Nova Andradina: Saudosas tardes de domingo: Sena campeão de 1992

 A vida sempre nos apresenta algumas surpresas, umas ruins e até desagradáveis, e outras muito agradáveis.

Quis o destino que depois de ter saido da nossa querida e amada cidade de Nova Andradina em 1983, eu Tião Prado, já mais experiente no rádio e na ocasião já narrando futebol, retornasse a Nova Andradina nos idos de 1992, e para minha satisfação no dia em que cheguei na cidade fui procurar o meu amigo de infância Gerson Lopes, e neste momento estava em seu escritório o gerente da Rádio Cacique AM, Paulo Renato, e o Sena (Sociedade Esportiva Nova Andradina), na época estava classificado para a segunda fase do campeonato Sul-mato-grossense, e neste momento o Gerson me apresentou ao Paulo Renato e disse que eu narrava futebol ,e como a rádio estava precisando de um narrador, de imediato acertamos uma conversa e passei a fazer da equipe de esportes da rádio.

O narrador oficial Antônio Tomaz estava afastado, pois tinha sido candidato a vereador, mas voltou em seguida, então fui fazer a reportagem de campo ao lado do Marcos Donzeli, e foi ótimo, pois pude acompanhar a grande conquista do Sena, o titulo de campeão estadual justamente em cima do ‘poderoso’ Operário em pleno Morenão, e até hoje não me perdoou por não ter saído nessa foto do time do Sena, estava ao lado e tinha acabado de entrevistar o Valter Ferreira, e até pensei, vai sair na placar a foto do Morenão, naquela eu sai, mas foi essa que ficou na mente de torcedores do Sena.

Neste domingo 19/12/2022, recebi o artigo abaixo escrito por Claudinei Araújo dos Santos, Doutorando em História – UFGD e que foi publicado no site Jornaldanova.com.br, e como fui citado neste importante texto achei interessante publicar aqui em nosso portal de noticias e claro colocando uma ‘pitada’ da minha história no rádio, onde estou a 43 anos.

Participei das transmissões em Maracaju, Dourados, Três Lagoas Nova Andradina e Campo Grande.

Lembro-me como se fosse hoje, quando no dia 19 de dezembro de 1992, um sábado à tarde, o repórter da Rádio Difusora Cacique de Nova Andradina-MS, anunciava ao pedido do Narrador Antônio Thomás: “o SENA vem a campo aqui no Estádio Morenão, com, 1. Moacir, 02 Menoni, 03 Modesto, 04 Douglas, 05 Fabinho, 06 Flávio Miranda, 07 Júlio César, 08 Gilberto, 09 Nilson Aragão, 10 Marcos Paulo e 11 para o ligeiro ponta esquerda Marco Antônio. Lembro-me ainda de ter 12 anos de idade naquele ano, já era próximo do Verão e juntamente com meu pai acompanhava todas as tardes o treino da Sociedade Esportiva Nova Andradina.  

É preciso aqui referenciar sobre aqueles que faziam a emoção do jogo por meio da Rádio Difusora Cacique, na narração dos jogos Antônio Thomáz, com os comentários de Chiquinho Migliori (In Memorian) e Paulo Roberto, Repórteres Tião Prado e no começo de carreira no rádio, Marcos Donzeli, bastante jovem e com pouco mais de um ano na profissão, na equipe da rádio ainda tinha a Maurinha Rodrigues na técnica e o Jota Silva no plantão, eram componentes essenciais que precisam ficar na memória de todos/todas nós torcedores e torcedoras. (Ainda se faz necessário agradecer ao agora veterano repórter Marcos Donzeli que nos auxiliou com algumas informações).  

Eram tardes fantásticas ao lado de meu pai, sentávamos sempre sozinhos na arquibancada do Antigo Estádio Luís Soares Andrade, mas, do outro lado estavam ícones fantásticos que conviviam desde a fundação do SENA, sendo que um dia havia trocado o lado de sentar nas arquibancadas do Estádio e juntamente com meu velho pai, ouvimos da boca de um dos primeiros atletas do SENA, o goleiro Mandi: “Vocês sabem porque chama SENA? Eu vou contar. Estávamos formando o time e tinha um francês no time, e não sabíamos qual nome daríamos. Então o francês, disse, olha na minha cidade tem um rio, chamado Sena, poderíamos homenagear o rio de minha cidade. Então demos o nome de Sena, que culminou depois a homenagem ao Rio Sena com Sociedade Esportiva Nova Andradina”.

As memórias que carrego após 30 anos do SENA, como todos e todas chamavam, são as melhores, recordo ainda que no ano anterior Nova Andradina, o SENA já havia chegado perto das finais, era um time muito bom, porém não conseguiu passar pelas finais. Voltamos então aos memoráveis, Rejão, Lili, Ercílio (os três in memorian), Donizeti Pé duro, todos os dias estavam sentados naquela arquibancada por volta das 15 horas, e ali rolavam as melhores resenhas, papos, risos, e claro, a cornetagem do repórter Edson José que atuava como assessor de Imprensa da Sociedade Esportiva Nova Andradina, contudo estava afastado da Rádio Difusora Cacique devido ter participado das eleições municipais à vereador. Volto a dizer, as tardes sempre divertidas, e quando os resultados não eram positivos o barulho era grande, afinal, eram muitos os treinadores nova-andradinenses para cornetar o verdadeiro técnico Valter Ferreira.  

Lembro-me de o time não ter começado bem o campeonato, no entanto, a chegada do treinador acima citado e a vinda de diversos jogadores solicitado pelo mesmo contribuiu para a transformação, e, é claro, o mais fantástico deles, foi o já experiente filho da casa, Nilson Aragão, que aos 30 anos resolvia pedir licença ao Internacional de Porto Alegre para servir ao time de sua casa, em poucos jogos se tornou o artilheiro do campeonato com 10 gols, e levando a Sociedade Esportiva Nova Andradina, ao título de Campeão Estadual.

A marca daquele ano foi formidável, uma vez que o jogo aconteceu em um de sábado, ressalto 19 de dezembro de 1992, dia muito ensolarado e bonito na cidade de Campo Grande-MS, tendo o time sido acompanhado por diversos torcedores de Nova Andradina. As recordações que tenho, ainda me trazem que estava sentado à frente de casa com meu pai com seu Moto Rádio a pilha no colo, e que logo no início do jogo tomamos um susto quando o Operário de Campo Grande, abriu o placar, contudo, com dois gols do indelével atacante Nilson Aragão e um do meio campista Gilberto, a Sociedade Esportiva Nova Andradina virou o placar e conquistou seu único título de Campeão Estadual de Mato Grosso do Sul.  

Se durante a semana era legal os treinos, fantásticas eram as tardes de domingo. Como esquecer o barulho dos instrumentos de percussão tocados pelos jovens garotos que frequentavam a arquibancada? Samuel – 22 – Seu Irmão Xexéu, entre vários outros que faziam o barulho aumentar e a torcida cantar. Como esquecer da torcida gritando, Sena, Sena, Sena? Como esquecer do Hino do time, Sena, Sena, do meu coração, é o Tigre do Vale? (Interpretação de Marcelo – músico que ainda hoje mora no município de Nova Andradina). Como esquecer da camisa Branca e/ou da Camiseta em listas brancas e pretas que faziam parte do uniforme da Sociedade Esportiva Nova Andradina? Impossível esquecer do nosso querido Mamédio que todas as tardes estava no estádio para assistir os treinos, além de escrever interessantes artigos sobre o SENA para a Gazeta Esportiva e também do Clóvis da Farmácia básica de Nova Andradina, filho do primeiro farmacêutico de nossa cidade, Clóvis foi jogador do SENA na formação das primeiras equipes juntamente com tantos outros que foram fazendo a história do time e da nossa cidade.

Aquele ano foi memorável, dia 19 de dezembro de 1992, lá se vão trinta anos desse grande momento futebolístico, não podemos é claro esquecer do imprescindível papel do Presidente do Time, Márcio Pezão e do radialista Andrade, que com muita persistência atuaram para esse acontecimento, e de forma peculiar, pelo fato de que no dia seguinte, 20 de dezembro de 1992, Nova Andradina, a menina cidade sorriso, completava 34 anos de fundação, era um belo presente de aniversário.  

Desta forma, 30 anos após essa grata felicidade Nova-andradinense, não contamos mais com o Tigre do Vale, algumas situações muito peculiares trouxeram ao fim do time, da Sociedade Esportiva Nova Andradina, lembrando que no ano seguinte o time sequer foi disputar a Copa do Brasil, faltou possibilidades financeiras para manter, foi tentado em algumas outras vezes reerguer o SENA, 1998, quando se formou uma equipe razoável do profissional e um ótimo time de Juniores, inclusive conquistando olhares de times de fora do Estado, contudo, no ano seguinte um grupo vindo do Estado de São Paulo não conseguiu manter esse time de jovens da casa e vários garotos de Taquarussu e Amandina.

Importante lembrar que no ano de 2002 tivemos a oportunidade de com um grupo de jogadores da casa participarmos do Campeonato Estadual, o time começou bem, contudo, faltava condições financeiras, de trabalho, eram pratas da casa, trabalhadores da construção civil, dos frigoríficos, de supermercados, hotelaria, etc, não foi possível dar continuidade. Sequencialmente ainda tentaram voltar o time criando o CENA, no entanto, esbarraram novamente na falta de condições financeiras, e claro, foi uma oportunidade para um dos heróis de 1992, Nilson Aragão, se tornar treinador do time.  

Vejam bem, passaram-se trinta anos do título de campeão estadual sul-mato-grossense, quantos nomes deveriam ser citado aqui para falar da Sociedade Esportiva Nova Andradina, muitos já in-memorian, lembro-me daquele que foi zagueiro do SENA amador, Canela, filho do Sr. José Dias que também foi jogador do SENA nos idos dos anos de 1970, do velho Gomes, talvez o e melhor meia esquerda que Nova Andradina viu jogar, esteve no time do ano de 1991, do Miguel-Tarzan e do Gilmar Amorim que eram pratas da Casa e estavam no elenco campeão, Gilmar, Goleiro de 01 jogo só como profissional do SENA, talvez o melhor da sua vida, o jovem fechou o gol na única oportunidade que teve, costuma-se dizer que suas pernas tremiam antes de entrar em campo, todavia, foi show esse dia que também acompanhamos pelo rádio, afinal, esse jogo aconteceu no Morenão, contra o time da capital.

Hoje trinta anos depois, meu velho pai já se foi, não tenho mais ele aqui, faz uma falta imensa, também posso tranquilamente falar de um senhor que foi pai de muitos adolescentes, jovens e jogadores em geral, Seu Ercílio, Ercilião, que com seu mau humor dentro de campo colocava seus times na ordem e sempre era exemplo regional de equipe, como este homem foi importante para muita gente no futebol de nossa cidade, garotos que sabiam a necessidade de manter-se na regra, pois poderiam ficar fora do melhor time que podiam jogar. Trinta anos depois, muita gente já se foi, aqueles que ficaram, Venceslau, Pelinha, Valmirá, Zé Luiz, é difícil, ficar citando, pelo fato de que deixamos muita gente boa que jogou no SENA fora da lista dos mencionados, não é Celso Elias (Cachopinha) e Nenão?, mas, vale a pena recordar cada momento do SENA.  

A verdade é que após trinta anos do inesquecível título de Campeão estadual sul-mato-grossense, nos vem a esperança de que pelo menos um arquivo respeitoso possamos fazer sobre o SENA, não deixarmos apagar a história do esporte, de pessoas que além de ajudarem formar o time da cidade, também foram fortes contribuintes no processo ainda de colonização de Nova Andradina, sobretudo, na formação social do nosso povo, que diga o inesquecível Pastor Jetro (in memorian), fazia seu papel religioso e era membro fiel das tardes de treinos do SENA, sobretudo, dos domingos no Andradão.

Caindo no risco do esquecimento, faço minhas considerações que não são finais e espero de alguma forma poder lembrar que trinta anos depois, o SENA ainda continua vivo nas memoráveis tardes de domingo, talvez pareça saudosismo, todavia, tudo isso possa apenas ser vontade de voltar ao passado e dizer SENA campeão. Que saudades. Quantas Saudades, o tempo passou depressa. E Claro, Feliz Aniversário Nova Andradina-MS, em seus 68 anos de idade.

 *Claudinei Araújo dos Santos

*Doutorando em História – UFGD

Fonte: Jornal da Nova