A conversão de 20,8 milhões de hectares no Cerrado em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) poderia render cerca de R$ 130 bilhões em receita líquida anual, movimentar quase R$ 330 bilhões na economia e criar 159,5 mil empregos diretos. Já na Amazônia, a transformação de 22 milhões de hectares de pastagens de médio vigor em modelos de ILPF teria impacto estimado em R$ 310 bilhões por ano.
É o que mostra um estudo inédito da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Banco Mundial, que avaliou experiências implantadas desde a década de 1990 em estados como Pará, Rondônia e Mato Grosso. Pela primeira vez, a análise vai além dos ganhos ambientais e produtivos, comprovando que os sistemas sustentáveis também oferecem retornos financeiros superiores aos modelos convencionais de pecuária extensiva e monocultura agrícola.
No Cerrado, uma fazenda em ILPF obteve lucro bruto 8% maior que o de uma propriedade de monocultura agrícola e mais que o dobro de uma de pecuária tradicional. Indicadores como taxa interna de retorno e retorno sobre investimento também superaram os obtidos pelos modelos convencionais.
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs), mais presentes em propriedades familiares, exigem maior investimento inicial, mas se mostram altamente rentáveis no longo prazo. Em modelos analisados no Pará e em Rondônia, que combinam culturas como cacau e açaí, cada R$ 1 investido retornou R$ 9,20.
Essa diversificação garante maior resiliência financeira. Se um produto perde valor numa safra, outro compensa a queda, tornando o sistema mais seguro para o produtor, explicam os pesquisadores da Embrapa Acre.
Apesar do potencial, a expansão de ILPF e SAFs enfrenta entraves como linhas de crédito rural pouco adaptadas ao fluxo de caixa de longo prazo, carência de assistência técnica especializada e infraestrutura deficiente em regiões afastadas dos polos agrícolas. Os pesquisadores defendem ainda a regulamentação da Política Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais (Lei 14.119/2021), como forma de remunerar práticas conservacionistas.
Atualmente, a ILPF ocupa cerca de 17 milhões de hectares no Brasil, ou 7% da área agropecuária. Para os pesquisadores, ampliar essa escala é essencial não só para aumentar a competitividade, mas também para consolidar o Brasil como referência em produção sustentável.
Fonte: Pensar Agro