O Teatro Nacional de Brasília se transformou, nesta quarta-feira (17.12), no palco de uma celebração pela luta contra a fome no Brasil. A cerimônia de entrega do Prêmio Brasil Sem Fome reconheceu mais de 40 experiências que, por caminhos diferentes, contribuíram para devolver a milhões de brasileiros o direito mais básico de não sentir fome.
Cada história premiada demonstrou que, quando há compromisso genuíno com a vida e o cuidado com as pessoas, é possível transformar realidades e garantir dignidade às famílias mais vulneráveis do país. Vencer a insegurança alimentar exige decisão política firme, trabalho contínuo e vigilância constante.
A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Valéria Burity, definiu a cerimônia como um momento de celebração de vidas transformadas, não apenas de estatísticas. “Hoje é um momento de celebração da redução da pobreza, da fome e da desigualdade no Brasil. De números que caíram, mas sobretudo de vidas que mudaram para melhor”, afirmou.
Para a secretária, o prêmio reconhece não apenas conquistas, mas um compromisso coletivo de não retroceder e manter o combate à fome no centro da agenda política. Valéria destacou que a fome caiu onde sempre esteve mais presente, como nos lares chefiados por mulheres, por pessoas negras, no meio rural e no Nordeste brasileiro, a região onde mais cresceu a segurança alimentar.
Ao produzir e vender meus produtos, minha renda aumentou, e consigo melhorar a qualidade de vida da minha família”
Empreendedora Faritta Nascimento, sobre o Ceará Sem Fome
A secretária enfatizou que o prêmio reconhece três dimensões fundamentais. A primeira são as experiências locais, que mostram como a política pública ganha força quando chega no território e encontra as pessoas. “Uma das razões deste prêmio é justamente dar visibilidade a essas experiências, permitir que elas circulem, inspirem e se multipliquem pelo país”, explica.
A segunda dimensão é a organização do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, porque enfrentar a pobreza e a fome exige mais do que boas ações isoladas, exige governança, coordenação, participação social e ação intersetorial. E a terceira categoria, que Valéria considera especialmente significativa, é a de redução da fome. “Esse reconhecimento é muito especial porque fala de resultado, fala de impacto. Fala de crianças, mulheres, homens e famílias que passaram a ter comida na mesa, dignidade e perspectiva. A redução da fome não é um dado abstrato, é a vida concreta sendo transformada”, concluiu.
Ceará Sem Fome
Entre as histórias que ganharam vida no palco do Teatro Nacional, está a da Faritta Kamilla Cruz do Nascimento, 38 anos, de Fortaleza. Beneficiária do programa Ceará Sem Fome, ela representava milhões de brasileiros que provaram que, quando a política pública chega com dignidade, vidas inteiras mudam de rumo.
Mãe de quatro filhos, Faritta vivia de faxinas, trabalhos esporádicos, sempre na incerteza do dia seguinte. “Antes, eu trabalhava de forma autônoma, fazendo bicos. Fazia faxinas e outros trabalhos para garantir o sustento diário. Era uma situação difícil”, relembra.
A renda instável mal dava conta de alimentar a família, e qualquer sonho de profissionalização parecia distante demais para ser real. Foi quando o Ceará Sem Fome chegou oferecendo não apenas comida, mas cursos de qualificação profissional. “Antes, não tínhamos condições de pagar por esses cursos. O Ceará Sem Fome surgiu com essa oportunidade, permitindo profissionalizar e até mesmo iniciar nossos próprios negócios”, conta.
Hoje, Faritta tem seu próprio negócio. Produz pudins, tortas de abacaxi e alfajores que vende porta a porta, pelo WhatsApp e pelo Instagram. “Atualmente, tenho meu próprio negócio, após concluir o curso oferecido pelo programa. Sou empreendedora e produzo sobremesas para venda”, disse, com orgulho.
A renda aumentou, a qualidade de vida da família melhorou, e a dignidade de ser empreendedora substituiu a angústia dos bicos. “Agora, com a possibilidade de produzir e vender meus produtos, minha renda aumentou, e consigo melhorar a qualidade de vida da minha família”, completou.
