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sexta-feira, 19 de abril, 2024
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Artigo: IDH e felicidade, nada a comemorar

Fausto Matto Grosso

Na semana passada, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou o relatório sobre o índice de desenvolvimento humano (IDH) de 189 países, obtido com dados de 2019.

Ao longo da história econômica, a ideia de desenvolvimento ou progresso quase sempre esteve ligada a de crescimento econômico, daí a sua medição ter sido durante muito tempo o estoque em ouro e metais preciosos e mais recentemente o PIB (Produto Interno Bruto). Mas a produção de riqueza muitas vezes implica em externalidades como o impacto ambiental e a distribuição desigual desta entre as pessoas. Além disso, é imperfeita a correlação entre indicadores de renda e os padrões efetivos de bem-estar da sociedade.

A partir dessa realidade é que surgiu o conceito de desenvolvimento econômico e social no qual o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um dos principais indicadores. Aí são consideradas três variáveis principais: a saúde, a educação e a renda da população.

Complementarmente, o PNUD calcula também IDH-P que leva em conta as emissões de CO2 e a pegada ambiental, o IDD (Índice de Desigualdade) e o IDG (Índice de Desigualdade de Gênero) que pioram ainda mais a situação do Brasil.

O relatório do IDH deste ano foi construído com dados de 2019, ou seja, anteriores ao COVID-19. O Brasil obteve o IDH de 0,765 (quanto mais perto de 1, melhor), crescendo 0,003 em relação ao ano anterior, o que caracteriza “crescimento lento”. Outros países cresceram mais rapidamente, o que fez nosso país cair da 79ª para 84ª posição. Ficamos para trás no contexto mundial. Nada pois a comemorar. O que aconteceu neste ano de pandemia, segundo analistas, deve empurrar o Brasil ainda mais para baixo. Lê-se no relatório que “A covid-19 pode ter empurrado cerca de 100 milhões de pessoas para a extrema pobreza, o pior revés em uma geração”.

O fraco desempenho do Brasil deveu-se a falta de avanço na educação, a média de anos de estudos ficou em apenas oito anos. A expectativa de vida e a renda per capita também avançaram muito timidamente em 2019.

Tem surgido nos últimos anos indicadores que melhor medem os resultados humanos do desenvolvimento. Em 2011 a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução convidando os países membros a medirem a felicidade de seus povos e utilizar esses indicadores na construção de suas políticas públicas, substituindo oficialmente o indicador de produto interno bruto pelo da felicidade interna bruta. O primeio-ministro do Butão presidiu a Assembleia, pois era o único país que já adotava essa prática. De 2013 em diante começaram a ser produzidos relatórios de acompanhamento.

Atualmente, a cesta de indicadores de felicidade bruta inclui: PIB per capita real, assistência social, expectativa de vida saudável, liberdade para fazer escolhas, generosidade e percepções de corrupção.

O ranking da felicidade é liderado por Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça e Finlândia, construídas pelo projeto social democrata. Iniciamos a participação do nosso país em 2012, em 25º lugar, em 2016 ficamos em 17º posto. De lá para 2020, entretanto, a felicidade do brasileiro caiu gradativamente. Hoje estamos em 32º lugar.  Segundo os autores do estudo, os motivos para isso foram os problemas sociais e políticos, sobretudo a falta de generosidade e a corrupção, que impactou “negativamente na sensação de bem-estar e de satisfação com a vida” da população. Nem o futebol e o carnaval nos salvam.

Fausto Matto Grosso

Engenheiro e professor aposentado da UFMS