COP30: Brasil lidera diálogo global sobre soluções para escalar financiamento para florestas até 2030

Reunião Ministerial de Alto Nível: Desbloqueando o Financiamento Florestal no Caminho para a COP30 em Belém (PA) - Foto: Carlos Tavares/COP30

Nesta segunda-feira (17/11), durante a COP30, em Belém (PA), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) abriu o Dia Temático de Florestas da Conferência com um evento-chave sobre financiamento florestal. O “Diálogo de Soluções para Finanças para Florestas Rumo a 2030” colocou no centro da agenda um menu de seis soluções para fechar a lacuna de financiamento para florestas até 2030: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), o REDD+ jurisdicional (JREDD+), a Bioeconomia Florestal Sustentável, as Cadeias de Valor Sustentáveis, a Reforma de Subsídios e o Gerenciamento da Dívida Soberana.

O diálogo de alto nível foi estruturado em duas partes complementares: uma mesa-redonda ministerial seguida de um painel com lideranças do setor privado, bancos multilaterais e sociedade civil. Juntas, elas funcionaram como vitrine de soluções concretas já em curso e como uma plataforma de lançamentos e anúncios de novas iniciativas em torno desse “menu de opções”, com foco em ampliar o financiamento para florestas e reverter o desmatamento até 2030.

O encontro reuniu ministras, ministros e representantes dos Ministérios do Meio Ambiente da Colômbia, Guiana, República Democrática do Congo, Reino Unido e Noruega, além de representantes das empresas Tencent e Federated Hermes, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), do BTG Pactual Timberland, da Ambition Loop, do Tesouro Nacional do Brasil, do Banco Mundial e da Conservação Internacional.

O cenário atual de financiamento para florestas revela um desequilíbrio preocupante de fluxos financeiros. As florestas tropicais são fundamentais para a estabilidade climática global e, até 2030, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), precisarão de um investimento anual de aproximadamente US$ 67 bilhões para que possamos alcançar as metas estabelecidas pelas três Convenções do Rio: Mudança do Clima, Diversidade Biológica e Desertificação. Sem essa ação, o mundo corre o risco de perder até US$ 81 bilhões do PIB global anualmente devido ao desmatamento e à degradação das florestas tropicais.

É nesse contexto que o Brasil buscou posicionar a COP30 como um ponto de virada para o financiamento florestal, conectando ambição política, inovações financeiras e protagonismo de povos indígenas e comunidades locais.

“Sabemos que os desafios são reais. Mas também sabemos que nunca houve tanto conhecimento disponível, tanta tecnologia para monitorar e reportar, tanta inovação financeira pronta para ser adaptada. Precisamos de um mutirão até 2030. Que países tropicais tragam suas experiências e ambições; que parceiros financeiros alinhem instrumentos aos resultados; que sociedade civil e setor privado coproduzam soluções; que povos indígenas e comunidades locais sejam reconhecidos como protagonistas e beneficiários diretos”, afirmou o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco.

Do lado brasileiro, o secretário também reforçou as entregas já alcançadas pelo TFFF. Após meses de articulação, no início de novembro, o Brasil lançou o fundo com aportes iniciais que superam US$ 5,5 bilhões, refletindo a confiança internacional na proposta. Capobianco também reafirmou o papel do REDD+ jurisdicional e dos mercados de carbono como instrumentos legítimos para canalizar financiamento climático em escala, contando que estes sejam baseados em integridade e repartição justa de benefícios.

A complementaridade entre TFFF e JREDD+ foi ecoada por outras autoridades presentes. E o diálogo marcou importantes anúncios na frente de JREDD+, com o lançamento oficial da Coalização para Escalar JREDD+ pelo ministro dos Recursos Naturais da Guiana, Vickram Bharrat, e pelo secretário de Estado para Segurança Energética e Net Zero do Reino Unido, Ed Miliband. Os membros da coalizão trabalham para desenvolver um mercado estável e próspero de créditos de carbono florestal jurisdicionais de alta integridade.

“A mensagem é clara: se quisermos deter e reverter a perda florestal até 2030, precisamos ampliar todas as […] opções, e não tratá-las como alternativas. Duas opções se destacam: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre e o REDD+ jurisdicional. […] Juntamente com o TFFF, queremos que o JREDD+ alcance seu potencial , por isso, tenho o prazer de anunciar hoje a criação da Coalizão para Escalar o JREDD+, que reúne países florestais, organizações indígenas, investidores, padrões e a sociedade civil para expandir o financiamento florestal jurisdicional de alta integridade”, declarou.

Outros países também aproveitaram o evento para apresentar compromissos concretos alinhados às seis soluções do roteiro.

“Tenho o prazer de anunciar que a Noruega se junta hoje à Capital Catalítica para a Transformação Agrícola – CCAT – no Brasil, com uma doação de 20 milhões de dólares. A CCAT foi criada para reduzir os riscos dos investimentos do setor privado na agricultura livre de desmatamento. Os objetivos são: facilitar o aumento do financiamento do setor privado para pequenos e médios agricultores, e ajudar as empresas da cadeia de suprimentos de gado e soja a implementar seus compromissos com o fornecimento livre de desmatamento e conversão”, disse a assessora especial do Ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, Sofie Rosten Lovdahl.

A Colômbia, por sua vez, destacou o papel do gerenciamento da dívida soberana como alavanca estruturante para ampliar o espaço fiscal destinado à conservação e à restauração de florestas.

“Por isso a Colômbia fala hoje com clareza: precisamos de um financiamento justo, acessível, previsível e de acordo com o valor que as florestas representam para o planeta. Não se trata de assistencialismo, mas de justiça climática. E hoje o roteiro nos ofereceu uma mensagem contundente: redirecionar apenas 1% do serviço global da dívida soberana liberaria cerca de cinco milhões de dólares ao ano para proteger as florestas e restaurar ecossistemas”, pontuou a ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia,  Irene Vélez Torres.

No campo das soluções domésticas inovadoras, o representante do Tesouro Nacional do Brasil, Mario Gouvêa, apresentou atualizações sobre o Eco Invest Brasil, destacando seu potencial para destravar o investimento privado em bioeconomia, restauração e cadeias produtivas sustentáveis.

“O Eco Invest não é apenas um programa, é uma arquitetura em evolução, projetada para desbloquear capital internacional, proteger contra o risco cambial e canalizar recursos públicos catalisadores para acelerar investimentos sustentáveis. Este ano, consolidamos nosso segundo leilão de financiamento misto, dedicado à restauração de terras degradadas e à expansão de sistemas agroflorestais em todo o Brasil. Os resultados demonstram não apenas a ambição nacional, mas também o interesse global por soluções enraizadas na natureza”, destacou o representante do Tesouro Nacional, Mario Gouvêa. “Agora, olhando para o futuro, nosso próximo marco é o Leilão de Bioeconomia, com foco dedicado à Amazônia. Isso é mais do que um mecanismo de financiamento – é um instrumento para provar que a Amazônia não é apenas um sumidouro de carbono, mas um motor econômico.”

O setor privado também marcou presença reforçando seu papel na mobilização de capital para florestas e bioeconomia. Durante sua fala, Andy Yu, líder de investimentos em natureza e mercado de carbono da Tencent, empresa global de tecnologia e entretenimento, destacou a entrada da companhia nas Coalizões LEAF e JREDD+, tornando-se a primeira corporação com sede na Ásia a se comprometer com o financiamento climático da Coalizão LEAF.

No eixo de mobilização de capital privado em escala global, o diálogo também promoveu um avanço significativo na mobilização de recursos privados para a bioeconomia florestal e outras soluções baseadas na natureza – com o lançamento oficial do Earth Investment Engine (EIE). O mecanismo vai conectar o portfólio crescente de projetos a investidores globais, destravando capital em larga escala para acelerar sua implementação.

“O EIE está ancorado em uma parceria entre a Capital for Climate, a iniciativa Plataforma Regional para Projetos Climáticos dos Campeões do Clima da ONU e a Ambition Loop. A colaboração está totalmente focada em aumentar o número e o tamanho dos investimentos em soluções baseadas na natureza. Ao reunir muitos parceiros de desenvolvimento de projetos, já criamos um portfólio coletivo de mais de 700 oportunidades, no valor de mais de US$ 29 bilhões. Nas últimas duas semanas, muitos outros parceiros se juntaram a este mecanismo global de financiamento da bioeconomia. E estamos abertos à participação de muitos outros parceiros, portanto, entre em contato. Juntos, podemos quadruplicar o investimento privado na bioeconomia até 2030”, declarou o cofundador e co-CEO da Ambition Loop e Campeão de Alto Nível da ONU para Ação Climática na COP26, Nigel Topping,

Ainda no âmbito do evento, a Coalizão Brasil para o Financiamento da Restauração – que busca mobilizar pelo menos 10 bilhões de dólares até 2030 para projetos que conservem e restaurem florestas, construam uma bioeconomia próspera e criem benefícios duradouros para as pessoas, a natureza e o clima – anunciou avanços significativos rumo à sua meta.

“Tenho orgulho de anunciar hoje que, coletivamente, nossos membros já mobilizaram US$ 5,37 bilhões – mais da metade do caminho para nossa meta de dez bilhões de dólares para 2030”, ressaltou a diretora de Políticas e Relações Externas da BTG Pactual Timberland, Caitlin Clarke.

Ao reunir anúncios concretos em todas as seis frentes do roteiro — desde mecanismos de pagamento por resultados como o TFFF e o JREDD+, passando por instrumentos de risco e crédito para cadeias produtivas sustentáveis, até soluções ligadas à dívida soberana e à bioeconomia –, o diálogo consolidou a COP30 como um verdadeiro ponto de virada para finanças para finanças para florestas. 

O evento demonstrou que a combinação de liderança política e inovação financeira já está gerando resultados tangíveis e que, com um esforço de ação coordenado até 2030, é possível alavancar os investimentos necessários para florestas tropicais e transformar a proteção e restauração de florestas em uma agenda central de desenvolvimento econômico.

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Fonte: Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima