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Envelhecimento: como lidar com o tsunami prateado que vem aí

29/12/2016 15h50

Envelhecer tem que ser visto como um privilégio, e não como um fardo.

G1

No que diz respeito à longevidade, a menos que haja uma descoberta científica revolucionária, as novidades não acontecem de uma hora para a outra, mas as mudanças são profundas e não há como detê-las. Uma das megatendências mundiais, e tema já abordado neste blog, é o envelhecimento da população, principalmente nas economias maduras – e, embora o Brasil não esteja no rol dos países mais ricos, vem envelhecendo em ritmo vertiginoso. O resultado desse tsunami prateado vai ter grande impacto no mercado, porque a nova geração de grisalhos tem mais dinheiro no bolso e é mais demandante que as anteriores. Com a expectativa de vida alongada, certamente será nos serviços de saúde que as alterações ocorrerão primeiro.

A consultoria internacional PwC publicou, em outubro, o estudo setorial “Conectados e coordenados: serviços customizados para os idosos”. O levantamento mostra que a abordagem tradicional de assistência à saúde vai ter que ser reinventada devido à curva de envelhecimento da população, com o aumento do número das doenças crônicas. O foco passará a ser na vitalidade, no bem-estar, na qualidade de vida e na prestação de serviços integrados e personalizados. Isso quebra o paradigma atual, de concentração de recursos em hospitais. Eles foram projetados para isolar pessoas com infecções, e não para tratar enfermidades prolongadas e não transmissíveis. Muitos poderiam ser atendidos na própria comunidade e apoiados para viver de forma independente.

O relatório define como “holística” a nova abordagem: “oferecer assistência integrada e individualizada implica a dissolução da divisão clássica entre médicos de família e hospitais, entre saúde física e mental, entre assistência médica e social, entre prevenção e tratamento”. Alimentação adequada, habitação adaptada e acesso a transporte virão a reboque dessa releitura do atendimento ao idoso.

No entanto, o primeiro grande passo a ser dado é ajudar os mais velhos a lidar com doenças crônicas de baixa complexidade. A chave para o sucesso é o que se chama de planejamento colaborativo personalizado: idosos com poucas queixas têm menor contato com profissionais de saúde, por isso é tão importante ouvi-los para abastecer um sistema de dados que registre sua trajetória clínica e os ajude a manter hábitos saudáveis.

Estudo com indivíduos acima de 80 anos num hospital geriátrico canadense mostrou que cada um tomava em média 15 medicamentos por dia, com 8,9 efeitos colaterais. Entretanto, se houvesse acesso 24 horas por dia a serviços de suporte na comunidade, não haveria motivos para manter todos internados. Uma rede de apoio como esta precisa de três componentes básicos: equipes comunitárias multidisciplinares; ambulatórios com especialistas; e serviços em horários não comerciais para casos de urgência.

Envelhecer tem que ser visto como um privilégio, e não como um fardo. O tsunami prateado está chegando, não pode ser detido e as operadoras de planos de saúde já se deram conta da necessidade de mudança. Como a questão será enfrentada vai depender não apenas de uma transformação cultural, mas também de vontade política.

Imagem mostra banheiro adaptado na casa de repouso Bem Cuidar, em Brotas, SP(Foto: Divulgação)