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terça-feira, 19 de março, 2024
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Mais uma vez, a comida aparece como vilã e pressionada até o fim do ano, dizem analistas

Dólar em alta, oferta ainda escassa esses produtos por causa da entressafra e o auxílio emergencial.

Pelo menos até o final do ano, o brasileiro vai ter de conviver com a alta dos preços dos alimentos básicos, como arroz, carnes, óleo de soja e feijão. 

Dólar em alta, oferta ainda escassa esses produtos por causa da entressafra e o auxílio emergencial, mesmo pela metade, garantindo o consumo dos mais pobres, são fatores apontados por economistas e varejistas para que os preços dos alimentos continuem subindo.

Mais uma vez, a comida apareceu como vilã: em outubro, a informação ao consumidor subiu 0,94%, pela prévia do índice oficial, o IPCA-15, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Foi a maior alta do indicador para o mês desde 1995 e o resultado ficou acima do esperado pelo mercado. Alimentos e bebidas conhecidas 2,24% mais caros e responderam por 50% da alta.

A notícia de supermercados, onde estão concentradas como vendas sobretudo de alimentos, confirma a pressão. Em setembro, a publicação dos supermercados no Estado de São Paulo, apurada pela Fipe, atingiu 2,2%. 

Foi a maior variação para o mês em 26 anos e o equivalente ao acumulado no passado até setembro, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas).

Tanto no IPCA-15 como no índice dos supermercados, óleo de soja, arroz e carnes lideraram os aumentos, com altas de 22,34%, 18,48% e 4,83%, respectivamente na prévia da informação deste mês. 

“Achamos que no caso dos grãos o cenário não deve mudar até o início de 2021, para quando está previsto aumento da safra”, diz o presidente da Apas, Ronaldo dos Santos.

André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz acreditar que não há indicações de radar de que os preços da carne, do arroz e do feijão vão recuar. 

“Há chance de esses produtos subirem mais até o final do ano e melhora só em 2021 com novas safras e as expectativas, quem sabe, de uma taxa de câmbio menor.” 

As primeiras prévias de outubro indicam que os alimentos continuam subindo cerca de 2% este mês. No ano, um alto dos alimento chega perto de 10%.

“A produção de alimentos demora a ser ajustada, é diferente da manufatura”, observa Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. Esse seria, na sua avaliação, outro fator que indica que a informação necessária continuar subindo acima do índice geral de informação até dezembro. 

“Vamos ter picos nos alimentos, mas não vejo sustentabilidade por falta de demanda mesmo.”

Omar Assaf, diretor da Apas, diz que as vendas em geral nos dois últimos meses desaceleraram nos supermercados. “O bolso do consumidor vai limitar essa tendência de alta”, diz.

Efeitos

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, ressalta que boa parte do repasse de preços do atacado para o varejo ainda está por vir. 

“A alta de preços está mais espalhada e chegando a outros itens, além dos alimentos. Com a pandemia, muitos produtores pisaram no freio e a demanda por itens para o domicílio subiu com o auxílio emergencial.”

“A informação de alimentos tem importantes, pega como camadas mais populares, justamente em um momento de redução do valor do auxílio emergencial, é um impacto muito difícil”, avaliando a consultora econômica Zeina Latif. 

Segundo ela, há também um efeito macroeconômico que deve ser monitorado: os preços de alimentos, por terem muita visibilidade, contaminam outros preços.

“É difícil para as empresas não repassarem os preços e é preciso acompanhar o comportamento da política do Banco Central podem ter de mudar. Também acende um alerta para uma discussão da questão fiscal”, diz ela.

Para o ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, José Júlio Senna, o aumento da dívida pública é a questão que mais preocupa para o ano que vem. 

“Não é possível prever o momento em que o desequilíbrio fiscal detonaria conforme as expectativas de retorno da informação, mas sem uma política fiscal, não existe uma política monetária viável.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.