Estar em Brasília, recebendo o prêmio e representando os beneficiários, era algo que ela jamais imaginou viver. “Agradeço a Deus por ter colocado as pessoas certas para tornar este programa um sucesso, proporcionando aos cearenses uma vida melhor, com alimentação de qualidade e oportunidades de qualificação profissional, algo que antes não tinha”.
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Bom Prato
Em Pernambuco, a decisão de enfrentar a fome com estrutura e planejamento resultou na criação de uma secretaria executiva dedicada exclusivamente ao combate à insegurança alimentar. Felipe Gabriel Gomes de Medeiros, secretário-executivo de Combate à Fome do governo estadual, explicou que a reestruturação administrativa foi essencial para dar conta da escala do desafio.
“No início de 2024, a governadora considerou necessário reestruturar a política estadual de segurança alimentar, reconhecendo que ela havia crescido em escala, ultrapassando a capacidade administrativa do estado. A estrutura existente não comportava a complexidade das ações que se pretendia implementar”, relata.
O programa Bom Prato, carro-chefe da política estadual, opera atualmente por meio de 246 cozinhas comunitárias em parceria com os municípios, além do apoio a 62 cozinhas solidárias. “Atualmente, o programa Bom Prato atende cerca de 50 mil pessoas diariamente, em todo o estado, desde o litoral até o sertão”, destaca Felipe.
Iniciativas transformadoras
Alagoas chegou à cerimônia do Prêmio Brasil Sem Fome carregando uma transformação que poucos estados conseguiram realizar em tão pouco tempo. Kátia Born Ribeiro, secretária de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social, lembra que o cenário era desafiador quando o trabalho começou. “Em 2023, após um período de instabilidade governamental, pesquisas de diversos institutos revelaram que Alagoas era um estado com altos índices de extrema pobreza”, relata.
A resposta veio na forma de articulação intersetorial, com a criação dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional em todos os municípios e o envolvimento direto do governador junto a comunidades quilombolas, indígenas, ciganas, agricultores familiares e pescadores.
Os resultados chegaram rápido. O número de famílias no Cadastro Único caiu de 534 mil para 500 mil, reflexo da combinação entre qualificação profissional e programas de transferência de renda. “Ainda temos oito municípios com insegurança alimentar, uma redução significativa em relação aos 36 que tínhamos”, comemora Kátia.
O estado já mapeou os municípios que ainda enfrentam o problema e está reunido com prefeitos e prefeitas para tratar da situação de rua, das pessoas que ainda não estão no Bolsa Família e daquelas que ainda não se qualificaram. “Nossa meta é, até o final de 2026, erradicar a extrema pobreza no estado de Alagoas e continuar aprimorando os indicadores de pobreza”, afirma a secretária.
Sergipe entrou para a história ao lado de Roraima como os primeiros estados brasileiros a alcançar 100% de adesão dos seus municípios ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). Luiz Campos, secretário-executivo da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional de Sergipe, define o momento como único.
“É uma honra, para nós, receber esta menção honrosa, reconhecendo a adesão de 100% ao Sisan. Esse resultado é um reflexo dos esforços conjuntos do Governo do Estado e do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Sergipe, que visam fortalecer os mecanismos de controle social e combater a fome”, celebra.
Para Luiz, a conquista revela que a articulação entre governo e sociedade civil, quando bem estruturada, produz resultados concretos. O estado apostou na diversidade de ações, do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) às cisternas, da produção agrícola às cozinhas solidárias e comunitárias. “Observamos a relevância do PAA, a importância das cisternas, o impacto da produção agrícola, as cozinhas solidárias e as cozinhas comunitárias. Todas essas ações representam intervenções de grande alcance regional, que, somadas, geram um impacto nacional significativo”, explica o secretário.
Prêmio Brasil Sem Fome
Organizada pelo MDS, a iniciativa tem como objetivo destacar experiências bem-sucedidas e políticas públicas municipais e estaduais que contribuíram de forma concreta para a redução da insegurança alimentar e nutricional em todo o país. A premiação reconhece ações inovadoras que fortalecem o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) e ampliam o acesso ao direito humano à alimentação adequada, especialmente em territórios de maior vulnerabilidade social.
Assessoria de Comunicação – MDS
Fonte: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome


