Pesquisa desenvolvida por equipe da UEMS, EMBRAPA e ACRIMAT mapeia estoques de carbono na Bacia do Alto Paraguai e aponta oportunidades mercado de carbono
A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), simultaneamente com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), realizaram no último dia 11 uma coletiva para apresentar os resultados do Atlas do Estoque de Carbono em Formações Vegetais da Bacia do Alto Paraguai – Mato Grosso (Carbopan), pesquisa científica que desenvolveu e estimou os estoques de carbono nas fitofisionomias que compõem o Pantanal Mato-Grossense.
O estudo é resultado de uma parceria entre a Universidade, por meio do Centro de Estudos de Fronteira (CEFRONT), a Embrapa Gado de Corte (Campo Grande-MS) e a Associação dos Criadores de Mato Grosso (ACRIMAT). A pesquisa é liderada pelo professor Dr. Fábio Ayres (UEMS), que integra uma equipe multidisciplinar de pesquisadores, com apoio técnico e institucional das três instituições.
Durante a coletiva, também participaram o Reitor da UEMS, professor Dr. Laércio de Carvalho, reforçando a importância da pesquisa no contexto das agendas climáticas e do papel da universidade pública no desenvolvimento sustentável regional, o Presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Jr., e os pesquisadores da Embrapa, Luiz Orcírio e Rodiney Mauro.
Tecnologia e metodologia inovadora
O estudo caracterizou e catalogou as fitofisionomias na região pantaneira do Mato Grosso, a partir de imagens de satélite. Esse mapeamento do uso e cobertura da terra foi na porção Norte da Bacia do Alto Paraguai (BAP) e analisou 59 localidades da BAP, com atenção especial às áreas do bioma Pantanal (MS e MT).
Os pesquisadores, a partir de imagens do satélite Landsat e ferramentas avançadas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, encontraram uma metodologia que representasse, com alto nível de acurácia, a cobertura vegetal e o uso do solo.
Já a interpretação das imagens e a avaliação das áreas naturais foram estabelecidas por processo híbrido, que consiste na classificação não supervisionada e a associação e validação das classes no modo manual. As imagens do satélite apresentaram resultados espectrais e geométricos utilizando-se a ortorretificação das mesmas.
Os cálculos envolveram índices de vegetação (NDVI), classificação espectral e validação em campo, permitindo mapear os estoques de carbono em vegetações nativas e alteradas, e o resultado é um panorama científico inédito sobre a capacidade de fixação de carbono da região e seu papel no enfrentamento das mudanças climáticas.
Relevância para economia, agricultura e meio ambiente
O professor Fábio Ayres explica que conservar o Pantanal significa garantir uso sustentável e equilíbrio ecológico, integrando atividades produtivas tradicionais, como a pecuária extensiva com pastagens nativas, à manutenção dos estoques naturais de carbono.
Ele destaca que o aumento do estoque de carbono é estratégico, pois mantém o carbono fixado na vegetação e no solo, reduzindo sua emissão para a atmosfera e abrindo oportunidades no mercado de carbono.
Municípios como Poconé-MT (33,42 t/ha) e Barão de Melgaço-MT (28,78 t/ha) apresentam altos índices de estoque por hectare, evidenciando o potencial ambiental e econômico da região. “A conservação do Pantanal promove resiliência ecológica, segurança hídrica e fortalecimento da economia local, sem abrir mão da proteção da biodiversidade”, resume o pesquisador.
Ayres ainda defende que os resultados do estudo fortalecem a integração ambiental entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, já que a Bacia do Alto Paraguai ultrapassa fronteiras estaduais. “O Atlas fornece base científica para o planejamento territorial sustentável, valoração de ativos ambientais, formação de políticas públicas e captação de recursos internacionais”.
Segundo o professor, para o Brasil, a pesquisa posiciona o Pantanal como ativo ambiental relevante nas discussões globais sobre carbono e clima, contribuindo para os compromissos do país na COP30 e ampliando o protagonismo da região nas estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Rodiney Mauro, pesquisador da Embrapa, complementa que o mercado mundial de emissões de gases do efeito estufa, como créditos de carbono e projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), está evoluindo para se tornar uma fonte de recursos para os proprietários de áreas florestadas. Dessa forma, “é necessário o conhecimento do estoque atual de biomassa e de carbono, assim como também é necessário estimar a dinâmica e o potencial total de sequestro de carbono para resultados mais concretos”.
Para o Presidente da Acrimat, o estudo mostra que os produtores pantaneiros continuam produzindo com eficiência e sustentabilidade. “Esse estudo reforça aquilo que o produtor pantaneiro já pratica há gerações: produzir com respeito ao meio ambiente. A pecuária extensiva no Pantanal é uma das atividades mais sustentáveis do mundo, pois mantém a vegetação nativa em pé e contribui para o equilíbrio do bioma. Ter agora uma base científica sólida, feita por instituições como a UEMS e a Embrapa, mostra que conservar e produzir podem andar juntos e que o Pantanal é parte essencial das soluções climáticas do Brasil.”
Fonte: Embrapa


