O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com lideranças globais, anunciou durante a COP30 o Bioeconomy Challenge, uma plataforma global para transformar os 10 Princípios de Alto Nível da Bioeconomia em ações concretas e soluções escaláveis, com metas até 2028.
A iniciativa traz a bioeconomia ao centro da resposta à crise climática, a partir do legado da Iniciativa de Bioeconomia do G20 (GIB). O lançamento ocorreu no dia 17 de novembro, na Zona Azul da conferência realizada em Belém (PA).
O Bioeconomy Challenge propõe avançar com as definições de métricas concretas para bioeconomia, expandir as soluções financeiras e os mercados que conservam a natureza e consolidar a sociobioeconomia como estratégia de desenvolvimento sustentável e inclusivo, colocando as pessoas e as comunidades no centro das decisões.
Durante o lançamento, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou o potencial da bioeconomia. “Ela substitui a economia predatória por uma sustentável e regenerativa, que parte dos produtos da própria biodiversidade e é capaz de produzir alimentos, fármacos, cosméticos, fibras, bioinsumos, biomateriais, conhecimento tradicional”, afirmou a ministra. “Fico muito esperançosa de que seremos capazes de criar um novo ciclo de prosperidade, que seja diverso, sustentável e justo para todos”, completou.
O Bioeconomy Challenge faz parte do Plano de Aceleração de Soluções da COP30. “Pela primeira vez na história das COPs, a bioeconomia foi colocada como um objetivo central da Agenda de Ação, o Objetivo 29, sobre bioeconomia e biotecnologia. Dedicamos não apenas um, mas dois dias temáticos a discussões profundas e significativas sobre como liberar todo o seu potencial, e estamos felizes em celebrar os excelentes resultados que alcançamos juntos”, reforçou o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e líder das negociações brasileiras na COP30, o embaixador Mauricio Lyrio.
Governança
Com duração prevista de três anos, o Bioeconomy Challenge é uma plataforma internacional e multissetorial que reúne governos, empresas, academia, sociedade civil e especialistas. A iniciativa já conta com o interesse de 63 organizações de mais de 20 países. A ação busca superar lacunas críticas relacionadas a métricas, financiamento e desenvolvimento de mercado, que ainda restringem investimentos que beneficiem os povos e comunidades que conservam a natureza.
A iniciativa já forma uma coalizão em expansão, com mais de 60 membros em todo o mundo. O Bioeconomy Challenge tem como objetivo acelerar a implementação do Objetivo Estratégico 29 da Agenda de Ação da COP30, dando continuidade ao trabalho iniciado no âmbito do G20 sob as presidências do Brasil (2024) e da África do Sul (2025).
“Precisamos de mais ambição nos compromissos financeiros e políticos. Acho que temos a bússola definida por todos esses anúncios que fizemos. A bússola nos dá a direção, para sabermos para onde ir. Acho que essa é um pouco a essência do Bioeconomy Challenge, ser uma bússola”, explicou a secretária Nacional de Bioeconomia do MMA e presidente do Comitê Diretor da ação, Carina Pimenta.
Nesse contexto, a gestora defendeu a implementação de um “mapa muito claro que oriente a bioeconomia” para garantir o acesso a todo potencial desse segmento. “Precisa ser um mapa inclusivo, que envolva todos os setores que ela abrange: de alimentos a biomateriais, de bioenergia a outros. Esse mapa precisa ser real e concreto”, completou.
Criada pelo MMA, a plataforma conta com um modelo de governança compartilhada. A secretaria executiva é feita pela NatureFinance. Há ainda um Comitê Diretivo que reúne de forma paritária governos e representações de povos indígenas e comunidades tradicionais, setor privado e academia.
“É algo muito mais amplo do que a iniciativa do G20 sobre bioeconomia, que era voltada principalmente aos países. Agora, podemos envolver comunidades, financiadores, centros de pesquisa e empresas. É a nossa oportunidade. Queremos realmente incluir todos esses atores nos grupos de trabalho e promover atividades de articulação entre eles, envolvendo tanto o Norte Global quanto o Sul Global”, afirmou a diretora da NatureFinance no Brasil, Luana Maia.
As atividades serão apoiadas por quatro grupos de trabalho especializados. São eles: métricas e indicadores, liderado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); mecanismos de financiamento, com o Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento (Grupo BID); desenvolvimento de mercado e comércio, sob coordenação da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês); e sociobioeconomia e benefícios comunitários, com World Resources Institute (WRI).
Bioeconomia na Agenda de Ação da COP
Em 30 anos de COP, foi a primeira vez que a Presidência da conferência nomeou um enviado especial para a Bioeconomia , o brasileiro Marcelo Behar, o que ressaltou a liderança do país na integração desta agenda à governança climática global.
“Queremos criar condições para que o investimento privado em tecnologias de alto risco e alto valor impulsione e acelere a inovação. Ao posicionar esses setores como polos de crescimento sustentável, poderemos transformar nosso modelo econômico. Assim, podemos descarbonizar nossos setores e fortalecer a resiliência das cadeias de suprimento das empresas. O Brasil está definindo o ritmo do trabalho em bioeconomia no cenário global”, avaliou a ministra de Assuntos Rurais e Ambientais do Reino Unido, Mary Creagh.
O evento de lançamento também contou com a participação do ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider, que na véspera sobrevoou a floresta amazônica. “Vivemos tempos desafiadores. A perspectiva de uma bioeconomia sustentável e circular é algo que me dá esperança. Ela tem o potencial de unir proteção ambiental, economia e equidade social, podendo criar oportunidades econômicas ao mesmo tempo em que respeita o conhecimento tradicional e protege a natureza.”
O secretário executivo da Aliança Global de Comunidades Territoriais (AGCT), Juan Carlos Jintiach, que ocupa posição no comitê consultivo da iniciativa, destacou a importância dos povos tradicionais e indígenas na proteção da floresta e da natureza. “Quando olhamos para trás, consigo ver a destruição do mundo, inclusive da nossa própria terra, e, ainda assim, nós a protegemos. Essa é a nossa contribuição para o planeta: o que estamos fazendo, o que o governo está fazendo. Apenas nos ouçam, vejam isso, porque a resposta está em garantir a proteção de nossas terras, para que possamos continuar vivendo aqui. Nós cuidamos deste território para o mundo e para as futuras gerações. Não vamos entregar outro planeta; é este que temos. Esta é uma oportunidade extraordinária.”
Transformação de princípios em práticas
Para o diretor de Clima e Biodiversidade da FAO, Kaveh Zahedi, a construção do debate sobre bioeconomia nos últimos anos é um ativo que contribuirá para os próximos passos. “No G20, o Brasil foi inspirador e a África do Sul continuou com a análise aprofundada das métricas. Agora temos uma década de experiência. Temos centenas de pessoas muito bem preparadas.”
Ao falar do Amazônia para Sempre, um programa do BID que tem o objetivo de ampliar o financiamento e aumentar a coordenação regional para acelerar o desenvolvimento sustentável, Gregory Watson destacou a bioeconomia como uma grande oportunidade. “Vemos isso como um reconhecimento do progresso coletivo em relação à biodiversidade e aos princípios de amortecimento do clima que estamos gerenciando internamente no BID, dando vida a esses princípios. Estamos trabalhando para integrá-los à nossa própria estrutura temática sobre como definimos a bioeconomia dentro da diretiva de desenvolvimento do BID e para nossos projetos.”
Na liderança do grupo de trabalho de desenvolvimento de mercado e comércio do Bioeconomy Challenge, a UNCTAD pretende incluir nas articulações parcerias para capacitações. “Trabalhamos nisso há quase 30 anos, e o que aprendemos é que precisamos que o ecossistema funcione em conjunto. É por isso que preciso fazer algo assim pelas pessoas e nos unir”, afirmou a chefe de Meio Ambiente, Clima e Desenvolvimento Sustentável da UNCTAD, Chantal Line-Carpentier.
O diretor-geral de programas do WRI, Craig Hanson, trouxe para o lançamento exemplos de projetos de bioeconomia pelo mundo. “Pense no que está acontecendo com a silvicultura comunitária na base do Congo; isso é bioeconomia. Observe o México e a América Central, onde vemos empreendimentos de força comunitária. Isso é bioeconomia. Então, existem elementos”, destacou. “Nós apenas os desenvolvemos e ampliamos a agenda. Um colega citou que precisamos passar do nicho para o mainstream. Eu não poderia concordar mais. Espero que hoje seja o momento em que criamos esse movimento”, acrescentou.
Saiba mais informações sobre o Bioeconomy Challenge aqui.
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