trancistas dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e outros, lotaram o auditório.

 

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego