Segundo o estudo, dos 78 municípios do Estado analisados, 73 apresentam déficit de armazenagem.
Um estudo elaborado pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS) apontou que o Estado enfrenta um problema de falta de estrutura para armazenamento total de grãos colhidos.
Com uma produção média de soja e milho que ultrapassou 22 milhões de toneladas nos últimos cinco anos, Mato Grosso do Sul enfrenta um déficit de armazenagem superior a 11 milhões de toneladas.
De acordo com o levantamento, a capacidade de armazenamento no Estado é de 16,4 milhões de toneladas, enquanto a necessidade estadual chega a 27,5 milhões de toneladas, conforme os parâmetros da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Essa diferença de 67,8% obriga muitos produtores a venderem suas safras logo após a colheita, impedindo de esperar por preços melhores do mercado.
Ritmos em desencontro
A análise mostrou que, mesmo com pequenos avanços, o ritmo da capacidade de armazenamento dos grãos não acompanha o crescimento da produção agrícola.
Entre 2014 e 2025, a capacidade de armazenagem saltou de 9,01 milhões para 16,39 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 82%. No mesmo período, a produção cresceu 69%, saindo de 17,23 milhões para 29,11 milhões de toneladas.
A consequência disso foi o aumento do déficit de armazenagem de 8,25 milhões para 12,72 milhões de toneladas, um crescimento de 54%. Em 2023, foi registrado o déficit recorde da série, de 21,23 toneladas, após uma safra excepcional.
Para o secretário de Estado de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, esses números revelam uma oportunidade de investimentos para produtores, cooperativas e indústrias.
“O Governo de Mato Grosso do Sul tem direcionado esforços para estimular a armazenagem em propriedades rurais, especialmente por meio de linhas de crédito como as do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). O FCO se mostra vantajoso por oferecer prazos mais longos e taxas de juros competitivas, aspectos cruciais para o financiamento de projetos de armazenagem”, explica.
Ele também defende a retomada, em maior escala, de modelos de financiamento usados no passado, como as linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltadas à armazenagem.
“Atualmente, a construção de armazéns com recursos baseados na taxa Selic inviabiliza economicamente o empreendimento”, comenta.
Segundo o estudo, dos 78 municípios do Estado analisados, 73 apresentam déficit de armazenagem. Maracaju, o maior produtor de grãos de MS, registra um déficit de 1,32 milhão de toneladas.
Já Dourados é um dos poucos com superávit, sendo o município com a maior capacidade de armazenamento, com 2,35 milhões de toneladas.
Isso revela que o problema do déficit de armazenamento é generalizado e afeta a grande maioria dos municípios produtores, sendo mais crítico nos maiores polos produtores do Estado.
As projeções apontam que, sem novos investimentos, o déficit de armazenamento tende a se agravar com o crescimento da produção agrícola. A expectativa é de que a safra nacional de grãos atinja 350,2 milhões de toneladas em 2025, um aumento de 16,3% em relação ao ano passado.
“Se a capacidade de armazenamento não acompanhar o ritmo de crescimento da produção, o déficit atual se tornará ainda mais severo, limitando o potencial de crescimento do agronegócio no Estado. A manutenção do cenário atual, sem novos investimentos significativos em armazenamento, pode levar a perdas pós-colheita, aumento dos custos logísticos e redução da rentabilidade para os produtores”, afirmou a diretoria da Aprosoja/MS.
Diante disso, Verruck ressaltou que apoiar os produtores é fundamental, especialmente facilitando o acesso a recursos como o FCO.
“Essa medida representa um caminho promissor para os produtores locais, com potencial para aprimorar significativamente a formação de preços no Estado, configurando-se como uma questão estratégica”, reforça Jaime.
Outro problema destacado pelo estudo é o risco de perdas pós-colheitas evidenciados com a falta de expansão de infraestrutura, que afeta os custos logísticos e a pressão sobre o escoamento da produção.
A malha viária de Mato Grosso do Sul, embora conte com importantes rodovias, como a BR-163 e a BR-262, ainda apresenta desafios para um escoamento eficiente da safra, já que, em muitas regiões, os produtores precisam percorrer longas distâncias para estocar seus grãos devido à distância entre as áreas produtoras e os armazéns. Isso eleva os custos com frete e aumenta as perdas no transporte.
Para o secretário da Semadesc, o estudo evidencia a urgência de enfrentar o problema de armazenamento para garantir o crescimento sustentável do agronegócio em Mato Grosso do Sul.
“Há ações em curso, como o apoio ao produtor rural por meio do FCO e o suporte às cooperativas via Procoop, que visam aproveitar áreas de expansão, promovendo o desenvolvimento da infraestrutura de armazenagem. Projetos como a reativação da malha ferroviária, o uso da hidrovia do Rio Paraguai e a implementação da Rota Bioceânica são estratégicos para diversificar os modais e ampliar a competitividade do Estado”, afirma Verruck.
Expansão
Em julho deste ano, o governo do Estado anunciou apoio aos investimento de R$500 milhões da empresa Coamo para ampliar a indústria e construir novos armazéns.
Conforme a gestão estadual, a empresa pretende expandir sua unidade de processamento de soja em Dourados e construir mais três armazéns nas cidades de Sidrolândia, Amambai e Dourados.
Jaime Verruck detalhou que a ampliação da fábrica da Coamo localizada em Dourados terá um investimento de R$200 milhões.
Atualmente, a planta que tem capacidade de processamento de 3 mil toneladas de soja por dia, e após ampliação, vai passar para 4 mil toneladas/dia. Já os novos armazéns serão construídos nos demais municípios, com previsão de investimento de R$80 milhões em cada um.
“No caso da Coamo eles ainda avaliam a expansão agrícola que o Estado tem, com espaço para ampliação na produção de soja. Além dos nossos investimentos em infraestrutura e logística para melhorar as estradas, rodovias e acessos”, expressou o secretário na ocasião.
Maior safra
Dados atualizados do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS) apontam que Mato Grosso do Sul caminha para colher a maior safra de milho da história.
Os dados apontam que a segunda safra 2024/2025 deve atingir 14,226 milhões de toneladas, superando o recorde anterior registrado no ciclo 2022/2023, quando foram colhidos 14,220 milhões de toneladas do grão.
A safra da soja também apresentou um aumento acima da média. Dados consolidados da última colheita mostraram que o Estado colheu 14,160 milhões de toneladas.
Fonte: Correiodoestado