Cacique que morreu atropelado lutava por políticas públicas e demarcação

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Para quem conhecia a trajetória do Guarani e Kaiowá, o sentimento é de indignação diante de mais uma perda causada pela violência no trânsito

A morte do cacique Samuel Velasques, de 46 anos, atropelado na zona rural de Coronel Sapucaia, mobilizou lideranças indígenas, comunicadores e movimentos sociais. Para quem conhecia a trajetória do Guarani e Kaiowá, o sentimento é de indignação diante de mais uma perda causada pela violência no trânsito e pelo abandono histórico dos povos originários.

Nas redes sociais, a notícia repercutiu com homenagens e alertas sobre o perigo constante enfrentado por lideranças. “Ele foi uma grande liderança. Lutou bravamente pelos territórios. Estava recém-eleito pela comunidade e atuava em Brasília. Lutava por água, saúde, políticas públicas, e era parte do movimento Aty Guasu”, lembrou o ativista Jânio Kaiowá, que segue nesta terça-feira (29) rumo ao velório, em Coronel Sapucaia.

Jânio também destacou o papel de Samuel junto aos jovens. “Apesar de ser uma comunidade de fronteira, ele lutava para amenizar os conflitos locais. Incentivava os estudos e sempre esteve presente nas causas da juventude”, contou ele ao Campo Grande News.

O jornalista indígena Guarani Kaiowá Gilberto Fernandes também se manifestou em nota de pesar. Para ele, a liderança de Samuel deixa um legado que jamais será esquecido. “Tive a honra de caminhar ao lado dele em reuniões importantes, ouvindo suas palavras de sabedoria. Sua memória continuará viva em cada canto da aldeia e no coração de todos que o conheceram”, disse.

A tragédia trouxe à tona outras perdas semelhantes. Em 2024, o Campo Grande News relembrou o atropelamento de Damiana Cavanha, em Dourados, que também teve sua luta encerrada de forma violenta. Ela chegou a enterrar nove parentes vítimas do mesmo tipo de acidente, com motoristas que fugiram sem prestar socorro.

“Ela teve que recolher partes do corpo para conseguir enterrá-lo. Isso nos faz questionar se esses atropelamentos são mesmo acidentes ou parte de um projeto de destruição dos povos indígenas”, afirmou o professor Tiago Botelho, que conheceu Damiana e seus familiares.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, levantados pelo portal Metrópoles, 1.993 indígenas morreram em acidentes de trânsito entre 2000 e 2023. O número é maior do que os registros de mortes por doenças infecciosas ou parasitárias no mesmo período.

Em nota, o movimento Aty Guasu lamentou a perda do cacique e se solidarizou com a comunidade de Taquaperi. “Sua memória estará sempre com a gente. Quando um parente ou parenta se vai, dói em todos nós”, diz a nota.

Fonte: Campograndenews