
Não será possível limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C, até o fim do século, se não houver uma transformação profunda na economia e no modelo de desenvolvimento. A avaliação é da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que participou, nesta quarta-feira (07/05), da primeira palestra magna da 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA), realizada em Brasília. Também integraram a atividade o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Carnevalli Durigan, e o cientista e pesquisador Carlos Nobre.
“Não basta triplicar energia renovável ou duplicar eficiência energética. É preciso fazer a transição para o fim do uso de combustível fóssil. Isso não é mágica. Isso é investimento, ciência, tecnologia e persistência”, afirmou Marina Silva. “Prefiro que a gente faça uma transição justa e planejada para o fim do desmatamento e para o fim do uso de combustíveis fósseis do que a gente, não tendo tomado a atitude no tempo certo, ter que ser mudado. É melhor a gente mudar do que ser mudado”, provocou Marina.
A ministra destacou ainda os esforços do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para realizar uma transição justa e inclusiva, com um “novo ciclo de prosperidade que, dessa vez, não deixe ninguém para trás”. Entre as ações apresentadas, ressaltou o compromisso com a meta de desmatamento zero até 2030 para todos os biomas e o alinhamento entre o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Ministério da Fazenda para impulsionar essa agenda.
Como exemplo, citou o Plano de Transformação Ecológica (PTE), lançado oficialmente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na COP 28, em Dubai.
Segundo o Ministério da Fazenda, o PTE prevê um impacto positivo de R$ 396 bilhões na economia do Brasil até 2030 e um crescimento de 3% no Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, caso seja implementado corretamente. A longo prazo, o estudo estima também um impacto de R$ 772 bilhões na economia até 2050. De acordo com a pasta, a estratégia está centrada na inovação tecnológica e no uso responsável dos recursos naturais.
“Não é possível hoje formular política econômica, debater internacionalmente os desafios do mundo, se a gente não trouxer para dentro do debate o desafio socioambiental”, destacou Dario Carnevalli Durigan. “Esse novo ciclo de desenvolvimento tem que estar, necessariamente, por uma questão moral, de justiça, mas também de pragmatismo e crescimento econômico, com o meio ambiente no núcleo central da formulação da política econômica”, afirmou.
Além do Plano de Transformação Ecológica, Dario citou diversos outros instrumentos em curso para promover a transição no Brasil. “Foi aprovada a regulamentação [da reforma tributária] no ano passado, esse ano estamos indo para a parte infralegal e a gente previu o imposto seletivo. Ele vai nos permitir aumentar a carga tributária para o que for fonte poluidora, para o que fizer mal ao meio ambiente e às pessoas”, exemplificou.
Urgência
Para o cientista Carlos Nobre, essa transformação precisa ser rápida. Segundo ele, o planeta está na iminência de um ponto de não retorno cuja consequência pode ser o colapso da própria economia, afetando setores como energia, transporte, agricultura, indústria e infraestrutura. “Se nós passarmos a temperatura de 2 a 2,3 °C, não existe um ‘plano B’ para resolver a emergência climática. Esse é um alerta vermelho para a humanidade, nunca nós humanos enfrentamos algo assim no planeta”, alertou.
Nobre mostrou que as mudanças já estão em curso: 2024 registrou recordes históricos de temperatura dos oceanos e da atmosfera, além de secas, queimadas e eventos extremos cada vez mais frequentes. Ele destacou que esses fenômenos não são naturais, mas causados pela ação humana. Destacou também que estudos recentes apontam um risco real de a temperatura global não voltar a ficar abaixo de 1,5 °C, mesmo com cortes drásticos de emissões.
O cientista alertou ainda para a situação crítica dos principais biomas brasileiros. Se o desmatamento da Amazônia alcançar entre 20% e 25%, e a temperatura global subir para além de 2 °C, até 70% da floresta pode ser perdida, dando lugar a uma savana degradada, com consequências severas para a biodiversidade e o regime de chuvas. Cerrado, Pantanal e Caatinga se encontram em situação igualmente perigosa, próximos ao limite de resiliência, com alterações já visíveis no clima e na paisagem.
Para evitar o colapso, Nobre defendeu como ações urgentes zerar o desmatamento, restaurar biomas, transformar cidades com soluções baseadas na natureza e fortalecer a educação para preparar as novas gerações para lidar com desastres climáticos. “A velocidade da mudança climática requer transformações profundas e imediatas. Precisamos zerar o desmatamento e acelerar a restauração de todos os biomas, só assim evitaremos o colapso”, concluiu.
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