Leia
Desde de muito cedo teve algumas coisas em que eu me destacava, claro que não era nos estudos, nesse quesito sempre fui péssimo e só depois de 27 anos foi que descobri que meu déficit de atenção nas salas de aula era por dois motivos: problemas de visão e ser muito agitado, hoje se chama hiperatividade, na época era bagunceiro e mal-educado mesmo.
O tempo passou e fui me superando conforme as necessidades que a vida me impunha, claro tive ótimos professores, entre eles posso destacar Silvio de Souza, radialista e ótimo locutor e Vivaldo de Almeida Pina, radialista e administrador, ambos vieram de Andradina, São Paulo e foram as minhas inspirações durante muito tempo.
Na vida se fala que nascemos com um ‘dom’, e graças a Deus fui a cada dia mais e mais aprimorando esses ‘dons’, na locução, na apresentação e a redação, aliás sou do tempo da máquina de escrever e tenho a máquina que trabalhei por mais de uma década e com ela fui muito feliz.
Sempre adorei contar história e assistindo um filme, me lembrei de uma que tinha tudo para se tornar uma tragédia grega e graças a Deus teve um final feliz.
Sentado em uma praça, um pai separado, que coisa feia, separado. E suas filhas passavam as tardes de domingo brincando, rindo e vivendo aquele momento especial entre adultos e crianças. Eu sempre sozinho, pois a família morava longe, uma das filhas um dia perguntou, o porquê de viver ali, tendo muitas dificuldades no dia a dia, morando longe da sua família, sendo que lá, junto aos familiares, poderia viver melhor.
Olhei bem dentro dos olhos de minhas filhas e disse que aquele momento em que estavam vivendo ali, pagava todas as dificuldades que enfrentava, pois adorava o riso fácil e o jeito que as meninas brincavam e tudo isso valia muito a pena, e que estava ali por causa do amor que tinha pelas filhas, ou seja, o amor vencia tudo.
E com isso o tempo foi passando e com o passar dos tempos as meninas crescendo, e assim veio também o distanciamento, as visitas ao parque foram ficando mais escassas e quando menos se esperava, as meninas mudaram de cidade e aí só se viam em alguns raros finais de semana e nas férias, quase sempre visitas rápidas, pois a condição financeira dificultava tudo.
O tempo passou, as meninas se casaram, tiveram filhos e foram para mais longe ainda, e as visitas continuam uma vez por ano e olha lá, sempre muito rápidas e com a distância veio a saudade, o desejo de se verem, mas com a correria do dia a dia, tudo se torna mais difícil ainda.
Em um tempo difícil, de tudo, de dinheiro, de se conseguir viajar, o pai e uma das filhas se encontraram e o mais legal que além do encontro, foi quando a filha, hoje já formada, trabalhando e conseguindo viver do seu trabalho, virou e disse que era muito bom estar ali junto a ele, os dois sempre sorrindo, contando histórias e piadas, rindo das dificuldades e dos problemas do dia a dia, ela sorriu com um sorriso lindo que sempre teve e disse: “Está sendo muito bom estar hoje ao seu lado, fico feliz por você ser assim, essa pessoa de bem com a vida”.
Para o velho pai, não precisa nenhum presente, pois esse foi o melhor dia dos pais de todos os tempos. Se passou muito tempo, mas a sementinha do amor plantada lá naquela praça, começava a dar flores e frutos, e isso não tem preço, é coisa de Deus, e digo: “Só tenho a agradecer a Deus por esse momento”.
O tempo passa e adoro contar histórias.
Tião Prado