O Epistemicídio da Mulher Latina, por Rosildo Barcellos

O Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha é celebrado dia 25 de julho. Nessa mesma data, também é comemorado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Em 1992, um grupo de mulheres negras oriundas dos países da América Latina reuniu-se em Santo Domingos, na República Dominicana, para a realização do primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas. Foi um momento em que discutiram problemas que afetam a todas as mulheres em geral, como: formação educacional, profissional e maternidade.

Não obstante, no entanto, também trataram de questões específicas, como o racismo, preconceito e a situação de inferioridade que se encontram em relação às mulheres brancas. A fim de chamar a atenção para esta problemática, a data de 25 de julho ficou estabelecida como o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha. Em 2014, de acordo com a Lei Nº 12.987, de 2 de junho, 25 de julho foi instituído o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Símbolo de resistência e liderança na luta contra a escravização, Tereza de Benguela, ou ‘‘Rainha Tereza”, viveu no século 18 e assumiu a liderança do Quilombo de Quaritetê chefiado pelo marido, José Piolho, depois que ele foi assassinado, em Mato Grosso. Tereza apoiou a luta da comunidade negra e indígena contra a escravidão por duas décadas. A data ficou para lembrar a luta das mulheres contra a escravização. E assim inúmeras outras mulheres se engajaram nessa luta e são lembradas. É o caso, em Corumbá das mulheres que lutaram muito para o reconhecimento das três Comunidades Quilombolas, a Campos Correia, Ozório e Maria Tenório. Além de, Cristina Souza Ramos, do Hospital Rosa Pedrossian, homenageada pelo atuante vereador André Luis, justificado pelos atos proativos de distribuir trechos impressos do livro: “Pequeno Principe- Um olhar Poético”, para que as mães das crianças submetidas ao tratamento quimioterápico, tivessem momentos de enlevo e alento durante sua submissão.

Em Três Lagoas, Cidolina de Fátima da Silva Souza, que aos seis meses de idade perdeu sua mãe. Após discussão, o pai de Cidolina esfaqueou sua mãe que morreu na segunda facada, mas não contente ainda a esfaqueou sete vezes, sem piedade. Teve problemas com o marido, quando se casou aos 18 anos e hoje diz ser a historia viva do feminicídio e da violência doméstica. Atualmente, professora aposentada é membro do Conselho Municipal dos Direitos do Negro. Outro exemplo; foi dado no dia do meu aniversário, em abril. “Parecia até mentira. Aretha, 37 anos de idade, nove de montanhismo, teve que se beliscar. Foi dentro do avião da Qatar Airways que ela, pela primeira vez em um ano de trabalho árduo, fechou os olhos e disse a si mesma: Uau, está acontecendo!’” O trecho acima faz parte da biografia “Da Sucata ao Everest” – A Saga de Aretha Duarte (Dialogar), escrita por Débora Rubin e Rodrigo Grilo. A obra narra de forma envolvente a trajetória do Jardim Capivari, bairro da periferia de Campinas onde Aretha Duarte cresceu, até o cume do Everest, em uma saga inspiradora realizada em 2021.

Para chegar no alto dos 8.849 metros da montanha mais alta do mundo, a paulista decidiu coletar materiais recicláveis para juntar recursos durante a pandemia. Ela passou a separar e levar para o ferro-velho papel e plástico descartados de uma fábrica, para que a montanhista chegasse no topo do mundo. E aqui. Tia Eva. Escrava nascida em Mineiros, Goiás, Eva Maria de Jesus decidiu vir para o Mato Grosso em 1905, já com suas três filhas: Joana, Lázara e Sebastiana. Chegando a Campos de Vacaria, hoje Campo Grande, trabalhou como lavadeira, parteira, cozinheira, curandeira e benzedeira. Isto posto, a  partir do sobredito, não há dúvida de que enfrentar o epistemicídio, é essencial para fortalecer a existência das diferenças.

Rosildo Barcellos

*Articulista