A Casa da Ciência foi palco, nesta quarta-feira (12), da mesa redonda Mudanças Climáticas e a Resiliência dos Biomas da Amazônia, Caatinga e Cerrado. O debate reuniu representantes de institutos de pesquisa e governo para abordar como esses ecossistemas fundamentais para o País se adaptam e ofertam soluções sob cenários de aquecimento global, além das apostas na ciência para manter a “floresta em pé”.
Um dos participantes da mesa foi o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Henrique do Santos Pereira. Segundo ele, a Amazônia ocupa quase metade do território brasileiro e abriga cerca de 40% das florestas tropicais remanescentes no planeta. Ele destacou que “a floresta recicla de 25 a 50% do vapor de água que precipita sobre ela” e que “a Amazônia não é apenas afetada pelo clima, ela o produz e o regula”. Em sua avaliação, compreender como esse bioma reage ao aquecimento global vai além da ciência: trata-se de “uma estratégia para a segurança hídrica, energética e alimentar do nosso País e da América do Sul”.
O coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Cláudio Almeida, por sua vez, destacou a importância do Cerrado, que ocupa cerca de 22% do território nacional e abriga milhares de espécies adaptadas a longos períodos de seca. Ele explicou que o bioma é conhecido como uma “floresta invertida”, já que a maior parte de sua biomassa está concentrada no sistema radicular — conjunto de raízes profundas que garante a fixação no solo e permite o acesso ao lençol freático.
Esse sistema subterrâneo facilita a infiltração da água da chuva e alimenta grandes aquíferos, como o Aquífero Guarani, desempenhando papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos. Almeida alertou, porém, que estudos recentes apontam alto risco de perda de resiliência do Cerrado diante do aumento da temperatura média global em cerca de 2°C até 2050.
O debate reforçou que, embora cada bioma tenha características próprias, todos fazem parte de um mesmo sistema — e que todas as florestas importam. Henrique Pereira destacou a relevância científica acumulada pelo Inpa em décadas de monitoramento, agora dependente de mais investimentos em ciência, tecnologia e financiamento. Cláudio Almeida acrescentou que o monitoramento e os dados concretos são essenciais para orientar políticas públicas e explicou o conceito de “floresta invertida”, usado para descrever biomas como o Cerrado e a Caatinga.
Integrantes da mesa também apontaram que, mesmo com avanços nas políticas de controle do desmatamento e recuperação de vegetação, persistem desafios como secas prolongadas, incêndios mais intensos, perda da capacidade de estocagem de carbono e riscos de colapso nos ecossistemas. Segundo Pereira, a floresta está perdendo parte de sua capacidade de estocar carbono devido à maior mortalidade de árvores provocada por chuvas intensas, secas, desmatamento e degradação — um sinal de fragilidade crescente.
Os participantes ressaltaram ainda que reforçar a resiliência dos ecossistemas exige integrar monitoramento científico, restauração ecológica, manejo adaptativo e investimentos estruturados. Pereira alertou que um possível aumento de 4 °C a 5 °C na temperatura regional colocaria à prova a capacidade de adaptação de todos os biomas, tornando indispensáveis ações simultâneas de mitigação e adaptação.
Também integraram a mesa o diretor-geral do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), José Etham de Lucena Barbosa, e o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Oliveira Pires.
Casa da Ciência
A Casa da Ciência do MCTI, no Museu Paraense Emílio Goeldi, é um espaço de divulgação científica, com foco em soluções climáticas e sustentabilidade, além de ser um ponto de encontro de pesquisadores, gestores públicos, estudantes e sociedade. Até o dia 21, ela será a sede simbólica do ministério e terá exposições, rodas de conversa, oficinas, lançamentos e atividades interativas voltadas ao público geral. Veja a programação completa.


