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Pastor que manteve esposa em cárcere a conheceu em momento de fragilidade, diz vizinho

Mulher havia perdido o filho e o ex-marido pouco tempo antes de conhecer o pastor

13/03/2020 08h10 – Correio do Estado

Mulher agredida e mantida em cárcere privado pelo marido, o pastor Jesus Gorgs, começou a se relacionar com ele logo após perder o ex-marido e o único filho, que morreram com diferença de um ano. Gorgs era membro da mesma igreja que a vítima, a Assembleia de Deus.

Vizinho da família há mais de 30 anos, que preferiu não ser identificado, contou que o filho falecido havia sofrido um acidente durante um racha de motos e ficou em estado vegetativo. “Ele ficou muito tempo internado e ela decidiu trazer ele para casa, com todo o equipamento médico. Ele definhou até morrer; menino novo; 25 anos”, disse ele. “Um ano antes dele morrer o marido dela morreu em um assalto lá em São Paulo”, continuou.

Ainda muito chocada e preocupada com o estado da vítima, a família não quis se manifestar. Porém, este vizinho disse que não passou muito tempo entre as mortes e o início do relacionamento. “Logo depois [das mortes]”, revelou. “E ela mudou muito; parece que se afastou da família, excluiu o facebook. Antes eu viu bastante ela, mas depois era só para cumprimentar. Eu era bastante amigo do ex-marido”, contou.

Depois da exclusão do facebook pessoal, o casal optou por uma rede social em conjunto, aquela que seria a mesma em que o pastor usou para fazer uma live onde agredia, humilhava e ameaçava a esposa para os usuários da rede. Na tarde de hoje, a conta foi excluída. Há informações que ele dizia no vídeo que ela tinha traído ele, mas nada foi confirmado. Durante o ao vivo ele teria cortado o cabelo dela e rasgado as roupas que ela usava.

CÁRCERE

De acordo com o coronel Wilmar Fernandes, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o cárcere começou ontem (11), mas a polícia recebeu a denúncia por volta das 13h30 desta quinta-feira (12).

Desde então a mulher foi mantida trancada em um quarto da casa, um sobrado na Rua Cláudia, no Bairro Monte Carlo. O suspeito acompanhava toda a movimentação que ocorria do lado de fora da casa por meio do circuito de câmeras de segurança da residência.

Equipes do Corpo de Bombeiros, Batalhão de Choque da Polícia Militar, Bope e Polícia Militar foram ao local, onde iniciaram negociação com o suspeito. Durante o trabalho, quadras próximas à residência foram isoladas e bloqueadas.

Conforme o comandante do Bope, a mulher estava imobilizada e a todo momento o homem ameaçava perfurá-la com a tesoura, além de agredi-la. Por conta do risco que a vítima sofria, foi necessária intervenção.

“A equipe de negociação do Bope tem como procedimento primeiro negociar, fazer com o causador do evento crítico se entregue e desista do intento. Foi negociado até o momento que se viu que tinha condições, em determinado momento a gente viu que não avançava e foi necessária ação tática emergencial para salvar a vida dela”, disse o coronel.

Ainda segundo ele, a equipe adentrou no cômodo onde a mulher era mantida e, sem uso de força letal, o homem foi imobilizado e preso. A mulher estava abalada e com ferimentos, mas não corre risco de morte.

Pastor Elial, que faz parte da presidência da Assembleia de Deus, onde o suspeito atuava como pastor, divulgou um áudio com pronunciamento oficial, onde afirma que o homem foi excluído de todas as funções do ministério.

“O que posso pronunciar é que o ministério não pode aceitar nem suportar nos seus quadros de obreiros nem no rol de membros uma pessoa que age dessa forma, ele acaba de ser excluído do nosso ministério”, diz o pronunciamento.

Segundo informações da delegada Sueyli Araújo, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), que investiga o caso, o autor será autuado em flagrante por cárcere privado, lesão corporal e ameaça. A tesoura utilizada para ameaçar a vítima foi apreendida.

Além disso, ele também será autuado por conta do vídeo gravado expor a vítima em cena de nudez sem autorização. Conforme a delegada, produzir e transmitir vídeos dessa natureza tem pena de 1 a 5 anos e, neste caso, ainda com aumento de pena devido ao fim de humilhação e por manter relação íntima de afeto com a mulher.

A vítima foi encaminhada para uma unidade de saúde com alguns ferimentos, mas estável e sem ferimentos graves.

Rua interditada pela polícia em Campo Grande — Foto: Edmar Melo/TV Morena

Pastor que manteve esposa em cárcere a conheceu em momento de fragilidade, diz vizinho

Vítima foi retirada da casa e atendida pelo Corpo de Bombeiros - Foto: Álvaro Rezende/ Correio do Estado

Pastor ameaçou furar o olho da vítima com tesoura - Foto: Divulgação