Ciclo de formação fortalece 60 cozinhas solidárias e projeta expansão em 2026

O ano de 2025 termina com um marco para o Programa Cozinha Solidária, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, foram celebradas as formaturas dos primeiros 100 cozinheiros populares certificados pelo curso-piloto de formação do programa.

A iniciativa inaugura a trilha de aprendizagem da modalidade de formação. As certificações encerram as atividades formativas do ano e consolidam a construção de uma nova etapa do Cozinha Solidária: a qualificação técnica e profissional.

Ao final do ciclo, o Cozinha Solidária deixa como legado a base de uma matriz metodológica que valoriza os saberes comunitários e fortalece a capacidade dessas cozinhas de transformar realidades.

Formação

Entendemos que a fome não está apenas no prato: muitas vezes é um abraço, uma escuta, um gesto de cuidado”

Carla Justo, cozinheira 

Resultado das recomendações do I Encontro Nacional do Programa Cozinha Solidária, o curso-piloto organizou um percurso de 68 horas, composto por seis módulos teóricos de oito horas e pela etapa prática de 20 horas, o “Tempo Comunidade”, em que os participantes retornam aos territórios para diagnosticar, mobilizar e implementar ações nas cozinhas.

A formação foi desenvolvida pelo MDS em parceria com instituições de referência (Fiocruz, VPAPS, EPSJV, Instituto Aggeu Magalhães e Escola Nacional Paulo Freire) que integraram saber popular e conteúdos técnicos fundamentais à segurança alimentar, à gestão do trabalho e à geração de renda.

As três turmas reuniram 100 participantes de 60 cozinhas solidárias habilitadas pelo MDS, que já recebem apoio financeiro complementar para a oferta de refeições. Cada turma contou com 35 pessoas que, apesar de trajetórias distintas, têm em comum a liderança comunitária no enfrentamento à fome.

Em São Paulo, na Cozinha Solidária Jorge Luís Lima Duarte, o aprendizado sobre acolhimento marcou o percurso. “Ouvir outras experiências e perceber que nossos desafios são compartilhados foi um grande aprendizado. Também entendemos que a fome não está apenas no prato: muitas vezes é um abraço, uma escuta, um gesto de cuidado”, afirmou a participante Carla Justo, que compartilhou um desses momentos de afeto.

“Lembro de uma jovem que completou 21 anos e pediu um bolo simples de cenoura. Era o primeiro da vida dela, e virou uma festa. Para nós, a cozinha é isso: acolhimento, afeto e a certeza de que pequenos gestos transformam”, prosseguiu a cozinheira.

Esse foi um espaço de intensa troca, construção coletiva e fortalecimento de vínculos”

Taísa Machado, coordenação de formação

No Rio de Janeiro, a força da construção coletiva foi o destaque, como explica Taísa Machado, da coordenação da formação. O resultado foi que os participantes assumiram o compromisso de multiplicar o conhecimento nas comunidades, promovendo oficinas e formações locais.

“Esse foi um espaço de intensa troca, construção coletiva e fortalecimento de vínculos. Os participantes destacaram que o curso ampliou a rede entre as cozinhas, facilitando a circulação de saberes, insumos e informações entre os territórios, uma articulação que segue viva como estratégia de enfrentamento à fome”, relatou Taísa.

O impacto do curso nos territórios foi visível em Recife.  Sônia Albuquerque, da Cozinha Odete de Oxóssi, contou que tudo teve início em um terreno ao lado do cemitério de Paulista e, com apoio da liderança comunitária, foi possível alugar uma casa para a cozinha, em 2022.

“Ali, passamos a ouvir as pessoas, especialmente mulheres em situação de violência, e criamos rodas de conversa e uma horta para envolver a comunidade. Quando damos o nosso melhor, o retorno vem. Este projeto abriu portas, e somos gratos por tudo o que aprendemos no curso”, recordou Sônia.

As cozinhas solidárias como potências do cuidado

Ao longo da formação, o grupo aprofundou temas centrais para o fortalecimento das cozinhas solidárias: combate à fome e organização comunitária; uso do Guia Alimentar; boas práticas de preparo; gestão do trabalho; economia popular; e planejamento de futuros possíveis nos territórios.

A metodologia combinou teoria e prática, permitindo que cada módulo retornasse às cozinhas sob forma de diagnósticos, reorganização de processos, mobilização local e novas estratégias de gestão e sustentabilidade.

A experiência foi sistematizada e servirá de base para a expansão nacional da formação em 2026. A expectativa é que as cozinhas habilitadas acessem trilhas contínuas de desenvolvimento, com melhorias sanitárias e estruturais, valorização das práticas alimentares saudáveis, maior autonomia das equipes, gestão qualificada e novas oportunidades de trabalho, renda e parcerias nos territórios.

No próximo ano, novas formações chegarão a diferentes regiões do país, consolidando o Programa Cozinha Solidária como uma política que se faz com técnica, escuta e, sobretudo, com gente que cuida.

Assessoria de Comunicação – MDS

Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome