Ressaltar a força do protagonismo feminino no desenvolvimento de soluções frente às mudanças climáticas foi o tema principal da Roda de Conversa – Mulheres que Alimentam, realizada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), na tarde da terça-feira (19). O painel teve a mediação feita por Elisabetta Recine, presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), e a participação dos enviados especiais: Janja Lula da Silva, enviada especial da COP30 para Mulheres e Paulo Petersen; enviado especial para Agricultura Familiar; Roberta Cardoso e Jaqueline Felipe do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Na ocasião, foi apresentado o projeto: “Mulheres que Alimentam”, realizado pela Secretaria-Executiva do Consea. A iniciativa reuniu 16 mulheres de diferentes regiões, movimentos e organizações da sociedade civil de todo o país para dialogar sobre os impactos das mudanças nas suas comunidades e as ações, principalmente em relação aos sistemas alimentares, que tem sido desenvolvidas nos territórios para enfrentamento deste desafio. O projeto consistiu uma oficina que resultou em um documentário e um livro, nos quais foram registradas as distintas realidades dessas mulheres que lutam por sistemas alimentares mais justos.
Não há justiça climática sem a presença das mulheres

- Fotos: Camilla Ceylão – Consea | SGPR
A enviada especial para mulheres, Janja Lula da Silva, relatou sua vivência pelos biomas brasileiros, quando pode conhecer como as mulheres têm enfrentado as mudanças climáticas em cada um dos seis biomas do país. A viagem, realizada ao longo de quatro meses, foi acompanhada das enviadas especiais Jurema Weneck, para Igualdade Racial e Periferias e Denise Dourado, para Direitos Humanos e Transição Justa.
Janja descreveu a experiência de encontrar mulheres de realidades tão distintas, mas unidas pelo mesmo propósito: a proteção das suas comunidades, das pessoas e do meio ambiente. “Nós vimos mulheres que se reinventaram para enfrentar as mudanças climáticas, que protegem as suas sementes tradicionais, mulheres cientistas que acompanham os animais do pantanal, mulheres que fazem a defesa da floresta e que compreendem a importância e o real significado daquele território”. E concluiu: “O entendimento que temos hoje é que não há justiça climática sem a presença das mulheres”. As percepções reunidas durante a expedição foram apresentadas em um documentário e também consolidadas no documento: “Cartas dos Biomas”(entregue ao presidente Lula, ao presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago e à CEO da COP, Ana Toni durante a Cúpula dos Líderes da COP30), que propõe, entre outros temas, práticas de enfrentamento à crise climática.
Mulheres, Agricultura Familiar e agroecologia
Paulo Petersen, enviado especial para Agricultura familiar, destacou a importância de reconhecer o trabalho das mulheres no âmbito da agricultura familiar e ressaltou o quanto suas atividades são pouco valorizadas. “As mulheres sempre foram invisibilizadas e esse ocultamento tem a ver como uma lógica de controle, dominação e disciplinamento da natureza de uma forma geral”.
Paulo destacou ainda que a articulação entre o movimento agroecológico e o movimento feminista tem fortalecido debates essenciais para evidenciar a relevância da participação das mulheres, tanto para o desenvolvimento rural quanto para a resposta às mudanças climáticas. “Esses dois movimentos (agroecológico e feminista) procuram mostrar o trabalho das mulheres, inclusive o trabalho de cuidados domésticos, que não são reconhecidos. Se não fossem eles, essa sociedade não existiria”, finalizou.
Sem Feminismo não há Agroecologia
Roberta Cardoso e Jaqueline Felipe, ambas integrantes da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), apresentaram iniciativas que têm contribuído positivamente para o trabalho das mulheres agricultoras.
Roberta Cardoso que coordena o GT Mulheres da ANA, apresentou a experiência das Cadernetas Agroecológicas, instrumento utilizado por mulheres da agricultura familiar que possibilita a realização de um controle detalhado sobre sua produção e trabalhos diários. As cadernetas também são utilizadas para integrar informações que subsidiam a busca por políticas públicas voltadas à melhoria da vida das mulheres da agricultura familiar. “Essa metodologia é feita por mulheres e para mulheres que também tem esse trabalho invisibilizado e colabora para a construção da autonomia econômica de cada uma delas”, finalizou.
Jaqueline destacou o Programa Quintais Produtivos, no qual as agricultoras recebem apoio financeiro para investir em áreas de cultivo, contribuindo para o aprimoramento dos sistemas alimentares. “As mulheres têm desenvolvido em seus espaços de trabalho alternativas concretas para esses efeitos e essas mudanças são sentidas na sua produção seja nas cidades ou no rural”, destacou.
Elisabetta Recine pontuou que o tema de gênero, associado ao papel das mulheres no enfrentamento da crise climática e na formulação de políticas públicas voltadas tanto à mitigação quanto à adaptação, foi amplamente debatido durante a COP30. Ela destacou ainda que a roda de conversa foi mais uma iniciativa para esses diálogos. “A atividade foi bastante enriquecedora e pode colaborar com esse imenso círculo de articulação para que o tema tenha ainda mais visibilidade e que ganhe prioridade nos processos decisórios”, concluiu.
Fonte: Secretaria-Geral


