Última vítima na Capital foi Luana Cristina Ferreira Alves, de 32 anos, morta a facadas por um foragido do Mato Grosso que tinha mandado por crime parecido.
Espancadas, esfaqueadas, atacadas e violentadas pelo fato de serem mulheres. Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp-MS), Campo Grande somou 85 vítimas de feminicídio nos últimos 10 anos, sem demonstrar sinais de queda com o passar dos anos.
Este ano, tudo começou em 13 de fevereiro, com a morte da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, após ser esfaqueada por Caio Nascimento, criminoso com passagens por roubo, tentativa de suicídio, ameaça, além de outros casos de violência doméstica contra a mãe, irmã e outras namoradas.
Menos de um mês depois, no dia 1º de março, foi a vez de Giseli Cristina Oliskowiski, de 40 anos, ser assassinada. Ela foi encontrada carbonizada em um poço no bairro Aero Rancho, em Campo Grande, após ter sido tapeada pelo marido por causa de uma discussão, que ainda lhe jogou uma pedra na cabeça.
Depois de quase três meses de hiato nos casos, a Capital registrou um duplo feminicídio, cometido por João Augusto Borges, de 21 anos, que estrangulou e carbonizou a esposa Vanessa Eugenia Medeiros, de 23 anos, e a filha Sophie Eugênia Borges, de 10 meses, na região do Indubrasil.
No dia 2 de outubro, Gisele da Silva Saochine foi esfaqueada e morta pelo marido no quintal de casa. Em seguida, ele a arrastou para o quarto e a incendiou. Depois, foi para o carro que estava na garagem e colocou fogo em si mesmo, morrendo carbonizado. Ambos tinham uma filha de 16 anos.
Por último, o caso mais recente, ocorrido no dia 28 de outubro. Luana Cristina Ferreira Alves, de 32 anos, foi morta a facadas no bairro Colúmbia, em Campo Grande, por Gilson Castelan de Souza, que havia cometido um crime muito parecido em Várzea Grande (MT), em 2022, e era foragido da Justiça desde então.
Mesmo que os relatos e números impressionem, este não é o pior ano de Campo Grande no quesito. Em 2022 e 2020, a Capital registrou 13 e 12 vítimas de feminicídio, respectivamente, configurando-se os dois piores anos da cidade em quantidade de assassinadas.
Para efeito de comparação, Campo Grande é responsável por 23,48% dos feminicídios em Mato Grosso do Sul do período de 2015 até agora. Em termos de números absolutos, a Capital registrou 85 vítimas nestes 10 anos, enquanto as outras 78 cidades do Estado somadas catalogaram 277 mortas.
Espelho
Até por ser Capital, Campo Grande é reflexo do que acontece em todo o Estado. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, no ano passado, Mato Grosso do Sul foi o segundo estado do País com a maior taxa de assassinatos de mulheres pelos seus companheiros, com taxa de 2,4 por 100 mil habitantes, atrás apenas de Mato Grosso.
“Os números mostram uma situação grave, e o que eles não mostram compõe um cenário mais amplo que é ainda mais cruel e duro do que dizem os registros oficiais. Isso porque, quando falamos de violência de gênero, falamos de um fenômeno que continua sendo marcado por subnotificação, silêncio e naturalização social”, informa trecho do Anuário Brasileiro da Violência.
“Enquanto sociedade, por mais que estejamos gradualmente rompendo com a normalização dessas violências, ainda enfrentamos uma cultura que muitas vezes trata a violência contra a mulher como natural […]. Como algo que decorre da ordem regular das coisas”, completou.
Até para servir de exemplo, esta semana Mato Grosso do Sul registrou duas vítimas de feminicídios em menos de um dia em duas cidades do interior: Aline Silva, de 26 anos, foi morta a facadas em Jardim; e Mara Aparecida do Nascimento Gonçalves, de 43 anos, em Aparecida do Taboado.
Lei do feminicídio
Datada de 09 de outubro de 2024, a nova “lei do feminicídio” eleva para 40 anos o crime de assassinato de mulheres, no contexto de violência doméstica ou de gênero.
Como esclarece material da Agência Senado à época, a legislação anterior definia o feminicídio como um crime dentro do âmbito do homicídio qualificado, sendo pela nova lei considerado autônomo.
Com alterações no Código Penal, Lei das Contravenções Penais, de Execução Penal, de Crimes Hediondos e Maria da Penha, entre outras medidas importantes, houve um aumento da pena, de 12 a 30 anos para reclusão de 20 a 40 anos.
Entretanto, é importante explicar que, não cabe aplicação retroativa aos crimes que aconteceram antes da vigência da nova Lei do Feminicídio, graças ao chamado “princípio da não retroatividade in pejus”, o que impede penas mais graves nesses casos.
Fonte: Correio do Estado


