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Médicos reprovam ‘ousadia e alegria’ de Neymar no Carnaval

Em busca de respostas para dúvida que causou burburinho durante folia, reportagem ouviu especialistas sobre conduta do brasileiro nas festividades

09/03/2019 08h30 – Lance

Desde o ano passado, Neymar tem o quinto metatarso mais famoso do mundo. Em 27 de janeiro, o craque voltou a sofrer uma fratura no mesmo osso do pé direito que operou em março de 2018, antes da Copa do Mundo. A lesão do jogador voltou ao centro das atenções neste Carnaval, quando o atleta foi visto caindo na folia durante seu tratamento. Assim, de jornais europeus a torcedores, muitos se perguntaram: teria sido o atleta irresponsável? O Carnaval poderia ter atrapalhado sua recuperação?

O brasileiro chegou ao seu país natal na última quinta-feira, 28 de fevereiro, acompanhado de dois profissionais do departamento médico do Paris Saint-Germain, Rafael Martini e Ricardo Rosa. Àquela altura, o jogador estava na quinta das 10 semanas de tratamento previstas pelo clube francês. Na madrugada do último sábado (2), Neymar foi visto como folião pela primeira vez, em um camarote em Salvador, três dias após abandonar as muletas.

Para o cirurgião ortopedista e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Vinícius Magno, com cinco semanas, a lesão no tecido ósseo tratado por células tronco — procedimento escolhido em detrimento do cirúrgico, pelo PSG, ainda não cicatrizou completamente. De acordo com o médico, embora uma cicatriz imatura já seja esperada na maioria dos pacientes nessa fase, a formação de um osso lamelar (mais duro) capaz de suportar cargas, provavelmente, ainda não ocorreu neste período.

“Com cinco semanas, uma pisada no pé ou um mero tropeço — eventos que podem ocorrer no aglomerado de pessoas — colocariam todo o planejamento terapêutico de um atleta como Neymar em risco, retrocedendo as etapas conquistadas na penosa reabilitação, ou mesmo, num pior cenário, condenando-o ao tratamento cirúrgico e um afastamento maior dos gramados. Além disso, o longo período de pé, sobrecarrega as porções mais anteriores dos pés (onde estão os metatarsos), reduzindo a qualidade da vascularização para aquela região, o que, em última instância, reduz a chegada de nutrientes e oxigênio tão importantes para a cicatrização óssea”, explicou o médico.

Um dos vídeos da “curtição” do ex-jogador do Santos gerou uma grande repercussão. O craque brasileiro aparece, em salvador, dançando muito, descendo até o chão e sem o auxílio de qualquer aparato ortopédico que pudesse ser identificado na imagem. A atitude vai na contra-mão das precauções que, segundo José Martins Juliano, membro da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte, o jogador deveria ter tomado.

O profissional concordou que as cincos semanas são insuficientes para “curtir a folia” e lembrou que, por tratar-se de uma segunda fratura no mesmo local, é necessário ainda mais cuidados:

“Em cinco semanas, apenas metade do período previsto, a lesão com certeza ainda não consolidou. E por tratar-se de uma refratura, a precaução deve ser ainda maior. Isso significa a limitar a carga, ou seja, não fica muito tempo de pé, se movimentando ou exercendo qualquer pressão sobre o local. Ele pode caminhar? Sim, com o auxílio de uma órtese (aparelho externo para imobilização) ou uma bota ortopédica”, disse.

Em que fase do tratamento, portanto, o jogador poderia curtir o recheado Carnaval brasileiro, da Bahia ao Rio de Janeiro — onde também foi avistado num camarote da Sapucaí, na terça-feira (5) — sem riscos de agravar a lesão no quinto metatarso? Sobre a questão, José Martins foi catedrático:

“O bom senso, principalmente se tratando de um jogador profissional, diz que ele pode ser liberado para esse tipo de atividade apenas quando a fratura estiver consolidada. Até a quarta semana, restringe-se toda a carga. Da quarta a oitava semana, o paciente inicia com a carga parcial, muitas vezes com muleta, obrigatoriamente com bota ortopédica. Só depois disso, ele pode suportar seu peso sem auxílio, e portanto, frequentar ambientes festivos”, disse.

Jornais europeus não perdoam folia

O L’Equipe, jornal do país onde Neymar reside atualmente, foi irônico ao criticar o jogador: “A lesão no pé ocorrida contra o Strasbourg, na Copa da França, forçou Neymar a parar de driblar nos campos, mas não pode pará-lo de dançar no Brasi”.

O inglês Daily Mail também foi ácido: “A estrela do Paris Saint-Germain e do Brasil mostrou poucos sinais de seu metatarso quebrado, enquanto dançava a noite toda no ritmo de samba”. Ainda na Inglaterra, o Daily Mirror publicou: “Neymar festeja Carnaval no Rio no Brasil enquanto seus companheiros se preparam para enfrentar o Manchester United”

O brasileiro voltou à França a tempo de ver o Paris St-Germain ser eliminado pelo Manchester United na quarta-feira, no último lance do jogo. As reações do craque, tanto nas tribunas, quanto nas redes sociais — ao protestar contra a arbitragem pela marcação do pênalti que culimou na queda do PSG – repercutiram na web.

Neymar curtiu o Carnaval no Rio e em Salvador cercado dos parçasSergio Moraes/Reuters

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