Tânia Borges é presidente do TRE e deve assumir o Poder Judiciário em 2019. Mensagens trocadas entre ela e Admílson Cristaldo apontam que tinham relação próxima.
27/07/2018 12h20 – G1MS
A desembargadora Tânia Borges, presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE), e investiga por suspeita de interferência em julgamento, convidou o tenente-coronel Admílson Cristaldo, preso por corrupção, para chefiar a guarda do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS), a partir de 2019, quando ela deve assumir a presidência do órgão.
O convite foi constatado durante investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sobre o envolvimento de policiais militares com o contrabando de cigarros. Entre os acusados está Admilson Cristaldo.
Em celular apreendido na casa do policial, peritos encontraram troca de mensagens entre o oficial e a magistrada. Em uma das conversas, ela fala sobre a chefia da guarda a partir de 2019 e como Cristaldo deve proceder.
Outras conversas encontradas no celular apreendido na casa do policial mostra que Tânia Borges teria tentado interferir em julgamento de processo envolvendo Dênis Peixoto Ferrão Filho, amigo de Cristaldo e então chefe do Departamento Jurídico do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS).
Conforme a investigação, após o julgamento ter sido adiado duas vezes, o tenente-coronel enviou uma mensagem com um cifrão para o amigo.
Na casa do policial os investigadores também encontraram três notas promissórias assinadas por Dênis em datas próximas ao julgamento, no valor total de R$ 650 mil e um cheque de R$ 165 assinado por Tânia Borges.
Em depoimento, o policial disse que o cheque era a caução para segurar a venda de um carro de luxo, que, conforme a investigação, nunca foi vendido. A produção da TV Morena encontrou o veículo à venda em uma loja de Campo Grande.
Outro lado
O advogado da magistrada, André Borges, disse que a desembargadora não fez nada de ilicíto, mas não falará publicamente sobre a apuração, que deveria ser sigilosa por imposição legal.
O advogado Ivan Gibim, que representa o oficial da PM, também alega sigilo para não comentar o caso, mas afirma que o policial é inocente.
No fim da tarde de quinta-feira (26), o Tribunal de Contas do Estado informou que o diretor jurídico Dênis Peixoto Filho pediu demissão do cargo.
Sob suspeita
O julgamento do caso sobre o qual Tânia e o oficial da PM conversam aconteceu após vistas de desembargadores. Todos os magistrados já sabiam que a votação estava sob suspeita. Três dos cinco réus se livraram da ação.
A corregedoria do TJ-MS, a Procuradoria-Geral da Repúblicae o CNJ abriram investigações para apurar a conduta de Tânia Borges. Os outros desembargadores citados por ela nas mensagens não são investigados.
A desembargadora foi investigada por facilitar a saída do filho dela, Breno Borges, preso por tráfico de drogas, do presídio de Três Lagoas para uma clínica de tratamento de dependentes químicos.
A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul, quer o afastamento de Tânia do cargo de presidente do TRE-MS.

