O setor de armazenagem de grãos no Brasil vive um momento de alerta. Segundo levantamento da Consultoria Agro do Itaú BBA, divulgado em agosto de 2025, a capacidade estática nacional atingiu 213 milhões de toneladas, crescimento de apenas 0,5% em relação a 2024. O ritmo é insuficiente frente ao avanço da produção de soja e milho, que cresce cerca de 6% ao ano desde 2010.
Mato Grosso lidera em capacidade, mas déficit é de 51%
O país conta atualmente com 11.921 unidades armazenadoras ativas. O Mato Grosso concentra a maior capacidade individual, com 52 milhões de toneladas, mas ainda sofre com um déficit de 51% em relação à produção de soja e milho.
Em estados como Rondônia, a carência é ainda maior, chegando a 75%. No MATOPIBA, uma das principais fronteiras agrícolas, o déficit alcança até 60%, obrigando produtores a escoarem rapidamente a safra por falta de estruturas próximas.
Comparação com os EUA mostra atraso estrutural
Enquanto o Brasil consegue armazenar apenas 70% da produção de soja e milho, os Estados Unidos possuem capacidade de 615 milhões de toneladas, quase três vezes maior, com 65% dos silos localizados dentro das fazendas. No Brasil, apenas 17% estão em propriedades rurais, aumentando a dependência de armazéns externos e pressionando a logística.
Estruturas de armazenagem: vantagens e desafios
O parque armazenador brasileiro é composto por silos verticais, armazéns graneleiros e soluções temporárias, como o silo bolsa.
- Silos verticais oferecem maior eficiência e automação, mas exigem alto investimento.
- Armazéns horizontais têm menor custo inicial e construção mais rápida, porém ocupam mais espaço e apresentam maior risco de perdas.
- Silos bolsa, usados emergencialmente, têm baixo custo e flexibilidade, mas são vulneráveis e descartáveis após uma safra.
Custos elevados pressionam investimentos
O custo para construção de silos subiu de R$ 700 por tonelada em 2019 para cerca de R$ 1.100 por tonelada em 2025. Para eliminar o déficit de 92 milhões de toneladas, seriam necessários R$ 102 bilhões em investimentos.
No Plano Safra 2025/26, o governo destinou R$ 4,5 bilhões para o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), com juros entre 8,5% e 10% ao ano. Porém, segundo a Abiove, taxas ideais estariam entre 6% e 6,5% a.a., próximas às praticadas nos EUA, que oferecem crédito a longo prazo com juros de cerca de 4,7% ao ano.
Logística rodoviária aumenta custos de transporte
A dependência do transporte rodoviário agrava os gargalos. Atualmente, 60% dos grãos são escoados por caminhões, contra 30% por ferrovias e 10% por hidrovias.
Transportar soja do Mato Grosso até o Porto de Santos custa em média USD 84 por tonelada apenas no trecho terrestre, representando 73% do custo total até a China. Durante a safra, a falta de armazéns locais faz caminhões servirem como “estoque improvisado”, elevando fretes e reduzindo a renda do produtor.
Impactos diretos no produtor rural
A carência de armazéns obriga agricultores a vender a safra rapidamente, muitas vezes em condições desfavoráveis. Estudo da CNA mostra que 41% dos produtores com silos próprios conseguiram ganhos entre 6% e 20% nas últimas safras, justamente por poderem segurar a produção e negociar em melhores momentos de mercado.
Necessidade de políticas públicas e investimentos privados
Apesar de avanços pontuais em logística e armazenagem, a expansão da produção agrícola tem sido mais rápida. Para o Itaú BBA, investir em infraestrutura de armazenagem é estratégico para reduzir perdas, garantir estabilidade de preços e fortalecer a competitividade do agro brasileiro.
Sem esses investimentos, o país seguirá convivendo com milho estocado a céu aberto e filas de caminhões nos portos em anos de safra cheia.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio