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quinta-feira, 25 de abril, 2024
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TCU aponta que servidores públicos, empresários, filhos e esposas de políticos receberam irregularmente o auxílio emergencial em MS

G1 MS

Entre os funcionários públicos de Mato Grosso do Sul foram 4.424 pedidos ilegais. Desses, mais de 1,2 são de servidores do estado da ativa e aposentados.

Levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que no Brasil mais de 620 mil pedidos de auxílio emergencial tem algum indício de irregularidade, mesmo com muitas pessoas ainda não tendo conseguido receber as parcelas já disponíveis.

Em Mato Grosso do Sul a situação não é diferente. Entre os beneficiários estão servidores públicos e empresários, além de filhos e esposas de políticos.

Gabrielle Correa Orro, jovem de 26 anos, recebeu duas parcelas do auxílio emergencial. Ela é filha do deputado estadual Felipe Orro (PSDB), que ganha mais de R$ 25 mil por mês como parlamentar na Assembleia Legislativa.

De acordo com o TCU, Gabrielle está entre as mais de 620 mil pessoas no país que receberam o auxílio, mesmo sem ter direito. O envolvimento de parentes de políticos também foi registrado em outras cidades de Mato Grosso do Sul.

Conforme a lista de consulta pública do Portal da Transparência, a esposa, Taiko Wagatuma Otsubo, e a filha, Suely Midori Otsubo Tanaka, do vice-prefeito de Bataguassu, Akira Otsubo (MDB), também foram beneficiadas.

Akira já foi deputado estadual por sete mandatos e, além do cargo público no município do interior também é empresário. Segundo ele, os pedidos do auxílio foram feitos por uma neta, sem o conhecimento do restante da família.

“Sem saber o que estava praticando, minha neta fez essa questão…Sabendo da situação tomei a decisão na hora e solicitei a minha neta para que fizesse a devolução imediatamente”, disse o vice-prefeito.

Em Bandeirantes, o benefício foi pago para a esposa de um vereador. Cristine Santos Souza Sauer recebeu os R$ 600 mesmo com o marido, o vereador Luis Fernando Sauder (PSD), recebendo salário de R$ 5 mil no cargo público.

Em Terenos, a esposa do prefeito, Donizete Barraco, também está na lista. A primeira-dama, Dirce Teixeira Gonçalves, disse que não pediu o auxílio e foi surpreendida com o depósito.

O TCU aponta que entre as situações com indícios de irregularidades também estão a de empresários e servidores públicos que receberam o benefício sem ter o direito. Entre os funcionários públicos de Mato Grosso do Sul foram 4.424 pedidos ilegais. Desses, mais de 1,2 são de servidores do estado da ativa e aposentados.

Quem pediu o benefício sem precisar pode ser responsabilizado, segundo o advogado Felipe Ramos Baseggio. “A pessoa que fez o pedido do auxílio emergencial incluindo informação sabidamente falsa, que tinha plena consciência de que não era verdadeira, ela vai responder por crime. Ela pode ter cometido os crimes de falsidade ideológica, estelionato e apropriação indébita. São todos crimes graves, punidos com reclusão. Existe inclusive, um projeto de lei, tramitando na Câmara dos Deputados, que aumenta em um terço a pena se cometidos agora, no contexto da pandemia”.

O relatório do TCU aponta que se “confirmadas as irregularidades”, o impacto aos cofres públicos do país pode ser de R$ 1,28 bilhão.

Mas enquanto o TCU investiga a concessão do benefício a pessoas que não teriam direito, quem precisa do auxílio e se enquadra em todas as exigências têm dificuldades para obtê-lo.

A dona de casa Maria Helena, de 53 anos, por exemplo, está desempregada desde o ano passado. Ela fez o pedido do auxílio emergencial e até agora só recebeu a primeira parcela.

“Até agora não dão uma posição. Sendo que eu tenho todos os requisitos. Não tenho outra fonte de renda. Faço coisas para vender, biscoitinhos, mas não tem nem o que comprar para poder fazer. Está complicada a situação, muito complicada”, diz.

Em nota, o deputado Felipe Orro informou que não aprova a atitude e que os valores foram devolvidos ao governo através do pagamento de Guia de Recolhimento da União (GRU) no valor de R$ 1.200.

Dirce Teixeira, primeira-dama de Terenos também informou ter feito a devolução dos valores recebidos. A reportagem também falou com o vereador Luis Fernando Sauber, de Bandeirantes, mas ele não quis comentar o assunto.