Índice de Estigma 2025 revela que 50% das pessoas vivendo com HIV no Brasil já sofreram discriminação

Foi lançado nesta quinta-feira (8) o Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV 2025. A iniciativa contou com o apoio do consórcio de pessoas vivendo com HIV e AIDS, da UNAIDS, ONG Gestos, PUC-RS e da Secretaria-Geral da Presidência da República (SGPR).

Conduzido em sete capitais brasileiras — São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Recife, Brasília e Manaus —, o levantamento revela dados sobre a persistência do estigma, da discriminação e das violações de direitos humanos que ainda impactam diretamente a vida das pessoas vivendo com HIV no país, mesmo depois de 40 anos de resposta ao HIV.

Participaram do lançamento representantes da sociedade civil, do governo, da academia e de organismos internacionais comprometidos com a resposta ao HIV e à AIDS no Brasil.

Na abertura do evento, a secretária nacional de Diálogos Socias e Políticas Públicas da SGPR, Kenarik Boujikian, relatou sua experiência como recém-formada em Direito, quando alguns profissionais resistiam a atender pessoas com HIV e Aids no sistema prisional paulista.

“Se naquele momento, quase 40 anos atrás, a discriminação era muito forte, os dados estão mostrando que ela ainda existe e nós temos muito que avançar”, disse a secretária.

Também integrante da mesa de abertura, o secretário-executivo da Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS), Lavito Bacarissa, lembrou o compromisso do governo federal com a cooperação e multilateralismo pra avançar no contexto complexo atual. “A comissão trabalha na priorização da Agenda 2030, que é uma agenda de consenso entre mais de 190 países”, afirmou.

O enfrentamento do HIV/AIDS faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, correspondendo ao ODS 3:  Saúde e Bem-estar. Uma de suas metas visa acabar com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite e outras doenças transmissíveis até 2030.

O evento foi transmitido ao vivo pelo canal da Secretaria-Geral da Presidência da República no YouTube e continua disponível para acesso:  www.gov.br/sg/stigmaindex.

Principais dados apresentados: 

  • 52,9% das pessoas entrevistadas já sofreram discriminação em função da sorologia ao longo da vida;
  • 34,8% relataram discriminação dentro da própria família;
  • 46,1% não têm certeza ou sabem que seu estado sorológico não é mantido em sigilo nos serviços de saúde;
  • 13,1% foram tratadas de forma discriminatória em serviços de saúde nos últimos 12 meses;
  • 29,1% demonstraram sintomas de depressão e 41,2% relataram sintomas de ansiedade relacionados ao estigma.

Histórico – Em 2021, os Estados-membros das Nações Unidas adotaram um conjunto de metas ambiciosas como parte da Declaração Política aprovada na Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre AIDS, entre elas a meta 95-95-95: que 95% das pessoas que vivem com HIV conheçam seu diagnóstico; que 95% das pessoas que sabem que vivem com HIV estejam em tratamento antirretroviral; que 95% das pessoas em tratamento estejam com a carga viral suprimida.

Em 2024, o Brasil alcançou 96-82-95, duas das três metas globais para eliminação da AIDS como ameaça à saúde pública. A meta que ainda não foi alcançada, de adesão, está diretamente relacionada ao enfrentamento do estigma e da discriminação. 

“Desde 1995, quando lançamos a campanha ‘O preconceito é o pior sintoma da AIDS’, a Gestos vem denunciando os impactos do estigma sobre as pessoas que vivem com HIV. Essa pesquisa, construída e realizada por pessoas vivendo com HIV, é um marco importante: um instrumento de incidência política e de fortalecimento de políticas públicas que enfrentam o estigma com base em evidências e justiça social”, avalia Jô Meneses, coordenadora de educação e assistência da ONG Gestos.

Inovação – A edição 2025 também inova ao incluir pela primeira vez dados sobre os efeitos das crises climáticas e da pandemia da Covid-19 no acesso à saúde das pessoas vivendo com HIV:

  • 82,1% ainda não haviam recuperado sua renda familiar após eventos climáticos extremos;
  • 20,5% enfrentaram dificuldades para obter medicamentos devido a esses eventos;
  • 27,3% tiveram a consulta médica para acompanhamento do HIV cancelada ao menos 1 vez.

Apesar de alguns avanços, o estigma e a discriminação seguem como grandes barreiras no cotidiano das pessoas vivendo com HIV no Brasil. O estudo reforça a urgência de políticas públicas que assegurem o direito ao sigilo, promovam o acesso igualitário à saúde e combatam o preconceito em todos os espaços sociais.

“Questão de gênero, classe social, trabalho, cor, identidade e orientação sexual ainda persistem. Para acabar com a AIDS, precisamos promover um país sem estigma e discriminação – e o Índice de Estigma é uma ferramenta que traz evidências de como a discriminação atua como uma barreira para acesso a serviços”, pontua Andrea Boccardi, diretora e representante do UNAIDS Brasil. 

Fonte: Secretaria-Geral