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De uma roda de tereré nasceu um grande clube em Amambai

Esse foi o grande legado que Victor Anibal Delgado deixou para a sua cidade do coração.

14/08/2018 09h10 – Por: Tião Prado

A cidade de Amambai passou um momento delicado e triste, devido a um gravíssimo acidente de trânsito provocado por um motorista que foi fazer uma ultrapassagem errada, acabou batendo de frente com o veiculo onde estava o amigo de longa data Victor Anival Delgado, mais conhecido pelo apelido de ‘Vavi’, filho de pais nascidos no Paraguai. Se formou em agrimensor e realizava junto com a sua equipe, trabalhos em propriedades rurais e na cidade e contava com um grande número de amigos, tanto na vida profissional, quanto na vida pessoal e no meio esportivo.

Quando se fala do Vavi duas coisas são primordiais: primeiro, o ‘rico’ Tereré que todos os dias, a partir das 10 horas era servido, inicialmente embaixo do pé de Sete Copas que ficava na frente de seu antigo escritório na rua Duque de Caxias; depois se mudou para a rua da Republica. Segundo, jogar futebol e com o esporte fez muitos amigos, e claro, como gostava de dar um ‘coice’ nos atacantes, ficou conhecido como zagueiro xerifão.

E foi assim que nasceu, primeiro o time do Tereré, era final da década de 80 e entre um tereré e outro, Vavi propôs que fizéssemos um time nosso, da nossa turma do tereré, e assim foi feito. No outro dia já estava marcado o primeiro jogo e como tinha muita gente, os ‘atletas’ iam se revezando durante a partida.Tinha jogo que estava em 20 pessoas e joagava somente 8, ai já começava a briga, sendo que muitas vezes o próprio Vavi dava seu lugar no time para não ver companheiros bravos.

Os jogos aconteciam no campo do Milionários, do Rui Cordeiro em frente ao parque de exposição, dos Vicentins na saída para Ponta Porã, do Manzano no Dersul , do Gressa e outros tantos no Recanto dos Caytés, do grande Simonal, Elpidio Simas, companheiro de todas as horas.

Time pronto e jogando, precisava de um uniforme e lá foi o Vavi, montou o ‘croqui’ da camisa e mostrou para a galera: camisa verde, uma lista branca e o símbolo uma guampa com uma bomba. Tava pronto e foi aceito por todos, mas tinha um detalhe especial, todas as camisas eram numero 10. L[ogico que como gostava de jogar com a 11, questionei, e de pronto ele respondeu: “nós somos tão chatos, que todos vão querer jogar com a 10, é por isso”.

A partir dai, com cada um pagando a sua camisa, fomos pros jogos que aconteciam sempre as quartas e sábados, time composto pelo Caveira, Martinho, Nunu Mendonça, Luis Henrique, Vavi, Marquinhos do Aparicio, Márcio Klein, Colombiano, Paulinho Brescovit, Adriano,e Nelson Galego, Tião Prado, Cidão, Bauer, Aristeu, Biro, Marcão da Cascata, Rui Cordeiro, os dois Orlando, Paulo Manzepe, Antonio Elias, Libório, Anderson Mansano, Abilio, Fonseca, Nery da Costa Junior e muitos vieram a se somar ao time que virou um grande clube e hoje conta com grande número de sócios.

Quando o Vavi apresentou a camisa verde com a faixa branca, uns reclamaram o porque de verde. Vavi, muito esperto, disse que era a cor da erva mate, o símbolo máximo do tereré, mas no fundo se escondia um segredo, pois oParaguaio Vavi era torcedor do Palmeiras e aproveitou o momento exato para fazer uma grande homenagem ao seu time de coração e como era muito convincente em todos os sentidos, ninguém quis contrariar naquele momento e o verde continua até hoje e já é uma marca registrada do Clube Tereré.

Na despedida ao amigo e irmão Vavi, pode-se notar que ele conseguiu um grande feito em sua vida, de uma roda de tereré onde se reúne os grande amigos, se formou uma sociedade grande e forte, vieram se somar ao Tereré pessoas ligadas ao Milionários, Gressa, Grêmio do Dersul e da AABB, todos ali, pegando na inchada, plantando grama, pintando a cerca, plantando arvores, ajudando de todas as maneiras a fazer com que aquele sonho se tonasse realidade e realmente se tornou.

Quis o destino, que bem na época em que o Clube Tereré foi criado, eu viesse morar em Ponta Porã e não pude participar deste momento importante da historia do futebol de Amambai. Voltei poucas vezes e tive o prazer de jogar com o Vavi nos belos gramados do Tereré, mas com o passar do tempo, a correria do dia a dia e as mudanças que o destino faz em nossa vida, nos afastamos de Amambai e dos amigos que ali deixamos, mas em nosso coração e em nossa memoria ainda tem o registro de quando estreamos o nosso uniforme verde e branco e cada um com a sua camisa 10.

Em Amambai, penso que poucas são as pessoas que não conheça o Vavi e as suas historias e a pessoa boa que sempre foi.

Naquele momento da nossa despedida, ali, entre tantos amigos, que jogamos futebol de campo, futebol suiço e futsal juntos, fosse em campeonatos amador, inter-vilas, copa Radiojornal ou TEPESA (Torneio Edmondo Pereira dos Santos), evento oficial da cidade e tantas Copas Morenas, ficou uma certeza: aos poucos estamos perdendos os nossos amigos queridos, a cada ano que passa a nossa lista diminui um pouco e só temos uma certeza, que o nosso nome está nessa lista e não vai demorar muito pra sermos convidados a fazermos essa viagem sem volta. Como dizia o senhor Antonio Delgado, pai do Vavi e um grande sábio: “a ‘mala’ tem que estar pronta e que esteja bem cheia de boas amizades, ações e companheiros, sempre na presença de Deus.”

Vai com Deus meu amigo e irmão.

De uma roda de tereré nasceu um grande clube em Amambai

De uma roda de tereré nasceu um grande clube em Amambai

Foto: Amambai Noticias

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