O futuro do PL em Mato Grosso do Sul, sob o comando de Reinaldo Azambuja, dependerá crucialmente da sua capacidade de impor a estratégia de união e atração de aliados de Centro/Centro-Direita
O Partido Liberal (PL) atravessa um momento de intensa turbulência, com reflexos profundos que se manifestam tanto no cenário político nacional quanto, de forma aguda, em Mato Grosso do Sul (MS).
As recentes derrotas e revezes sofridos pela família Bolsonaro e seus aliados, culminando na desmotivação de figuras-chave no exterior e em condenações internas, injetam um elemento de instabilidade que abala a estrutura da sigla, especialmente no Estado, onde a disputa interna atinge um ponto de cisão.
I. O impacto Nacional
A decisão do governo Donald Trump de derrubar as sanções da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa representa um golpe significativo na estratégia internacional do bolsonarismo, personificada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A avaliação reservada de parlamentares do próprio PL, que classificam o movimento como a “pá de cal no Eduardo” e um “7 a 1” de erro estratégico, sublinha a perda de capital político e influência do “Zero Três”.
Este cenário se agrava com a condenação de Bolsonaro (27 anos e três meses de prisão na trama golpista) e a ameaça de cassação de Eduardo, fragilizando a liderança nacional do grupo.
Simultaneamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) capitaliza sobre esses reveses. Ao negociar a remoção de tarifas e, ironicamente, ao ser “ajudado” pelas ações de Eduardo, Lula não só recupera parte de sua popularidade nas pesquisas, mas também ganha uma bandeira central para a reeleição: a defesa da soberania nacional contra o que é percebido como intervenção ou articulação externa do campo bolsonarista. A alcunha de “meu camisa 10” dada a Eduardo Bolsonaro por Lula é a síntese desta inversão de papéis.
II. A queda da rejeição de Lula
Os dados de pesquisa de opinião em Mato Grosso do Sul corroboram a tendência nacional de recuperação da popularidade de Lula, um fator que complica a narrativa de oposição do PL no Estado:
- Queda constante na desaprovação: a desaprovação de Lula em MS despencou de 70% (março) para 50,2% (pesquisa mais recente).
- Crescimento da aprovação: Sua aprovação saltou de 28% para 46,4% no mesmo período.
- Melhora na avaliação da gestão: a avaliação de gestão “Ruim/Péssima” caiu de 55,8% para 35,8%, enquanto a “Boa/Ótima” subiu de 24,6% para 34,6%.
Esta tendência indica que o discurso anti-Lula, principal motor eleitoral do PL, perde força progressivamente no Estado, forçando a sigla a repensar estratégias e candidaturas que dependiam do alto índice de rejeição do petista.
III. O PL em Mato Grosso do Sul
A turbulência nacional atinge o PL-MS em um momento de profunda divisão interna, com a chegada do ex-governador Reinaldo Azambuja (ex-PSDB) à presidência estadual. Azambuja, representando uma ala mais pragmática e de Centro-Direita, assume o comando com a missão de unificar e fortalecer o partido, mas enfrenta a resistência da chamada “Ala Bolsonarista Autêntica”:

1. O Partido Liberal
A divisão ficou evidente com a recusa dos deputados Marcos Pollon e João Henrique Catan em integrar o novo diretório, apesar do convite. A ausência da dupla na filiação de Azambuja e o lançamento da pré-candidatura de Pollon ao Governo do Estado (contrariando o acordo de Azambuja em apoiar Riedel) demonstram a persistência de um núcleo duro que rejeita a liderança do ex-tucano.
2. A batalha pelo Senado em 2026
A chegada de Azambuja e a iminente filiação de Capitão Contar (avalizado por Valdemar Costa Neto) tornam a disputa por duas vagas ao Senado em 2026 o principal foco de tensão. O PL já conta com uma “avalanche de nomes”:
- Gianni Nogueira: Lançada por Bolsonaro antes de sua condenação.
- Reinaldo Azambuja: Convidado por Bolsonaro e Valdemar para ser candidato.
- Marcos Pollon: Lançado por Eduardo Bolsonaro.
- Capitão Contar: Anunciado por Valdemar Costa Neto.
Para dirimir o conflito, Azambuja anunciou que a definição das candidaturas será feita exclusivamente por pesquisas qualitativas e quantitativas (previsão até fevereiro), deixando claro que “nenhum nome está garantido”. Essa estratégia, baseada em dados e não em aclamação ideológica, tenta centralizar o poder de decisão e subordinar as vontades individuais à viabilidade eleitoral da sigla.
IV. Conclusão
O futuro do PL em Mato Grosso do Sul, sob o comando de Reinaldo Azambuja, dependerá crucialmente da sua capacidade de impor a estratégia de união e atração de aliados de Centro/Centro-Direita e de derrotar o Presidente Lula em 2026, priorizando, também, a reeleição de Eduardo Riedel.
O desafio de Azambuja, contudo, é existencial: ele precisa integrar ou neutralizar a “Ala Autêntica” que, ao se recusar a participar da direção e lançar candidaturas próprias, ecoa o alerta bíblico sobre a divisão: “Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se.”
A falta de coesão interna no PL-MS, agravada pelas derrotas nacionais e pela perda de capital político do bolsonarismo raiz, pode minar a força eleitoral do partido e impedir a concretização do objetivo de eleger dois senadores de direita e ampliar as bancadas.
A ideia de candidaturas via pesquisa é a tentativa de Azambuja de utilizar a pragmática eleitoral como antídoto para o fundamentalismo ideológico que hoje divide o partido. O sucesso dessa empreitada definirá se o PL se consolidará como uma força de Centro-Direita estruturada ou se sucumbirá às suas cisões internas em 2026.
Fonte: Brasilnews1/Por Antonio Ueno – Cientista Político


