Onda de feminicídios transforma novembro no mês mais letal para mulheres em MS

Foto: Reprodução | Campo Grande News

A mais recente vítima é Alliene Nunes Barbosa, 50 anos, ex-guarda municipal, assassinada a facadas em Dourados na noite deste domingo (23).

A tipificação do feminicídio em 2015, com a entrada em vigor da Lei 13.104, marcou o início da série histórica de mortes de mulheres motivadas por violência de gênero no Brasil. Oito anos depois, em outubro de 2024, uma nova mudança legislativa – a Lei 14.994 – transformou o feminicídio em crime autônomo e ampliou mecanismos de prevenção.

Mesmo assim, os registros em Mato Grosso do Sul seguem em alta. Desde 2015, o Estado contabiliza 352 feminicídios, sendo 81 somente em Campo Grande. O primeiro ano da série teve 17 mortes. O pior até agora foi 2022, com 44 vítimas, seguido de 2020, com 40.

Em 2025, os números voltam a acender o alerta. O Estado já soma 37 feminicídios no acumulado do ano, e novembro passou a liderar a lista dos meses mais violentos da década, agora com seis mulheres assassinadas. Também ultrapassou os números do ano passado, quando 35 mulheres foram mortas.

Mês letal – Entre as vítimas de novembro está Aline Silva, 26 anos, morta a facadas no dia 4, no Bairro Santa Tereza, em Jardim, cidade a 236 km de Campo Grande. Aline estava em casa quando um homem de cerca de 55 anos chegou chamando por ela no portão e a atacou em seguida. Naquele momento, a morte dela elevou o total anual a 33 casos, número que cresceria rapidamente nos dias seguintes.

A prima, de 26 anos, que pediu para não ser identificada, contou à reportagem que Aline se relacionou por dois anos com o suspeito e que ele não aceitava o fim do relacionamento.

Na mesma noite, a sequência violenta avançou para a cidade de Aparecida do Taboado, onde Mara Aparecida do Nascimento Gonçalves, de 43 anos, foi morta com um golpe de faca no pescoço. O filho foi preso, suspeito de cometer o crime. Segundo familiares, os episódios de violência eram constantes. “Vivia agredindo-a”, disse o irmão da vítima e tio do suspeito.

O mês também foi marcado pela tragédia em Rochedo, quando três membros da mesma família morreram após serem esfaqueados e queimados dentro de casa. As vítimas, Rosimeire Vieira de Oliveira, 37 anos, a mãe dela, Irailde Vieira Flores de Oliveira, 83, e o adolescente de 14 anos, apresentavam ferimentos no pescoço e no tórax e fuligem na traqueia, indicando que ainda respiravam quando o incêndio começou. O ex-namorado de Rosimeire, Higor Thiago Santana de Almeida, 31 anos, preso em flagrante, é apontado como autor. Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado por vingança após o fim do relacionamento.

Em Sonora, na noite do dia 17 de novembro, Gabrielle Oliveira dos Santos, 25 anos, foi enforcada pelo companheiro, Diovani Alfredo Dique de Oliveira, 31 anos. Ele avisou a mãe da vítima antes de se entregar à polícia, dizendo ter matado Gabrielle por ciúmes e indicando o local onde o corpo estava.

A mais recente vítima é Alliene Nunes Barbosa, 50 anos, ex-guarda municipal, assassinada a facadas em Dourados na noite deste domingo (23). O suspeito, o venezuelano Cristian Alexander Cabeza Henriquez, 44 anos, usava tornozeleira eletrônica e já havia sido alvo de pedido de medida protetiva no início do mês.

Onda de feminicídios transforma novembro no mês mais letal para mulheres em MS
Cristian foi preso na casa da mãe e confessou o crime (Foto: Leandro Holsbach)

O filho da vítima, de 9 anos, ficou trancado no imóvel por aproximadamente 40 minutos até conseguir pedir ajuda a um vizinho. Quando a polícia entrou, Alliene já estava morta, com cerca de 23 perfurações. Cristian foi encontrado na casa da mãe e confessou o crime.

Com seis feminicídios em menos de 30 dias, novembro de 2025 supera todos os anos anteriores da série histórica e se torna o mês mais violento para mulheres em Mato Grosso do Sul desde que o feminicídio passou a integrar a legislação penal brasileira.

Fonte: Campograndenews