O 20 de novembro homenageia Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história do país e símbolo da resistência negra à escravidão.
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, passou a ser oficialmente feriado nacional no Brasil após a sanção da Lei 14.759/2023, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A mudança representa a consolidação de décadas de reivindicações dos movimentos negros e reforça a importância da data para a reflexão sobre racismo, identidade e igualdade racial.
O 20 de novembro homenageia Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história do país e símbolo da resistência negra à escravidão. A escolha da data surgiu nos anos 1970, quando grupos do movimento negro buscaram substituir a narrativa centrada no 13 de maio, dia da abolição, por uma memória que valorizasse o protagonismo das pessoas negras, suas lutas e resistências.
A institucionalização do dia avançou gradualmente. Em 2003, a Lei 10.639 tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, incorporando o 20 de novembro ao calendário escolar. Em 2011, a Lei 12.519 reforçou a data como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, ainda sem torná-la feriado nacional. Antes da lei sancionada em 2023, cerca de 1.200 cidades brasileiras já haviam adotado o feriado localmente.
Agora, com o reconhecimento em âmbito federal, o 20 de novembro passa a integrar o calendário nacional com o objetivo de ampliar a reflexão sobre as desigualdades raciais no Brasil. .
Para muitas pessoas, a data carrega um significado profundamente pessoal. A estudante Bianca, de 25 anos, relembra como o processo de aceitação do próprio cabelo foi marcado por inseguranças alimentadas pela falta de representatividade. “Sempre vivi no meio de pessoas que tinham o cabelo totalmente diferente do meu e isso resultou em uma relação não tão boa com o meu cabelo ao longo da minha vida. Eu tinha muita dificuldade em aceitar que meu cabelo não era igual ao das pessoas que estavam ao meu redor, nem as pessoas que eu via na TV”, conta.

Bianca explica que passou a adolescência fazendo progressiva, até decidir interromper o uso de químicas aos 18 anos. A transição, porém, não foi simples. “No início eu tentei apenas parar com a química, mas logo percebi que não teria tanta paciência pra cuidar de um cabelo com duas texturas diferentes e também mexeu bastante com a minha autoestima e foi aí que raspei meu cabelo”, relembra. O momento coincidiu com a formatura do ensino médio, o que, segundo ela, ajudou a enfrentar o julgamento externo.
Apesar do receio inicial, a decisão marcou um ponto de virada. “Senti um pouco de medo de não gostar do resultado e não poder voltar na decisão, mas ainda assim raspei e, felizmente, fiquei muito feliz com o resultado”, afirma.
O processo, diz ela, foi transformador: “É muito complicado crescer em uma sociedade em que seu cabelo não é tão bem aceito porque cria diversas questões, principalmente de aceitação, mas acredito que estar careca me fez me enxergar como uma mulher preta e me aceitar dessa maneira. Foi uma sensação incrível, tanto que passei três anos mantendo meu cabelo raspado antes de deixá-lo crescer. Se olhar no espelho e genuinamente gostar do que vê não é tão simples para pessoas negras, então foi um momento muito especial e que mudou completamente a minha forma de me ver”, concluiu.
Fonte: Topmidianews


