Banco Mundial prevê pior década para o crescimento global em mais de 50 anos, com impactos na América Latina

O Banco Mundial projeta que a economia mundial passará pela pior década de crescimento em mais de meio século, com uma expansão média estimada em apenas 2,3% para 2024. Esse cenário desafiador é influenciado principalmente pelas incertezas geradas pelas políticas tarifárias adotadas pelo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump.

As tarifas impostas por Washington incluem uma taxa universal de 10% sobre importações e sobretaxas ainda maiores sobre produtos chineses, além de aumentos nos impostos sobre aço e alumínio — itens relevantes para as exportações brasileiras. Essas medidas provocaram confusão e instabilidade no comércio internacional.

Apesar de o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA ter declarado ilegal a maior parte dessas tarifas, a Casa Branca conseguiu manter as taxas em vigor temporariamente por meio de recursos judiciais, o que mantém o mercado sob pressão.

Impactos das políticas tarifárias e riscos para o comércio mundial

O Banco Mundial alerta que o cenário atual pode levar a uma paralisação do comércio global no segundo semestre de 2024, com uma possível crise de confiança nos mercados, aumento da incerteza e turbulências financeiras.

Embora a instituição não projete uma recessão global — avaliando as chances em menos de 10% —, aponta que a instabilidade política decorrente dessas medidas comerciais pode gerar “novas mudanças repentinas” nas regras do comércio, afetando a confiança dos investidores.

Segundo economistas do Banco Mundial, como Indermit Gill e Ayhan Kose, as disputas comerciais ameaçam reverter importantes avanços econômicos alcançados desde o pós-guerra, quando mais de 1 bilhão de pessoas saíram da pobreza extrema e o PIB per capita nos países em desenvolvimento quase quadruplicou.

O relatório destaca que, até 2027, o crescimento médio anual do PIB global deve ficar em torno de 2,5%, ritmo mais lento desde os anos 1960, afetando diretamente a geração de empregos, redução da pobreza e desigualdade.

Consequências para a América Latina: desafios e perspectivas regionais

A desaceleração global representa uma má notícia para a América Latina, que ainda se recupera de uma “década perdida” e do impacto da pandemia, segundo Benjamin Gedan, diretor do Programa América Latina do Wilson Center.

O aumento das barreiras comerciais e a guerra tarifária podem reduzir os preços das exportações essenciais para as maiores economias da região, gerando impactos econômicos, sociais e políticos significativos.

Gedan compara a política tarifária dos EUA à estratégia latino-americana da “industrialização por substituição de importações” adotada no pós-guerra, que buscava fortalecer a produção local para reduzir a dependência externa, mas que teve resultados desastrosos para a região.

O Banco Mundial projeta para a América Latina um crescimento de 2,3% em 2025, destacando o México como o país com a pior perspectiva, com expansão estimada de apenas 0,2% neste ano. O país sofre ainda com uma tarifa de 25% imposta pelos EUA sobre importações fora do âmbito do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, prejudicando suas exportações — que têm os EUA como principal destino, respondendo por 80% das vendas externas mexicanas em 2024.

Outras grandes economias da região, como Brasil, Chile e Peru, devem apresentar crescimento econômico inferior ao de 2023. Em contrapartida, as projeções para Colômbia e Argentina são mais otimistas.

Para o Brasil, o Banco Mundial prevê crescimento do PIB de 2,4% em 2025. Contudo, o órgão destaca que o desempenho econômico da América Latina dependerá fortemente do ritmo de crescimento dos Estados Unidos e da China, principais mercados para a região.

O Banco Mundial indica que as políticas tarifárias dos EUA, combinadas com a instabilidade política global, configuram um cenário de crescimento econômico lento e turbulento, com impactos diretos no comércio internacional e nas economias latino-americanas, que enfrentam desafios para manter sua recuperação e estabilidade.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio