29 C
Ponta Porã
quinta-feira, 25 de abril, 2024
InícioRegiãoCorumbáCia de Dança do Pantanal apresenta espetáculo Migrante nas ruas de Corumbá

Cia de Dança do Pantanal apresenta espetáculo Migrante nas ruas de Corumbá

A Cia de Dança do Pantanal se apresentou na programação do Festival América do Sul Pantanal em frente ao IMNegra (Instituto de Mulheres Negras do Pantanal), no centro de Corumbá. A apresentação foi no final da oficina ‘Da inspiração ao croqui – upcycling em jeans’, ministrada por Anderson Bosh e Luiz Gugliatto, figurinista da companhia.

O coreógrafo da Cia de Dança do Pantanal, Wellington Julio, explica que o que foi apresentado foi o espetáculo Migrante, que fala do vai e vem e das dores e alegrias causadas por este movimento feito por migrantes e imigrantes.

“O Migrantes é um trabalho que conta um pouco sobre a realidades dos que vêm e vão. Várias vezes, essas pessoas são esquecidas. E a apresentação fala um pouco dos amores que a gente deixa para trás quando saímos de um lugar em busca de algo novo. Fala também sobre a felicidade e sobre ser acolhido. Muitas vezes, a gente quer cantar, falar, ser ouvido e, às vezes, a gente não consegue. Dependendo do tom da sua pele, do formato do seu rosto ou do seu corpo. Dependendo de quem lhe puxa para trás e para frente também”, afirma.

O espetáculo foi criado a partir de depoimentos colhidos no processo de criação, tanto de migrantes quanto de imigrantes. Os depoimentos se tornaram movimentos apresentados pelos bailarinos da companhia, que vestem figurino criado por Gugliatto.

O stylist, produtor de moda e figurinista, Luiz Gugliatto, explica que o tema escolhido para o outono/inverno deste ano é o poder da sustentabilidade para o planeta. “A coleção busca o casamento entre ser sustentável e ser confortável, enquanto as modelagens foram pensadas para pessoas que buscam estilo e beleza, sem perder a praticidade e funcionalidade que os dias atuais exigem. O reuso do jeans e outros materiais é fundamental para transformar o produto usado em uma peça nova”, conta.

Sobre a Cia

A Cia de Dança do Pantanal integra as ações do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano. O intuito desde o início é de proporcionar acesso e oportunidade de profissionalização de bailarinos oriundos de projetos sociais sul-americanos, bem como representar o território pantaneiro, divulgando a dança com repertórios que incluem peças neoclássicas e contemporâneas, criadas por coreógrafos nacionais e internacionais.

A Companhia se propõe a explorar e focar em seus trabalhos contemporâneos um dos biomas mais preciosos da Humanidade, o Pantanal, que se estende pelo Brasil, Bolívia e Paraguai, países que têm o estado de Mato Grosso do Sul como adjacente e é considerada a maior área inundável do planeta. A “COMPANHIA DE DANÇA DO PANTANAL” é um espaço onde artistas locais, nacionais e internacionais, formados com um alto grau de conhecimento técnico, artístico e profissional nos padrões internacionais representam Corumbá/MS e o Brasil, dentro e fora do país, para um público cada vez mais exigente de qualidade, excelência e grandeza no Brasil e no mundo.

Migrantes por Marco Aurélio Machado de Oliveira*
De quantos mediterrâneos são feitos nossos mundos? Alguns gigantescos, ganham força e voz nas notícias de jornais. Outros tão minúsculos que só cabem nas pegadas que deixam em nossas frentes. Uns visíveis, geram comoções e empáticas manifestações. Outros tão pálidos, que apenas os abandonos verbais podem alcança-los.

E o espetáculo Migrantes da Companhia de dança do Pantanal leva a refletir sobre quantas lutas épicas ou inglórias, calculadas ou precipitadas no seu fim, são feitos nossos gestos de acolhimento. Algumas registradas, comentadas, prometidas e esquecidas. Outras, cuja luminosidade atinge a quem interessa, sequer são sabidas.

E, entre tantas coisas, há um tempo que salva, o da arte. Assim me ensinou Manoel de Barros. E diferente do olhar poético para um firmamento prestes a desaparecer, ou de uma canção predestinada em tantas esquinas, a migração e a arte não têm finais. Bem fez isso Márcia Rolon, Rolando Cândia e Wellington Júlio, restaurando nossos caminhos secos.

E, falando em finais, quantas fronteiras eles devem passar e sonhos têm que ser deixados ao lado dos naufrágios diariamente enfrentados? Quantos vigores devem ser testado sob a malha fria da indiferença? Quantos modos de namorar ou amar, rituais de milagres que lembram seus avós, idiomas, cores de pele e registros de passaporte precisam ser tatuados nas decisões de aceita-los ou não?

Nesse enredo, tão forte e composto de riscos de faltas de vidas e políticas, a arte traz memórias, que não encerram em mim, tampouco em vós. O Moinho Cultural nos reaviva uma curva esperançosa. E disso não podemos abrir mão. Assim como os migrantes, a arte nos impõe sentidos, deixando a ideia de repetição incontida como ela realmente é: sem valor.

*Professor na UFMS, poeta e Conselheiro do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano