Um estudo da Consultoria Agro do Itaú BBA, divulgado em junho de 2025, revela que o Brasil possui um enorme potencial para expandir a produção agrícola por meio da conversão de pastagens degradadas em áreas de cultivo. Com 164 milhões de hectares de pastagens no país, sendo boa parte subutilizada ou em processo de degradação, a transição para lavouras representa uma oportunidade econômica, ambiental e social.
Confira os principais destaques da análise:
Mapeamento das áreas de pastagem no país
Segundo dados do MapBiomas de 2023, as pastagens brasileiras estão distribuídas por todos os biomas, com destaque para a Amazônia (59 milhões de ha) e o Cerrado (51 milhões de ha). No total, 22% das pastagens apresentam baixo vigor, 42% vigor médio e 36% alto vigor. Entre os estados, o Pará lidera em área de pastagens, seguido por Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Goiás.
Critérios para a conversão agrícola
A conversão de pastagem em lavoura exige análise rigorosa de fatores como:
- Fertilidade e textura do solo;
- Relevo e viabilidade de mecanização;
- Regime de chuvas e ausência de estresse hídrico;
- Logística de acesso a rodovias, armazéns e polos de produção;
- Regularidade ambiental e fundiária (CAR, APPs, Reserva Legal).
Áreas planas, próximas de centros agrícolas e com boa infraestrutura são as mais aptas para conversão.
Custos de conversão e investimento necessário
Com base no programa Reverte® (parceria da Syngenta, The Nature Conservancy e Itaú BBA), a estimativa de custo para a conversão varia entre R$ 7 mil e R$ 17 mil por hectare, dependendo do nível de degradação do solo. Para converter os 28 milhões de hectares identificados pela Embrapa como aptos à produção agrícola, o investimento necessário seria de R$ 482,6 bilhões.
Impacto na produção de soja
A incorporação dessas áreas poderia elevar em 104,7 milhões de toneladas a produção de soja no país. Isso representa um crescimento de 61,5% em relação à safra 2024/25 (170 milhões de t), colocando o Brasil em posição ainda mais estratégica no mercado global da oleaginosa.
Potencial da segunda safra de milho
Ao considerar a prática comum de segunda safra após a soja, estima-se um aumento de 10,2 milhões de hectares na produção de milho safrinha, o que poderia gerar um acréscimo de 52,8 milhões de toneladas. Juntas, as produções de soja e milho poderiam crescer 158 milhões de toneladas – um aumento de 52% sobre os níveis atuais.
Valorização fundiária
A conversão de pastagens também impulsiona a valorização da terra. Estimativas indicam que o valor das terras convertidas pode aumentar, em média, 2,4 vezes. O potencial total de valorização patrimonial, considerando os 28 milhões de hectares, chega a R$ 904,7 bilhões (ou USD 157,3 bilhões ao câmbio de R$ 5,75).
Viabilidade econômica e ambiental
Projeções financeiras indicam taxa interna de retorno de 8% ao longo de 10 anos para projetos que convertam pastagens degradadas em lavouras de soja e milho. No campo ambiental, a conversão dessas áreas evitaria o desmatamento de vegetações nativas, com potencial de redução de até 3,5 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente, considerando a emissão evitada no Cerrado.
Desafios para viabilizar o potencial
Apesar do enorme potencial, a concretização da conversão requer avanços estruturais:
- Maior acesso ao crédito com prazos compatíveis;
- Expansão da assistência técnica no campo;
- Melhor monitoramento e uso de dados pós-conversão.
A conversão de pastagens degradadas em lavouras representa uma das maiores oportunidades do Brasil para ampliar a produção de alimentos com responsabilidade ambiental. Além de fortalecer o agronegócio e as exportações, pode contribuir para metas climáticas e desenvolvimento sustentável.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio